quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Carlos de Foucauld: “O islão provocou em mim uma profunda inquietude”


Carlos de Foucauld (foto reproduzida daqui)

A propósito do 15º aniversário dos atentados de 11 de Setembro, uma iniciativa de várias comunidades muçulmanas em Itália pretende abrir as mesquitas do país, no próximo domingo, aos cristãos que as queiram visitar, como forma de mostrar a recusa do terrorismo e a possibilidade da convivência conjunta. A notícia pode ser lida aqui.
A iniciativa pretende assinalar também a festa do dia seguinte, quando os muçulmanos assinalam o Eid al-Adha (Sacrifício de Abraão), uma das datas mais importantes do calendário islâmico. Ao mesmo tempo, durante esta semana (entre os dias 9 e 16), os muçulmanos peregrinam a Meca.
Sobre o diálogo inter-religioso, em especial entre cristianismo e islão, o Igreja Viva, publica um texto de fr. Oswaldo Cruz, sobre Carlos de Foucauld, que viveu em terras tuaregues e acabou assassinado por um grupo de salteadores. Foucauld, que viveu e morreu em Tamanrasset, considerava ter aprendido muito com o islão, que lhe produzira uma “profunda inquietude”:

No próximo 1 de Dezembro ocorre o centenário da morte de Charles de Foucauld, o “monge missionário” francês assassinado em Tamanrasset, no deserto saariano, por um grupo de saqueadores no contexto da primeira guerra mundial.
Mas, apesar de ter sido assassinado em terra muçulmana e por homens do Islão, o beato Charles não é um mártir da Igreja no sentido clássico do termo, nem a responsabilidade da sua morte pode ser atribuída diretamente ao Islão como religião. À distância de um século ainda é lícito perguntarmo-nos: o que é que levou o visconde de Foucauld a dar a vida pelos Tuareg e pelas tribos do Saara que ele amava como amigos?
Este tempo no qual vivemos é considerado pelos observadores de muitos modos: era do caos, da ansiedade, do medo, da psicose. E nenhum escapa à sensação de temor que o Islão incute no mundo ocidental. Esta grande religião monoteísta é hoje sem dúvida a mais contestada, a mais condenada, a mais “caricaturada”; todavia, é necessário ter presente e repetir que geralmente temos uma imagem distorcida do Islão. Uma coisa, no entanto, é partilhada pela grande maioria: nos quinze anos que nos separam do 11 de Setembro vimos mudar profundamente as nossas vidas e esfumarem-se muitas das nossas esperanças. Diante dos nossos olhos – afirma Mario Calabresi – mudou drasticamente o mundo do trabalho, a economia e as finanças, a ideia de relações internacionais, os ideais europeus e o modo como vivemos. Um papel fundamental teve o terrorismo de matriz islâmica, as formas sempre novas de jihadismo e as vagas de refugiados e migrantes que chegaram às nossas Costas. Enquanto antigamente o encontro com o Islão dizia respeito sobretudo aos cristãos do Médio Oriente ou aos apaixonados pelo mundo árabe, hoje, querendo ou não, todos somos chamados a reflectir sobre esse encontro, porque a todos nos diz respeito.
(o texto pode ser lido na íntegra aqui, em pdf)

Este blogue estará com publicações intermitentes durante as próximas semanas

Publicação anterior:
Uma agenda não laicista, antes pela não-discriminação, para a liberdadereligiosa – o programa do novo presidente da Comissão de Liberdade Religiosa, José Vera Jardim

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