
Bispo de Myra, na Ásia Menor, no século IV, Nicolau gostava de dar aos pobres. A fama da sua bondade expandiu-se no tempo e no espaço. Chegou até nós e chama-se Pai Natal.
“O que apareceu perante meus olhos desejosos foi um trenó em miniatura e oito pequenas renas, com um pequeno velho condutor, tão vivo e tão rápido, que num instante soube que tinha que ser São Nick.” (Clement C. Moore, The Night Before Christmas)
O Pai Natal existe. A notícia é confirmada anualmente por milhares de crianças que lhe escrevem, por ele suspiram, a ele se dirigem pedindo um presente especial, fazendo a lista de ingénuos desejos.
A mesma informação, admita-se, também é desmentida todos os anos por outros tantos milhares de crianças. Para essas, a descoberta da pequena mentira é uma frustração natalícia. Afinal, o velhinho com barbas brancas que Clement Moore (1779-1863) pela primeira vez descreveu em 1822, no seu poema A Noite de Natal, existe apenas para dar mais vida a um tempo mágico.
O Pai Natal mais recente é conhecido: criado como figura de publicidade, há 70 anos, ele mais não fazia que copiar modelos anteriores. Em 1822, Clement Clarke Moore descreveu-o no seu poema. Moore, filho de um bispo da Igreja Episcopaliana em Nova Iorque, escreveu o poema como um presente para o seu filho. No texto, o Pai Natal – ou São Nick – aparecia com um trenó, gritando pelos nomes das renas, para que estas se apressassem.
Em 1885, Louis Prang, tipógrafo de Boston, pinta de vermelho, pela primeira vez, a figura do santo que representa o Pai Natal. Até aí, a figura aparecia com uma veste castanha ou com peles (Jane Newdick, As Mais Belas Ideias para o Natal, ed. Círculo de Leitores).
Mas afinal, se o Pai Natal existe – ou não? – quem é ele? A lenda recriada no último século e meio repousa sobre uma história: a de São Nicolau, que hoje o calendário católico assinala e é festejado um pouco por todo o lado – mesmo em países predominantemente protestantes.
De Nicolau, bispo de Myra (cidade da Ásia Menor, na actual Turquia), no século IV, sabe-se que terá nascido em Patras e morrido em 374. Amigo de dar e dos pobres, em particular, a fama da sua bondade foi-se expandindo.
Uma das suas primeiras acções terá sido a de ajudar um pobre pai que tinha três filhas. Sem meios, queria fazer dinheiro com elas. Ao saber disto, Nicolau abeirou-se da casa e atirou um saco com moedas pela janela. A primeira das três irmãs pôde, então, casar. Pouco tempo depois, Nicolau fez o mesmo com a segunda. E, à terceira tentativa, o pai aguardou para ver quem era o seu benemérito e foi atrás dele.
Depois de morrer, muitos milagres foram atribuídos a Nicolau. Os marinheiros pediam-lhe socorro quando os barcos naufragavam: “Começou a ajudá-los nos mastros, nos cabos e nos outros aparelhos da nau, e logo a tempestade cessou”, conta-se na Legenda Áurea (ed. port. Civilização).
Os comerciantes invocavam-no também como ajuda para os negócios. Os pais pediam a saúde para as crianças – uma das histórias era que Nicolau ressuscitara três jovens.
Uma figura assim, benemérita e que escutava tanta gente, seria facilmente adoptada. Já na Idade Média há registos da popularização do seu culto na Europa Central. Na Holanda (S. Nicolau é padroeiro de Amesterdão), Sinterklaas chega de barco, vindo de Espanha e não da Ásia Menor, acompanhado por dois jovens negros, ambos chamados Piet. A figura de Sinterklaas dedica, depois, os dias que faltam até ao Natal a visitar crianças e idosos, hospitais e infantários, premiando quem se portou bem (quase todos) e não dando nada a quem se portou mal (quase ninguém).
Quem disse que o Pai Natal não existe?
Poema - Se considero o triste abatimento, de Manuel Maria Barbosa du Bocage
Se considero o triste abatimento
Em que me faz jazer minha desgraça,
A desesperação me despedaça,
No mesmo instante, o frágil sofrimento.
Mas súbito me diz o pensamento,
Para aplacar-me a dor que me traspassa,
Que Este que trouxe ao mundo a Lei da Graça,
Teve num vil presepe o nascimento.
Vejo na palha o Redentor chorando,
Ao lado a Mãe, prostrados os pastores,
A milagrosa estrela os reis guiando.
Vejo-O morrer depois, ó pecadores,
Por nós, e fecho os olhos, adorando
Os castigos do Céu como favores.
(In Natal... Natais – Oito Séculos de Poesia sobre o Natal,
antologia de Vasco Graça Moura, ed. Público)
1 comentário:
Na família do meu marido (suábios católicos) näo se festejava o Nikolaus. Consta que largou mulher e filhos para se dedicar inteiramente à Igreja.
"Grande herói, esse Nikolaus", comentava a avó, com um tom de profundo desprezo.
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