Presidente da conferência dos bispos e Presidente dos institutos religiosos da Austrália, respetivamente Mark Coleridge e Monica Cavanagh, na apresentação do relatório |
Os
responsáveis da Igreja Católica australiana (conferência dos bispos e
dirigentes dos institutos religiosos) declararam estar abertos a colocar à
Santa Sé a questão do celibato voluntário dos padres, na linha das
recomendações feitas pelo relatório final da Royal Commission para os abusos
sexuais, publicado em 2017.
Essa
disponibilidade consta de um extenso documento em que os bispos e os religiosos
esclarecem qual a sua posição relativamente a cada recomendação e as medidas
que já tomaram ou se dispõem a tomar para combater os abusos e proteger e
acautelar os direitos das crianças. É nele que manifestam concordância em
clarificar os critérios da escolha dos bispos, assunto que terá de contar com a
concordância do Vaticano; e em que se opõem terminantemente a revelar casos ou
situações de pederastia de que tenham conhecimento no confessionário. Esta
questão já foi objeto de lei em alguns dos estados australianos, mas os bispos
entendem que, além de ser uma questão inegociável e uma matéria de liberdade
religiosa, argumentam também que uma medida deste tipo é ineficaz, uma vez que a
probabilidade de um perpetrador ou de uma vítima colocarem uma situação de abuso
na confissão se reduziria se soubessem que o segredo não estava garantido.
No caso
do celibato dos padres, trata-se, no entanto, de uma disponibilidade cheia de
matizes. Na verdade, os bispos dizem ter já transmitido a recomendação aos seus
superiores no Vaticano, com quem têm tido consultas sobre o assunto e que eles
próprios têm buscado conselho da parte de teólogos e especialistas de direito
canónico. Recorde-se que o órgão que a própria Igreja australiana criou para
coordenar a resposta ao problema dos abusos - o Truth Justice and Healing Council – escreveu,
sobre este assunto o seguinte:
“Esta
questão deve ser levada ao conhecimento do grupo de trabalho da Santa Sé [sobre
os abusos], solicitando em particular que seja feito um estudo sobre o impacto
do celibato obrigatório no comportamento dos perpetradores de abuso sexual de
crianças e sobre a influência do clericalismo na resposta institucional ao
abuso por pate da igreja”.
Os
bispos colocam-se numa posição defensiva, que tem sido a linha oficial,
dizendo, que a Royal Commission “não apresentou nenhuma evidência de conexão
causal entre celibato e abuso sexual infantil; que o celibato voluntário é uma
prática positiva há muito estabelecida na Igreja tanto no Oriente como no
Ocidente, particularmente para os bispos e a vida religiosa; e que uma formação
inicial e contínua inadequada de sacerdotes e religiosos para a vida
celibatária pode ter contribuído para um risco maior de abuso sexual infantil,
mas não o celibato como um estado de vida em si”.
Outras
recomendações que mexem com a vida celibatária e que foram aceites pelo
episcopado e pelos representantes dos religiosos são as seguintes:
“Todos
os institutos religiosos católicos na Austrália, em consulta com as respetivas
lideranças e a Santa Sé, conforme o caso, devem implementar medidas para fazer
face a riscos de danos às crianças e a potencial disfunção psicológica e sexual
associada à regra celibatária da vida religiosa. Isto deve incluir que se
considere se e como os modelos existentes de vida religiosa poderiam ser
modificados para facilitar formas alternativas de associação, períodos mais
curtos de compromisso celibatário e / ou celibato voluntário (quando isso se
adequar à forma de associação escolhida)”.
e
“A fim
de promover vidas saudáveis para aqueles que escolhem ser celibatários, ACBC e
todos os Institutos religiosos católicos na Austrália deveriam desenvolver,
avaliar e melhorar continuamente os seus processos de seleção, triagem e
formação de candidatos para o clero e a vida religiosa, bem como os processos
de formação permanente, apoio e supervisão do clero e religiosos.”
Refira-se,
finalmente, que muitas das recomendações apresentadas pela Royal Commission, na
sequência de cinco anos de inquirições, vão implicar uma substancial revisão do
actual Código do Direito Canónico da Igreja Católica. No entanto, a aceitação
dessas directrizes por parte dos católicos australianos terá de contar ainda
com a anuência de Roma. Mas, ao mesmo tempo, dão relevantes indicações sobre
medidas que se tornam urgentes para a Igreja Universal.
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