O tempo de Páscoa dominou as crónicas de
fim-de-semana, a partir de diferentes perspectivas. No DN de
sábado, Anselmo Borges escrevia, sob o título É em Sábado que vivemos:
Aparentemente,
no horror daquela Sexta-Feira Santa, foi o fim. Mas, lentamente, reflectindo
sobre a experiência que Jesus fez de Deus, sobre o modo como viveu, como agiu,
como morreu, os discípulos fizeram a experiência avassaladora de que o
Deus-amor, a quem Jesus se dirigia como Abbá, Pai-Mãe querido, não o abandonou
nem sequer na morte. Jesus não morreu para o nada, mas para Deus. Na morte, não
encontrou o nada, mas a plenitude da vida de Deus.
(texto
integral aqui)
Vítor Gonçalves, com A corrida pascal, comentava deste modo os textos da liturgia católica de domingo de Páscoa:
A Páscoa de
Jesus desinstala-nos e “despantufa-nos” das rotinas e da preguiça. E também
desfaz o medo, esse um autêntico “colesterol mau”, a entupir as artérias e
veias por onde quer correr o sangue da vida abundante de Deus. Sem a Páscoa
tornamo-nos obesos, cheios de mil e uma justificações para ficar no quentinho
de uma “vidinha” religiosa, bem medida e suficiente, de livro de “Deve e Haver”
que havemos de apresentar a Deus com saldo a nosso favor. Mas a “Igreja em
saída”, de que tanto fala o Papa Francisco, pode comparar-se a esse dinamismo
que convida à simplicidade de calçar uns ténis e vestir uns calções e percorrer
os caminhos habituais ou desconhecidos com uma presença mais fraterna e
disponível para o encontro com outros
(texto
integral aqui)
No Público de domingo, frei Bento Domingues escrevia
sobre a Páscoa de muitas páscoas,
terminando a evocar Pedro Meca, já aqui referido aquando da sua morte:
Entrou, aos
21 anos, em França, para a Ordem dos Pregadores. Viveu a partilha das múltiplas
dimensões do Evangelho na cidade que o seu confrade e amigo (P. Blanquart)
investigava e da qual, ele Pedro Meca, vivia a rua e a noite, a companhia dos
“contrabandistas da esperança”, os marginalizados, com os quais morria e
ressuscitava todos os dias. Para mim, dizia o Pedro, a rua não é um lugar de
passagem, mas um lugar de vida que amo e que, desde sempre, me é familiar. Na
rua, as noites escuras são mais escuras do que as dos místicos e quantas não
são precisas para “uma só manhã” (H. Michaux)! Não se passa uma noite de
Páscoa, confessa Pedro Meca, sem que eu não esteja num café ou na rua e, de
repente, exclame: é a Páscoa!
(texto
integral aqui)
Sexta-feira, no CM, Fernando
Calado Rodrigues escrevia sobre a Crítica ao sistema económico:
O Secretário
de Estado do Vaticano e o Presidente do Senado Italiano uniram as suas vozes na
crítica ao sistema económico vigente, que promove a exploração dos mais fracos
e a promiscuidade ente a finança e o poder, durante a apresentação de um volume
da revista italiana “Limes”, dedicada ao tema “Moeda e império” , na passada
terça-feira em Roma.
O cardeal
Parolin denunciou que “os grandes capitais tendem a financiar os poderes
estabelecidos e as atividades mais rentáveis”, enquanto o povo se vê arredado
do acesso ao crédito.
(texto
integral aqui)
Na crónica Os
dias da semana, que mantém aos domingos no Diário do Minho, Eduardo Jorge Madureira escreveu, sob o
título Eu sou um cristão do Oriente:
O mundo
tem-se mostrado impassível perante o extermínio dos cristãos do Oriente. Um
certo sentido das proporções ditaria que o vasto desinteresse pelo destino destas
vítimas dos islamistas não contrastasse tanto com a compaixão e indignação que
amplamente provocam, por exemplo, as notícias de maus-tratos de animais
domésticos. Em Portugal, em favor dos cristãos do Oriente, quase só se escuta a
voz da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que tem evocado a via-sacra que eles têm
sido forçados a percorrer. Em França, controvérsias de interesse secundário
opõem pessoas respeitáveis que não se entendem sobre o termo certo para classificar
o que se está a passar. Genocídio, garantem uns. Erradicação, contrapõem
outros, como se fosse preciso poupar palavras perante uma realidade que se tem
imposto com tanta e tão continuada brutalidade.
“Os cristãos
do Oriente vão desaparecer até que nem um só fique vivo?” A pergunta formulada
pelo ensaísta e jornalista Jacques Julliard justificou um apelo para que o
mundo trate de acabar com a perseguição generalizada que os islamistas movem
aos cristãos do Oriente. O texto de Jacques Julliard contra “o genocídio
cultural que está a ser cometido” foi assinado por gente muito diversa; por
antigos primeiros-ministros de direita, como Alain Juppé, e de esquerda, como Michel
Rocard; por cristãos, como o arcebispo de Angoulême, Claude Dagens, por judeus,
como o filósofo Alain Finkielkraut, e por ateus, como o ensaísta Michel Onfray.
O advogado Robert Badinter, antigo ministro da Justiça e presidente do Conselho
Constitucional; o cineasta Claude Lanzmann, realizador de Shoah; e o
historiador Pierre Nora encontram-se na lista de subscritores da petição.
O ministro
dos Negócios Estrangeiros francês, o socialista Laurent Fabius, tomou boa nota do
apelo e foi, na penúltima sexta-feira, ao Conselho de Segurança da ONU denunciar
com veemência o “verdadeiro genocídio a que se assiste, por causa do grupo
terrorista Daesh [acrónimo do autoproclamado Estado Islâmico], que empurra para
exílio, escraviza ou mata todos os que não pensam como eles, especialmente os
cristãos”. Este “genocídio cultural”, segundo Laurent Fabius, deveria ser
incluído na lista dos crimes contra a humanidade.
O escritor Jean d'Ormesson, autor do recém-publicado O mundo é uma coisa
estranha, afinal (Editora Guerra & Paz), também se associou à petição de
Jacques Julliard. Num texto publicado no diário Le Figaro no dia 5 de Março, lembrou
que os problemas começaram no Iraque, onde a comunidade cristã, uma das mais
antigas do mundo e ainda faladora do aramaico, a língua mais corrente no tempo
de Jesus, foi frequentemente a principal vítima de perseguições violentas.
Estas perseguições, recorda Jean d’Ormesson, não tardaram a estender-se à Síria,
onde o Estado Islâmico se estabeleceu solidamente. No Egipto, na Líbia, no
Médio-Oriente e em inúmeras regiões de África, os raptos, as violações, os
assassinatos, as cenas de horror foram-se multiplicando.
Num texto
intitulado “Salvar os cristãos do Oriente”, publicado na revista Marianne de 6 de
Março, Jacques Julliard explica que, no mundo muçulmano, não há apenas a Al-Qaeda,
o Daesh e o Boko Haram a perseguir os cristãos. Eles também são,
frequentemente, vítimas de governos que não os protegem ou que os perseguem. As
perseguições assumem gravidades variadas, podendo ir da discriminação nos empregos
públicos até aos massacres, passando por toda a gama de procedimentos clássicos
da barbárie: deslocamentos forçados de populações, agressões físicas, violações,
raptos, detenções arbitrárias, destruição de igrejas e de outros lugares de
culto e repressão feroz dos convertidos. “Estes horríveis crimes têm suscitado
menos emoção do que a, legítima e necessária, que suscitou a destruição por
membros do Estado Islâmico das estátuas e esculturas pré-islâmicas do Museu de
Mossul”, constata Jacques Julliard, dando conta de uma perplexidade: “Como se a
vida dos cristãos do Oriente fosse menos preciosa do que os tesouros artísticos
da humanidade”.
Considerando
que “é preciso salvar os cristãos do Oriente do extermínio”, o ensaísta e
jornalista pede aos países muçulmanos que neguem aos perseguidores dos cristãos
o direito a se reclamarem do Islão e ao Ocidente, que se reclama sempre e em
toda a parte dos direitos do homem, que não abra uma excepção em relação a uma
religião que foi e é maioritariamente a sua. O desafio não é de pouca monta.
Estamos, diz Jacques Julliard, perante “uma questão que interpela a consciência
universal”.
Recordando
que, na Europa, na Ásia e em África, se registaram, desde há três quartos de
século, inúmeras abominações, Jean d'Ormesson nota que os assassinos tentaram dissimular
o mal que faziam. Mas nunca, como agora, o crime se apresentou como um espectáculo
de uma tal violência. Perante esta vontade de erradicação do cristianismo pelo
Estado Islâmico e os seus satélites, no conjunto de uma região do mundo, Jean
d’Ormesson subscreve o pedido de Jacques Julliard para que termine a
indiferença geral: “Fomos todos judeus alemães. Fomos todos dissidentes no
tempo de Sakharov e de Soljenitsyne. Fomos todos Charlie. Hoje, devíamos todos
ser cristãos do Oriente”.
Sem comentários:
Enviar um comentário