O
Papa Bento XVI afirmou, na sua declaração de resignação, que não irá interferir
na escolha do seu sucessor. Podemos e devemos acreditar na bondade desta
afirmação. Mas há uma dimensão que não deve ser esquecida: a escolha do seu
sucessor é fortemente condicionada pelo actual Papa, já que a maior parte dos
nomes foram já nomeados por ele.
Outro
dos aspectos decisivos na composição do colégio cardinalício é a geografia: dos
117 eleitores do novo Papa, a maioria é do Norte: há 61 europeus (quase metade
dos quais, 28, são italianos) e 14 norte-americanos (11 dos Estados Unidos e
três do Canadá); ou seja, 75 cardeais. Mas, actualmente, a maioria dos crentes está
no sul do mundo; na Europa, estão apenas 24 por cento dos 1,2 mil milhões de
católicos existentes. A infografia do La Croix, aqui reproduzida, pode ajudar a entender o peso relativo de cada país e de cada continente neste colégio selectivo.
Dados mais pormenorizados podem ser lidos aqui, com
a ressalva de que estes números não têm em conta os seis cardeais nomeados em
Novembro de 2012 (cinco dos quais de fora da Europa, para tornar menos notório
o grande desequilíbrio ainda existente).
Claro
que este peso da Europa não é estranho ao próprio Bento XVI; preocupado com a
insignificância da presença cristã no “velho continente”; a própria escolha do
nome para o seu pontificado, evocando São Bento, fundador do monaquismo
contemporâneo e padroeiro da Europa, deu a entender até que ponto a Europa era
prioritária para Ratzinger. Aqui pode ler-se um perfil deste Papa, que pode ajudar a entender algumas das questões
que Bento XVI transportou consigo neste pontificado que terminará a 28 de
Fevereiro.
Algumas
das questões que o sucessor de Ratzinger terá que enfrentar prendem-se, assim,
com a maior internacionalização e democratização da Cúria. Já agora, a Igreja
terá que começar a reflectir também sobre o modo de eleição do Papa, que não
pode continuar a ser escolhido (apenas) pelo colégio dos cardeais, que resulta
da escolha pessoal do Papa e é uma instituição nascida já no segundo milénio do
cristianismo. A participação de representantes dos episcopados de mundo
inteiro, num catolicismo cada vez mais globalizado, tem que ser cada vez
equacionada.
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