Gustav Mahler
A propósito do recente concerto na Fundação Gulbenkian,
em Lisboa, Guilherme d’Oliveira Martins escreveu sobre a Sinfonia nº 2, de
Gustav Mahler, falando sobre o motivo de meditação e o trânsito entre a dúvida
e a esperança de que aquela obra fala:
A Sinfonia nº
2 de Gustav Mahler, que o autor designou como “Ressurreição”,
constitui uma obra-prima da história da música de todos os tempos. (...)
O começo (...),
segundo o próprio Mahler tem a ver com a meditação exasperada sobre a condição
mortal da humanidade. Eis por que encontramos pontos de contacto com a terceira
sinfonia de Beethoven (“Eroica”) – uma marcha fúnebre contrasta com a
perspetiva lírica. Com um extremo cuidado técnico, graças a um complexo e hábil
recurso a dissonâncias harmónicas, encontramos a coexistência do sofrimento e
da esperança… (...) E G. Mahler recorre a material relacionado com a canção do
“Sermão de Santo António aos Peixes” (1893) – para salientar como o santo,
perante a indiferença e a incapacidade de as pessoas ouvirem o que quer que
fosse, se dispõe a falar aos peixes (“O bom Deus enviar-me-á uma pequena
luz”…). Lembramo-nos deste tema, bastamente glosado pelo Padre António Vieira. (...)
E assim no final da
sinfonia temos a recapitulação do caminho percorrido: o ambiente fúnebre do
começo, o tema “Dies Irae”, que corresponde à consciência da pequenez e da
imperfeição, a que sucede a marcha orquestral que ilustra a procissão para o
“Juízo Final”, até que soa a última trombeta do Apocalipse. E assim dá-se
início à cantata sinfónica final, já aqui referenciada – com o poema
“Ressurreição” de Friedrich G. Klopstock (1724-1803), grande poeta anunciador
do romantismo – num extraordinário crescendo que representa a afirmação do
autêntico júbilo, assumido como força vital pelo compositor, num momento
crucial da sua vida atribulada, em nome de uma esperança forte e renovadora.
(O texto está disponível aqui na íntegra, de onde também se reproduz a foto)
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