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“O clamor das vítimas do tráfico
humano, do terrorismo, das perseguições religiosas, do negócio das armas, dos
conflitos armados, da miséria, da doença, da fome” é o que move vários grupos
cristãos a promover uma vigília de oração pela paz, que decorrerá na próxima
sexta-feira, em Lisboa.
Aqueles são “males que dizimam
vidas humanas e estão na origem de gigantescas movimentações para a
sobrevivência de milhares de homens, mulheres e crianças”, diz um texto de
apresentação da iniciativa, que se realiza na Igreja do Sagrado Coração de
Jesus (R. Camilo Castelo Branco, ao Marquês de Pombal), às 21h30.
A iniciativa é promovida pela Fundação Betânia, mas a ela associaram-se já vários outros grupos católicos, bem como
diversas pessoas a título individual.
Transcreve-se a seguir o texto de apresentação (na ilustração: Pentecostes, de Arcabas, 2003, reproduzida daqui):
Esta iniciativa nasce no âmbito da
Fundação Betânia e é dinamizada por um grupo de cristãos conscientes das
inúmeras e complexas ameaças à paz com que, hoje, estamos confrontados.
Move-nos, em particular, o clamor
das vítimas que reclama que combatamos a indiferença e afirmemos, por palavras,
gestos e atitudes, a nossa solidariedade e o nosso empenhamento em superar as
causas das presentes tragédias do tráfico humano, do terrorismo, das
perseguições religiosas, do negócio das armas e dos conflitos armados, bem como
a miséria, a doença e a fome que persistem em vastos territórios, males que
dizimam vidas humanas e estão na origem de gigantescas movimentações de homens,
mulheres e crianças, em busca de condições básicas de sobrevivência.
Comovem-nos os milhares de pessoas
que procuram em países do Continente europeu um lugar minimamente seguro.
Choramos as vítimas que todos os dias encontram sepultura no Mediterrâneo e os
milhares de outras vítimas que sucumbem nos caminhos por onde se atrevem a
romper as cadeias de perseguição e morte que encontram nos seus territórios de
origem.
A paz é um bem supremo que todas
as religiões elegem simultaneamente como horizonte de esperança e como dever de
empenhamento, pessoal e colectivo, a que todos os homens e mulheres devem dedicar
a sua atenção e cuidado.
Para os cristãos, em particular, a
paz é, também, uma dádiva de Deus e um fruto maduro da justiça e da verdade que
devem impregnar as relações entre os seres humanos e as suas instituições, sem
esquecer a relação harmoniosa com toda a Criação. Jesus de Nazaré anuncia como
sendo de Deus um reino de Verdade, de Justiça e de Paz.
A todo o momento, chegam até nós
os gritos de inúmeras vítimas. Sim, como nos versos de Sophia de Mello Breyner,
temos motivo para dizer: vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar…
Temos razões para nos inquietarmos
ao darmo-nos conta dos sangrentos conflitos armados que se vão multiplicando em
muitas regiões do Mundo sem fim à vista e dos milhões de vítimas que deles
decorrem.
Como ignorar as perseguições
religiosas que estão a recrudescer em vários países do Médio Oriente, mas
também em países do continente africano ou da Ásia, tendo como pretexto uma fé?
Como não nos comovermos com as crianças barbaramente assassinadas, traficadas e
feitas órfãs? Como ficarmos insensíveis diante de tantos massacres perpetrados
contra assembleias pacíficas reunidas em oração e celebrações religiosas?
Como silenciar a destruição
premeditada de património universal? Como ficar indiferentes face ao terrorismo
que se vem afirmando e expandindo, em nome de uma jihad com características de
barbárie que julgávamos vencida pela ciência e pelo progresso material e
cultural?
Como silenciar e pactuar com a
violência estrutural e institucional das nossas sociedades de desenvolvimento e
prosperidade material que, no entanto, geram fome e indigência para muitos
milhões de seres humanos, provocam desemprego massivo, empregos precários
generalizados e uma intolerável desigualdade crescente na repartição da riqueza
e do rendimento, à escala mundial como no interior de cada país e território?
Dada a dimensão das situações de
perseguição e violência, de injustiça e desumanidade, experimentamos com
frequência a sensação de impotência perante tanto sofrimento. E então
recordamos as palavras de Jesus: Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois
a Deus tudo é possível (Mc 10,27). Lembramos também este conselho: Pedi, e
ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos (Mt 7,7)
Assim acreditamos e por isso nos
reunimos em vigília de oração.
Queremos, em conjunto, escutar
aquela pergunta da Escritura QUE FIZESTE DO TEU IRMÃO? e deixá-la ressoar nas
nossas consciências, pedindo a Deus que nos ajude a vencer a nossa inclinação
para o comodismo, a indiferença e a alienação nas nossas zonas de conforto.
Queremos, em conjunto, orar pelas
vítimas da violência e da barbárie e que elas encontrem o devido socorro nas
suas necessidades.
Queremos procurar, na oração,
vislumbrar caminhos de paz, que sejam de solidariedade activa com as vítimas da
violência.
Queremos, através desta oração,
pedir ao nosso Deus a quem podemos chamar Pai /Abba a sua ajuda poderosa para
que a paz seja possível nos nossos dias.
Convidamos outros cristãos
sintonizados nesta iniciativa a participarem na vigília de oração que terá
lugar em Lisboa, no próximo dia 9 de Outubro, às 21 30 horas, na Igreja do
Coração de Jesus (Rua Camilo Castelo Branco).
Texto anterior no blogue
Diálogo e humanismo, misericórdia e iluminação, direita e esquerda - crónicas de fim-de-semana
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