Livro
Na sua crónica Os dias da semana, publicada
no Diário do Minho de Domingo
passado, Eduardo Jorge Madureira Lopes escreve sobre o livro de Luigino Bruni, Redescobrir a Árvore da Vida. Um economista lê o
Livro do Génesis. Aqui fica o texto, com
o título Sobre a boa economia:
Ao contrário
do que sucede com os astrofísicos, cujas teorias não modificam a órbita dos
planetas, os economistas e as suas teorias condicionam fortemente as escolhas
económicas e, portanto, a vida de cada um. A constatação é do economista
italiano Luigino Bruni, coordenador do projecto Economia de Comunhão. O autor
de Redescobrir a Árvore da Vida. Um
economista lê o Livro do Génesis – obra apresentada na terça-feira, na
comunidade de leitores de S. Lázaro, pelo seu tradutor, José Alberto Bacelar
Ferreira – estabelece, por isso, uma correlação entre a crise financeira e
económica que temos vivido e as teorias económicas em voga nos últimos
decénios.
Luigino
Bruni, professor de Economia Política e editorialista do jornal Avvenire, constata que, nos anos mais
recentes, os melhores departamentos universitários de Economia do mundo foram-se
enchendo de economistas cada vez mais matemáticos e, simultaneamente, com uma
formação humanística cada vez mais escassa. Esses economistas – contra os quais
deveriam estar imunizadas as universidades católicas – podem perceber de
modelos hiper-especializados, mas são, geralmente, incapazes de ter uma visão
de conjunto do sistema económico; não conseguem, portanto, articular os modelos
com a realidade económica e social.
Como se não
bastasse, nota o economista, a política da Academia Sueca, responsável pela
atribuição dos Nobel da Economia, “foi, pelo menos, bizarra”, sobretudo no
início dos anos 10 deste século. “Enquanto o capitalismo arriscava implodir sob
uma crise financeira como nunca antes se vira, os Nobel de Economia eram
concedidos a alguns economistas que se encontravam entre os maiores teóricos do
paradigma económico que demonstrava todas as suas dramáticas limitações”. Para
Luigino Bruni foi como se, perante um verão com o maior número de fogos
criminosos, fossem conferidos prémios aos que estudam as mais sofisticadas
técnicas de progressão avançada de incêndios.
A situação
viria, de algum modo, a mudar, diz Luigino Bruni no texto que enaltece a obra
de Angus Deaton, o britânico que recebeu o Nobel de Economia em 2015. As
distinções mais recentes da Academia Sueca podem indiciar a revalorização de
uma teoria económica mais atenta à dimensão social, com uma maior sensibilidade
em relação aos temas do bem-estar colectivo e não só dos lucros e das rendas
individuais. Tudo melhorará se os próximos Nobel distinguirem “mais economistas
filósofos e menos economistas matemáticos”, tal como aconselha o economista
inglês Robert Sugden: “O economista, hoje, deve voltar a ser mais filósofo e
menos matemático”.
Como
“construímos um capitalismo financeiro que gerou muita ‘riqueza’ errada que não
tornou melhor a nossa vida nem a do planeta Terra”, torna-se necessário e
urgente recomeçar a distinguir “as formas de riqueza” e a dizer que nem tudo
aquilo que chamamos riqueza é coisa boa”, diz Luigino Bruni num outro texto do Avvenire. “Não é boa a ‘riqueza’ que
nasce da exploração dos pobres e dos frágeis, a que provém da pilhagem de
matérias-primas de África, da ilegalidade, da finança de casino, da
prostituição, das guerras, do tráfico de drogas, a que nasce da falta de
respeito pelos trabalhadores e pela natureza” (o Papa, como noticiava na
sexta-feira este jornal, criticou os que constroem a sua riqueza à custa da
exploração dos outros, classificando como “sanguessugas” os que “vivem do
sangue que jorra das pessoas transformadas em escravas do trabalho”). Luigino Bruni
poderia ter prolongado a lista. Com maior ou menor extensão, a conclusão seria
a mesma: “Não existem usos bons deste dinheiro errado”.
Redescobrir a Árvore da Vida. Um economista lê o Livro do Génesis
Luigino Bruni
Ed. Cidade Nova
156 páginas, 12 euros
Texto anterior no blogue
Dialogar olhos nos olhos, um apelo à coragem - Um artigo de José Leitão, sobre as Conferências de Maio 2016, do Centro de Reflexão Cristã
5 comentários:
Sendo o capitalismo o espaço de soluções de reprodução do dinheiro, na minha modesta opinião, não se lhe pode pedir para ser humano ou sequer social.
ONDE É POSSÍVEL COMPRAR O LIVRO?
Penso que será possível encontrar o livro em alguma livraria (pelo menos, em alguma livraria católica); em alternativa, se estiver em Lisboa, pode procurar por estes dias na Feira do Livro se alguém representa a Cidade Nova.
Trabalho na Editora Cidade Nova.
O livro está em algumas livrarias (não muitas!), mas o mais fácil será pedir-nos diretamente pelo e-mail editora@cidadenova.org com indicação da morada para o envio pelo correio.
Muito agradeço a informação que Paulo Bacelar fez o favor de prestar.
José Neto
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