No Público de
domingo passado, frei Bento Domingues escreve sobre O desterro da teologia,
para falar sobre a “teologia do fragmento” que ele assume fazer:
Não me
sinto mal no caminho da “teologia do fragmento”, do provisório. Sou alérgico às
declarações classificadas como definitivas, irreformáveis de certo estilo de
magistério eclesiástico. Em sentido contrário, não sou menos alérgico ao
relativismo, ao vale tudo! Somos filhos do tempo, na escola de todas as épocas,
lugares e culturas. O Verbo fez-se e continua a fazer-se “carne”, fragilidade
humana no tecido dos múltiplos e contraditórios sinais dos tempos antigos e no
mundo contemporâneo.
O texto completo pode ser lido aqui.
A propósito da homenagem desta sexta-feira, na Gulbenkian, e
da publicação das duas antologias de crónicas, a Sábado publica hoje
uma entrevista com frei Bento; um excerto em vídeo pode ser visto aqui.
Foto Rui Gaudêncio/Público
Também na Visão
de hoje há uma entrevista onde Bento Domingues afirma: “a mensagem do Evangelho
é antifatal, não temos que nos resignar com o mundo em que vivemos. E que mundo
é este que queremos fazer? Nas minhas crónicas, a única coisa que me importa é
esta insurreição: este mundo está mal construído e podia ser de outra maneira.”
No JL – Jornal de Letras,
Artes e Ideias de ontem, há uma outra conversa com o homenageado de amanhã.
Ainda a propósito das suas crónicas, diz ele: “O infinito está sempre presente
no finito. A política é a relação com o Outro. Somos seres de relação, a
questão é que sejam boas relações políticas, económicas, sociais. É disso que
fala o Evangelho, sempre a partir dos pobres, dos excluídos. É a defesa dos que
não têm quem olhe por eles.”
No mesmo jornal, a convite do JL, Leonor Xavier publica um texto sobre Bento Domingues, com o título Refletir o sagrado e descobrir o profano:
Frei Bento Domingues, O.P. é frade dominicano na ordem dos
pregadores. Nascido em Terras do Bouro, no mais remoto Portugal, desde criança
foi pastor e às ovelhas leu trechos em latim de um livro que teve, emprestado.
“E elas gostavam”, costuma contar. Na serra ouvia o eco da sua voz e seguia os
ritmos da natureza, pela intuição dos cinco sentidos que até hoje, tem abertos
e alerta. Muito cedo descobriu a sua vocação, e na certeza da revelação e da fé
se formou e ordenou dominicano, fazendo da proclamação do Evangelho, na
liberdade de expressão e na caritas/amor absoluto a obra da sua vida. Agora que
festejamos os seus 80 anos em homenagem
e lançamento de dois volumes de antologia das mais de mil crónicas publicadas
no Público, é também celebrada a sua tão singular figura. Homem do campo e hoje
andarilho na cidade, Frei Bento tem a malícia do dia a dia, a inteligência na
adaptação às circunstância, o humor, o sentido crítico, a compaixão, a
tolerância. Ele conhece os caminhos e os atalhos, usa os transportes públicos,
evolui com facilidade pelos mais variados ambientes, de olhar sempre vivo e
atento. Falando, escrevendo, investigando, debatendo, comunicando, Frei Bento
Domingues não se esgota nunca. Disponível para os sacramentos do nascimento, do
crescimento e da morte, celebrando a Eucaristia, pregando sobre as parábolas ou
os profetas, em conversa casual de amigos ou circunstâncias gerais, ele discute
as questões da atualidade, convive com crentes e não crentes e acredita na
liberdade da democracia e no direito à opinião. É teólogo estudioso do Antigo e
do Novo Testamento, de textos apócrifos, conhecedor das várias religiões e das
doutrinas dos doutores da Igreja, das vivências dos grandes místicos. É leitor
de pensadores e filósofos, de autores universais e contemporâneos, de poesia. Acompanhar
os textos de Frei Bento Domingues é refletir sobre o sagrado e descobrir o
profano. É entender que Jesus Cristo é centro absoluto da presença de Deus no
seu testemunho, na sua obra, na sua vida. É descobrir a sua devoção a Nossa
Senhora. Na missa de domingo de Cristo Rei, em 2010, anotei um fragmento da
homilia de Frei Bento, quando citou Teillard de Chardin: “A criação está sempre
a acontecer, toda a história está sempre a ser.”- para acrescentar que “Na
nossa ação de construção do mundo há um clandestino, que é Jesus.” Penso que
assim tudo se explica.
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