terça-feira, 24 de maio de 2016

Sobre a boa economia

Livro

Na sua crónica Os dias da semana, publicada no Diário do Minho de Domingo passado, Eduardo Jorge Madureira Lopes escreve sobre o livro de Luigino Bruni, Redescobrir a Árvore da Vida. Um economista lê o Livro do Génesis. Aqui fica o texto, com o título Sobre a boa economia:

Ao contrário do que sucede com os astrofísicos, cujas teorias não modificam a órbita dos planetas, os economistas e as suas teorias condicionam fortemente as escolhas económicas e, portanto, a vida de cada um. A constatação é do economista italiano Luigino Bruni, coordenador do projecto Economia de Comunhão. O autor de Redescobrir a Árvore da Vida. Um economista lê o Livro do Génesis – obra apresentada na terça-feira, na comunidade de leitores de S. Lázaro, pelo seu tradutor, José Alberto Bacelar Ferreira – estabelece, por isso, uma correlação entre a crise financeira e económica que temos vivido e as teorias económicas em voga nos últimos decénios.
Luigino Bruni, professor de Economia Política e editorialista do jornal Avvenire, constata que, nos anos mais recentes, os melhores departamentos universitários de Economia do mundo foram-se enchendo de economistas cada vez mais matemáticos e, simultaneamente, com uma formação humanística cada vez mais escassa. Esses economistas – contra os quais deveriam estar imunizadas as universidades católicas – podem perceber de modelos hiper-especializados, mas são, geralmente, incapazes de ter uma visão de conjunto do sistema económico; não conseguem, portanto, articular os modelos com a realidade económica e social.
Como se não bastasse, nota o economista, a política da Academia Sueca, responsável pela atribuição dos Nobel da Economia, “foi, pelo menos, bizarra”, sobretudo no início dos anos 10 deste século. “Enquanto o capitalismo arriscava implodir sob uma crise financeira como nunca antes se vira, os Nobel de Economia eram concedidos a alguns economistas que se encontravam entre os maiores teóricos do paradigma económico que demonstrava todas as suas dramáticas limitações”. Para Luigino Bruni foi como se, perante um verão com o maior número de fogos criminosos, fossem conferidos prémios aos que estudam as mais sofisticadas técnicas de progressão avançada de incêndios.
A situação viria, de algum modo, a mudar, diz Luigino Bruni no texto que enaltece a obra de Angus Deaton, o britânico que recebeu o Nobel de Economia em 2015. As distinções mais recentes da Academia Sueca podem indiciar a revalorização de uma teoria económica mais atenta à dimensão social, com uma maior sensibilidade em relação aos temas do bem-estar colectivo e não só dos lucros e das rendas individuais. Tudo melhorará se os próximos Nobel distinguirem “mais economistas filósofos e menos economistas matemáticos”, tal como aconselha o economista inglês Robert Sugden: “O economista, hoje, deve voltar a ser mais filósofo e menos matemático”.

Como “construímos um capitalismo financeiro que gerou muita ‘riqueza’ errada que não tornou melhor a nossa vida nem a do planeta Terra”, torna-se necessário e urgente recomeçar a distinguir “as formas de riqueza” e a dizer que nem tudo aquilo que chamamos riqueza é coisa boa”, diz Luigino Bruni num outro texto do Avvenire. “Não é boa a ‘riqueza’ que nasce da exploração dos pobres e dos frágeis, a que provém da pilhagem de matérias-primas de África, da ilegalidade, da finança de casino, da prostituição, das guerras, do tráfico de drogas, a que nasce da falta de respeito pelos trabalhadores e pela natureza” (o Papa, como noticiava na sexta-feira este jornal, criticou os que constroem a sua riqueza à custa da exploração dos outros, classificando como “sanguessugas” os que “vivem do sangue que jorra das pessoas transformadas em escravas do trabalho”). Luigino Bruni poderia ter prolongado a lista. Com maior ou menor extensão, a conclusão seria a mesma: “Não existem usos bons deste dinheiro errado”.

Redescobrir a Árvore da Vida. Um economista lê o Livro do Génesis
Luigino Bruni
Ed. Cidade Nova
156 páginas, 12 euros

(Um outro texto de apresentação do livro pode ser lido aqui)

Texto anterior no blogue
Dialogar olhos nos olhos, um apelo à coragem - Um artigo de José Leitão, sobre as Conferências de Maio 2016, do Centro de Reflexão Cristã

5 comentários:

Unknown disse...

Sendo o capitalismo o espaço de soluções de reprodução do dinheiro, na minha modesta opinião, não se lhe pode pedir para ser humano ou sequer social.

JOSÉ NETO disse...

ONDE É POSSÍVEL COMPRAR O LIVRO?

António Marujo disse...

Penso que será possível encontrar o livro em alguma livraria (pelo menos, em alguma livraria católica); em alternativa, se estiver em Lisboa, pode procurar por estes dias na Feira do Livro se alguém representa a Cidade Nova.

Paulo Bacelar disse...

Trabalho na Editora Cidade Nova.
O livro está em algumas livrarias (não muitas!), mas o mais fácil será pedir-nos diretamente pelo e-mail editora@cidadenova.org com indicação da morada para o envio pelo correio.

José Neto disse...

Muito agradeço a informação que Paulo Bacelar fez o favor de prestar.

José Neto