Os
Sete Lágrimas são um caso raro no panorama da música em Portugal. Executando
peças antigas e contemporâneas num diálogo vivo e original entre o passado e o
presente, entre o erudito e o popular, entre o português e o universal, o grupo
soube impor a qualidade e o sucesso nos vários discos editados desde 2007 – e,
com este, já são oito.
“Diáspora”
é o título de um projecto dos Sete Lágrimas, do qual este “Península” constitui
o terceiro volume. Nos dois anteriores (“Diáspora.pt” e “Terra”), o grupo mostrou-nos
a música do mundo que reflecte o contacto com a cultura portuguesa nos últimos
cinco séculos.
Agora,
os Sete Lágrimas oferecem-nos um conjunto de 16 peças, retiradas do repertório
ibérico dos séculos XVI e XVII – e incluindo cinco compostas especialmente
pelos dois directores artísticos e vozes do consort
(Filipe Faria e Sérgio Peixoto), a partir de textos daquela época. Desde o
intenso “Parto triste saludoso” com que se abre o disco, até ao compassivo
“Porque lhoras moro” ou ao declamativo “Ay que biviendo no byvo”, essas cinco
criações são de uma harmonia ímpar, a revelar também a excelente criatividade
compositiva dos dois artistas. Se à música e às vozes somarmos a mestria da
execução instrumental (Pedro Castro, Sofia Diniz, Duncan Fox e Rui Silva),
temos um excelente resultado final.
Os
textos, de grande beleza literária, traduzem ainda o grande cuidado posto no
processo de selecção. Falam-nos de amores e desencontros, de contentamentos e
melancolias, de afectos e zangas. Como em “Um cuydado que mia vida ten”: “Minha
vida um cuidar tem, que não o saiba ninguém. Um cuidar de minha querida, Que a
alma tem, e ao corpo dá vida. Meu corpo o sente, minh’alma o tem, que não o
saiba ninguém.”
Diáspora – Península
Sete Lágrimas
Direcção
de Filipe
Faria e Sérgio Peixoto
Edição:
Arte das Musas (mail@artedasmusas.com)
(Texto publicado na revista Além-Mar, em Fevereiro de 2013)
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