José Tolentino Mendonça.
Foto © Nuno Ferreira Santos/Público
Hoje, regresso por um dia às páginas do Público, com uma entrevista ao
padre José Tolentino Mendonça, autor de Elogio da Sede (ed. Quetzal), posto à venda sexta-feira passada. A entrevista tem fotos
únicas do Nuno Ferreira Santos que, só por si, já justificam que se abra o
jornal ou o computador.
Vivemos numa
sociedade de satisfação permanente, diz Tolentino Mendonça. Por isso,
precisamos de reaprender a ter sede. O novo livro que reúne os textos das
meditações feitas perante o Papa e a Cúria Romana foi anteontem posto à venda.
A propósito dele, o autor de A Noite Abre os Meus Olhos diz que a
espiritualidade não se pode “confundir com um conjunto de abstracções”. Crer
não é “ter as soluções”, mas é “habitar o caminho, habitar a tensão, viver
dentro da procura”. Por isso, Deus é um problema também para os crentes. Um
Deus que, na configuração cristã, é sobretudo um Deus frágil.
O Elogio da Sede foi o tema que o
padre José Tolentino Mendonça propôs ao Papa Francisco, quando este o convidou
a orientar os exercícios espirituais da Quaresma para os responsáveis da Cúria
Romana – a primeira vez de um padre português. Com o mesmo título, foi
anteontem posto à venda o livro (ed. Quetzal) que reúne os textos das
meditações que o também poeta e exegeta bíblico propôs ao Papa e aos seus mais
directos colaboradores.
No tempo litúrgico
que antecede e prepara a Páscoa, os cristãos são chamados a repensar a sua vida
à luz da fé que professam. Esse desafio pode assumir a forma de um encontro de
reflexão ou meditação, muitas vezes chamado de “exercícios espirituais”,
adoptando a expressão cunhada por Inácio de Loiola, fundador dos jesuítas. “Um
exercício espiritual é, sobretudo, um momento de encontro, uma viagem ao
interior de si, uma abertura ao que pode ser a voz de Deus, um balanço da
própria vida”, explicaria Tolentino Mendonça, nesta entrevista.
Foi isso que,
durante cinco dias, entre 18 e 23 de Fevereiro, aconteceu em Ariccia, perto de
Roma: duas meditações diárias, e o resto do tempo em silêncio, para cada pessoa
se confrontar com a reflexão proposta. “O silêncio com que vivemos este retiro
podia interpretar-se como uma sede”, acrescentava o padre português.
No livro A Nuvem do Não-Saber, de final do século
XIV – que muitos historiadores da matéria consideram “um dos mais belos textos
místicos de todos os tempos”, como recordava José Mattoso na edição portuguesa
(ed. Assírio & Alvim) –, o autor anónimo escreve: “[À] pergunta: ‘Que
buscas? Que desejas?’, responde que era a Deus que desejavas ter: ‘É só a Ele
que eu cobiço, é só a Ele que busco e nada mais senão Ele’. E se te perguntar
quem é esse Deus, responde que é o Deus que te criou e redimiu, e por sua graça
te chamou ao seu amor. Insiste que acerca d’Ele tu nada sabes.”
Foi sobre essa busca
e sobre tactear na procura de Deus que, nas suas dez meditações, Tolentino
Mendonça se debruçou, mesclando a investigação dos textos bíblicos com as
inspirações literárias e artísticas que marcam também a sua obra poética e
ensaística. E é essa intersecção permanente que transparece no seu livro. Que
tem um único risco: o de se tornar, também ele, uma das grandes obras da
mística. A par de obras como A
Imitação de Cristo ou o já citado A Nuvem do Não-Saber. Ou a par de nomes como Hildegarda de Bingen,
Juliana de Norwich, São João da Cruz, Teresa d’Ávila, Etty Hillesum, Dietrich
Bonhoeffer, o irmão Roger de Taizé...
(o texto integral da
entrevista pode ser lido aqui)
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