Manoel de Oliveira com Bento XVI, a 12 de Maio de 2010,
no Centro Cultural de Belém (Lisboa)
(foto reproduzida daqui)
No encontro de Bento XVI com o
mundo da cultura, durante a sua visita a Portugal em Maio de 2010, Manoel de
Oliveira foi convidado a dirigir ao Papa as palavras de saudação. Na sua curta intervenção,
o cineasta falou da relação entre religião, artes e cinema:
Considerando, porém, a religião e
a arte, ambas se me afiguram, ainda que de um modo distinto é certo,
intimamente voltadas para o homem e o universo, para a condição humana e a
natureza Divina. E nisto não residirá a memória e a saudade do Paraíso perdido,
de que nos fala a Bíblia, tesouro inesgotável da nossa cultura europeia?
Acossados pelas especulações da razão, sempre se levantam terríveis dúvidas e
descrenças, a que se procura opor a fé do Evangelho que remove montanhas. E os
seres humanos caminham na esperança, apesar de todos os negativismos. Como diz
o padre António Vieira: «Terrível palavra é o “Non”, por qualquer lado que o
tomeis é sempre Non...», terminando por lembrar que o “Non” tira a
Esperança que é a última coisa que a natureza deixou ao homem.
Se as artes nada mais aspiram a
ser que um reflexo das coisas e acções vivas dos procedimentos e sentimentos
humanos do universo real ou em fantasias imaginadas, pode aceitar-se o que um
realizador mexicano, Artur Ripstein, classificou dum modo magnífico e
surpreendente o cinema como sendo o espelho da vida. E é-o de facto.
(o texto pode ser lido aqui na íntegra; o vídeo da intervenção de Manoel
de Oliveira pode ser encontrado no final desta galeria.)
Numa nota a propósito da morte de
Manoel de Oliveira, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e
Comunicações Sociais, bispo D. Pio Alves, escreveu ontem: “Sentimos
concretizado na obra de Manoel de Oliveira, e de outros protagonistas da nossa
cultura, aquilo que o Concílio Vaticano II deixou bem vincado: as artes são um
componente necessário do património de cada comunidade humana e ajudam a pessoa
humana a chegar a uma autêntica e plena realização”, diz, numa referência ao
texto conciliar da Gaudium et spes, sobre a relação da Igreja com o mundo.
Num texto biográfico sobre Manoel de Oliveira, a cineasta Inês
Gil escreve:
“Católico confesso, defendeu sempre o cinema como arte de
exprimir o religioso, questionando o mistério do mundo e a complexidade humana,
por vezes, não poupando críticas a uma instituição que considerava demasiado
fechada relativamente a certos assuntos e temas.”
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