Anne-Marie Pelletier
Teóloga e biblista
francesa, professora do Collège des Bernardins e vencedora do Prémio
Ratzinger 2014
Neste
momento em que as profundezas da vergonha parecem sem fundo e porque o Papa
Francisco nos chamou a nós, o "povo de Deus", precisamos de acabar
com o nosso silêncio!
Em
primeiro lugar, precisamos de fazer isso para enfatizar alto e claro,
particularmente para aqueles cristãos que se sentem devastados pelos eventos,
que há apenas UM sacerdote ou “sumo sacerdote”, como a Carta aos Hebreus diz,
e como igualmente o expressa a Lumen Gentium.
E este
Sacerdote nunca faltará na Igreja, não importa as provações que possam surgir.
Vamos todos reler o que o Evangelho de João diz sobre o “Bom Pastor”!
A
instituição - particularmente o sacerdócio ministerial - não é a coroa sagrada
da Igreja.
Devidamente
entendida e dentro de seus limites, a Igreja institucional é um serviço humilde
para a atualidade, responsável pela presença sacramental de Cristo para o povo
batizado.
Isso é
completamente diferente do que o mundo poderia pensar tendo como base para o
seu entendimento os "príncipes da Igreja".
Re-examinar o papel sacerdotal
Esta é
a questão principal. Está aí a necessidade fundamental hoje de reexaminar
radicalmente a nossa eclesiologia.
Na
opinião de muitos, uma das causas dos crimes de pedofilia e abuso de autoridade é uma
maneira muito deficiente, desequilibrada e arrogante de entender o poder
sacerdotal.
Uma
teologia tradicionalmente piramidal da Igreja tem reconfortado a identidade do
padre como um cristão da elite que domina as outras pessoas batizadas, mantendo
a jurisdição sobre as vidas dos outros.
O
sentido de omnipotência que emana daqui inevitavelmente leva a excessos e
remove quaisquer barreiras ao jogo das fantasias de algumas pessoas.
Essa
realidade precisa, agora, de ser corajosamente desafiada. Primeiro nos
seminários, mas também pelos cristãos que nem sempre estão isentos de uma visão
sacralizada do papel sacerdotal, que o Evangelho de facto repudia.
Nesse
sentido, não podemos apegar-nos mais a uma eclesiologia desenvolvida
e implementada exclusivamente por padres.
Precisamos
de imaginar uma Igreja com várias vozes, que evidentemente incluirá
as vozes das mulheres. Elas têm um relacionamento diferente dos homens com
o poder, o que poderia inspirar de forma útil a igreja institucional.