“Linguagens, espiritualidades,
sexualidades e convicções” é o tema da última sessão da iniciativa Escutar a
Cidade, que três dezenas de grupos e instituições católicas vêm promovendo
mensalmente, desde Janeiro, com o objectivo de contribuir para a reflexão
preparatória do Sínodo diocesano de Lisboa.
Nesta última das seis sessões, que decorre quinta-feira, dia
18, intervêm a escritora e poetisa Ana Luísa Amaral (autora de “Entre Dois Rios
e Outras Noites”), o psicólogo Telmo Baptista (bastonário da Ordem dos
Psicólogos), a cineasta Margarida Cardoso (realizadora de “A Costa dos
Murmúrios” e “Yvone Kane”) e a coreógrafa Madalena Vitorino (que tem trabalhado
na pedagogia da dança e das artes na comunidade com actores, bailarinos,
cantores e pessoas não profissionais nas artes performativas). A sessão contará também com a participação do TUT (Teatro da
Universidade de Lisboa), que apresentará um excerto de A Boa Alma,
de Bertolt Brecht, encenado por Júlio Martin. E o grupo organizador promete
dizer o que sugere para a etapa seguinte.
A ideia do Escutar a Cidade foi
pedir a pessoas não-crentes
que fizessem um diagnóstico da realidade e sugerissem aos católicos e à Igreja
formas de intervir nessa mesma realidade: em seis sessões, desde Janeiro, várias
pessoas de diferentes quadrantes e experiências foram convidadas a dizer o que
entendem da realidade de Lisboa, do país, da Europa, e de que forma a presença
dos cristãos pode ser importante ou pode ainda mudar ou melhorar, em cada uma
dessas áreas.
Esta proposta mobilizou 30
movimentos e instituições da Igreja Católica, que a ela aderiram como promotoras,
respondendo desta forma ao apelo do patriarca de Lisboa, quando convocou um
Sínodo diocesano para procurar definir o caminho da Igreja Católica no
patriarcado para os próximos anos: o sonho de chegar a todos é o lema do
Sínodo, chegar a muitos mais do que o habitual foi o propósito do Escutar a Cidade.
O resultado das cinco sessões
já realizadas, para quem quiser ler ou escutar reflexões de grande qualidade
sobre diferentes aspectos da realidade, pode ser visto aqui.
“Neste processo, nós,
organizadores, sentimo-nos mais acolhidos por quem quis vir partilhar a sua
reflexão do que acolhedores dessas pessoas”, diz Jorge Wemans, um dos
responsáveis pela dinâmica, a propósito das sessões já realizadas. “O nosso
gesto pretendia ser um acolhimento de ideias e experiências, mas o que aconteceu
foi que o convite foi bem recebido e por isso foram elas que nos acolheram a
nós, pela disponibilidade e gratuidade com que as pessoas quiseram estar
connosco.”
Este último encontro da dinâmica
Escutar a Cidade realiza-se dia 18 de Junho, no Fórum Lisboa (Av. Roma), entre
as 19h e as 21h. A iniciativa contou já com a participação do
cardeal-patriarca, D. Manuel Clemente, e do bispo auxiliar D. José Traquina, em
várias das cinco sessões anteriores. O cardeal-patriarca considerou já a
iniciativa como “muito bem-vinda”. Em declarações à agência Ecclesia, D. Manuel
afirmou que o processo Escutar a Cidade tem “a particularidade muito
interessante de escutar vozes que não são confessionais mas que conhecem a
cidade de Lisboa, a região de Lisboa e a sua problemática social, cultural,
económica”.
Sendo especialistas em cada uma
das suas áreas, estas vozes “dão um contributo interessante”, disse o
patriarca. Para acrescentar, sobre a relação da iniciativa com o processo
sinodal: “O Sínodo tem de adaptar ao patriarcado de Lisboa as perspectivas que
o Papa Francisco nos dá na exortação ‘A Alegria do Evangelho’ e como é que
essas perspectivas, esse tal sonho missionário, bonito, de chegar a todos, se
concretizam nestas circunstâncias próprias do patriarcado de Lisboa.”
Nas sessões realizadas desde
Janeiro, foram
enunciados desafios pertinentes. Entre eles, podem citar-se a necessária reflexão sobre o
que queremos da Europa enquanto cristãos; a urgência de repensar a ideia de
justiça como essencial à construção da democracia; um acolhimento das
comunidades cristãs que não deixe amigos na rua, cuide dos mais velhos e dos
jovens e dedique uma atenção prioritária aos mais pobres e vulneráveis; a
importância do trabalho social em rede, para apoiar mais pessoas de forma mais
eficaz; a construção de uma reflexão sobre a vida social e urbana que dê mais
tempo e mais espaço às pessoas e à sua dignidade; a centralidade da Bíblia na
vida dos crentes e das comunidades, como história narrada da relação vital de
mulheres e homens com Deus.
O Escutar a Cidade foi mesmo objecto de referência no
jornal do Vaticano. “L’Osservatore Romano” destacou a iniciativa, escrevendo
que “a
inspiração veio da exortação apostólica ‘Evangelii gaudium’, do papa Francisco:
ser Igreja ‘em saída’, chegar às margens, às periferias, às fronteiras internas
da sociedade, experimentar novos modos de narrar a fé, fazer comunidade”.
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