Faria 100 anos na próxima terça-feira. Nasceu no dia 3 de Fevereiro de 1909, mas morreu jovem, com 34 anos apenas. Chamava-se Simone Weil, e era de ascendência judaica. Figura complexa, filósofa de formação - as Obras Completas, na Gallimard, completarão sete volumes -, professora de Filosofia, viveu intensamente os dramas da primeira metade do século XX. No seu número de Janeiro, Philosophie Magazine consagrou-lhe um dossier, sublinhando "a originalidade" da sua filosofia, na confluência articulada de experiência real, reflexão e acção. Aí se relata como a foram encontrar, com 11 anos apenas, no meio de uma manifestação de grevistas no boulevard Saint-Germain. Simone de Beauvoir refere nas suas Memórias um encontro na Sorbonne: Weil jura apenas pela Revolução que "daria de comer a toda a gente" e a Beauvoir, que sustenta que o verdadeiro problema é o de "encontrar um sentido" para a existência", replica: "Vê-se bem que nunca passaste fome!"Para perceber a alienação dos operários, tornou-se ela própria operária e sindicalizou-se: "Enquanto nos não tivermos colocado do lado dos oprimidos, para sentir com eles, não se pode tomar consciência." Esgotada pela incapacidade de seguir a cadência infernal da produção, dirá que aí "o pensamento se encarquilha como a carne diante do bisturi". Visionária, viu claramente que a libertação não viria nem do fascismo nem do comunismo, abstracções "ávidas de sangue humano" que remetem para "duas concepções políticas e sociais quase idênticas".Denunciou a exploração da classe operária e o colonialismo, mas manteve-se crítica face ao comunismo. Pôs-se ao lado da Resistência, reivindicando "uma forma de ofensiva", mas excluindo a violência das armas. Comprometida com a liberdade e a libertação, manteve-se distante dos partidos políticos e da Igreja. Sobre os partidos escreveu que se trata de "organismos, publicamente, oficialmente constituídos de modo a matar nas almas o sentido da verdade e da justiça". Quanto à Igreja, temia a sua intolerância. Ficou, pois, à porta, pensando que a sua vocação era permanecer "cristã fora da Igreja".Embora educada no agnosticismo, viveu intensamente à "espera de Deus". Deus não deve ser tanto procurado como esperado como graça. Essa graça consiste em "morrer para si mesmo", ser "des-criado" e depois "re-criado" em Deus.Nesta espera, foi determinante uma experiência em Portugal em 1935, na Póvoa de Varzim. Ela que sabia o que era o sofrimento, assistindo a uma procissão em honra da padroeira, com velas e cânticos de uma tristeza pungente - "Eu nunca escutei nada mais pungente" -, teve repentinamente "a certeza de que o cristianismo é por excelência a religião dos escravos, que os escravos não podem não aderir a ele, e eu também".Fui reler a sua obra Carta a um Homem Religioso, onde levanta a lista dos obstáculos que a mantiveram fora da Igreja. Tudo se resume nesta afirmação: "A Verdade essencial é que Deus é o Bem. Ele só é a omnipotência por acréscimo." Por isso, "é falsa toda a concepção de Deus incompatível com um movimento de caridade pura. Todas as outras são verdadeiras, em graus diferentes". Os únicos milagres são os do amor, de tal modo que "Hitler poderia morrer e ressuscitar 50 vezes que eu não o veria nunca como filho de Deus". "A forma de pensar de Cristo era a de que devíamos reconhecê-lo como santo porque ele fazia o bem perpétua e exclusivamente."A Igreja centrou-se no dogma, que levou ao anátema e, assim, "estabeleceu um início de totalitarismo". "Os partidos totalitários formaram-se devido ao efeito de um mecanismo análogo ao da fórmula anathema sit. Esta fórmula e o seu uso impedem a Igreja de ser católica, a não ser de nome." A parábola do bom Samaritano "deveria ter ensinado a Igreja a nunca mais excomungar quem quer que fosse que praticasse o amor ao próximo". Só o amor salva: "Qualquer pessoa que seja capaz de um gesto de compaixão pura para com um infeliz (coisa, aliás, muito rara) possui, talvez implicitamente mas sempre realmente, o amor de Deus e a fé."
sábado, 31 de janeiro de 2009
Simone Weil
Faria 100 anos na próxima terça-feira. Nasceu no dia 3 de Fevereiro de 1909, mas morreu jovem, com 34 anos apenas. Chamava-se Simone Weil, e era de ascendência judaica. Figura complexa, filósofa de formação - as Obras Completas, na Gallimard, completarão sete volumes -, professora de Filosofia, viveu intensamente os dramas da primeira metade do século XX. No seu número de Janeiro, Philosophie Magazine consagrou-lhe um dossier, sublinhando "a originalidade" da sua filosofia, na confluência articulada de experiência real, reflexão e acção. Aí se relata como a foram encontrar, com 11 anos apenas, no meio de uma manifestação de grevistas no boulevard Saint-Germain. Simone de Beauvoir refere nas suas Memórias um encontro na Sorbonne: Weil jura apenas pela Revolução que "daria de comer a toda a gente" e a Beauvoir, que sustenta que o verdadeiro problema é o de "encontrar um sentido" para a existência", replica: "Vê-se bem que nunca passaste fome!"Para perceber a alienação dos operários, tornou-se ela própria operária e sindicalizou-se: "Enquanto nos não tivermos colocado do lado dos oprimidos, para sentir com eles, não se pode tomar consciência." Esgotada pela incapacidade de seguir a cadência infernal da produção, dirá que aí "o pensamento se encarquilha como a carne diante do bisturi". Visionária, viu claramente que a libertação não viria nem do fascismo nem do comunismo, abstracções "ávidas de sangue humano" que remetem para "duas concepções políticas e sociais quase idênticas".Denunciou a exploração da classe operária e o colonialismo, mas manteve-se crítica face ao comunismo. Pôs-se ao lado da Resistência, reivindicando "uma forma de ofensiva", mas excluindo a violência das armas. Comprometida com a liberdade e a libertação, manteve-se distante dos partidos políticos e da Igreja. Sobre os partidos escreveu que se trata de "organismos, publicamente, oficialmente constituídos de modo a matar nas almas o sentido da verdade e da justiça". Quanto à Igreja, temia a sua intolerância. Ficou, pois, à porta, pensando que a sua vocação era permanecer "cristã fora da Igreja".Embora educada no agnosticismo, viveu intensamente à "espera de Deus". Deus não deve ser tanto procurado como esperado como graça. Essa graça consiste em "morrer para si mesmo", ser "des-criado" e depois "re-criado" em Deus.Nesta espera, foi determinante uma experiência em Portugal em 1935, na Póvoa de Varzim. Ela que sabia o que era o sofrimento, assistindo a uma procissão em honra da padroeira, com velas e cânticos de uma tristeza pungente - "Eu nunca escutei nada mais pungente" -, teve repentinamente "a certeza de que o cristianismo é por excelência a religião dos escravos, que os escravos não podem não aderir a ele, e eu também".Fui reler a sua obra Carta a um Homem Religioso, onde levanta a lista dos obstáculos que a mantiveram fora da Igreja. Tudo se resume nesta afirmação: "A Verdade essencial é que Deus é o Bem. Ele só é a omnipotência por acréscimo." Por isso, "é falsa toda a concepção de Deus incompatível com um movimento de caridade pura. Todas as outras são verdadeiras, em graus diferentes". Os únicos milagres são os do amor, de tal modo que "Hitler poderia morrer e ressuscitar 50 vezes que eu não o veria nunca como filho de Deus". "A forma de pensar de Cristo era a de que devíamos reconhecê-lo como santo porque ele fazia o bem perpétua e exclusivamente."A Igreja centrou-se no dogma, que levou ao anátema e, assim, "estabeleceu um início de totalitarismo". "Os partidos totalitários formaram-se devido ao efeito de um mecanismo análogo ao da fórmula anathema sit. Esta fórmula e o seu uso impedem a Igreja de ser católica, a não ser de nome." A parábola do bom Samaritano "deveria ter ensinado a Igreja a nunca mais excomungar quem quer que fosse que praticasse o amor ao próximo". Só o amor salva: "Qualquer pessoa que seja capaz de um gesto de compaixão pura para com um infeliz (coisa, aliás, muito rara) possui, talvez implicitamente mas sempre realmente, o amor de Deus e a fé."
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Do riso e das lágrimas
Se pudéssemos pelo menos trocar entre as nações, em grande quantidade, os filmes que não constituem uma propaganda agressiva, mas que falam a linguagem simples dos homens e das mulheres simples … isso poderia contribuir para salvar o mundo do desastre”.
Charles Chaplin
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Leitura do dia
Bento XVI, os integristas e a Shoah
Por Inma Álvarez
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa pessoalmente explicou hoje, durante a audiência geral, por que decidiu revogar a excomunhão dos bispos ordenados em 1988 por Dom Marcel Lefebvre, tal como a Santa Sé deu a conhecer no sábado passado, 24 de janeiro.
Foi, explicou, um «ato de misericórdia paterna», em cumprimento do «serviço à unidade» próprio do «ministério do Sucessor de Pedro», e acrescentou que «espera um empenho» por parte destes bispos «para chegar à plena comunhão».
Ao término da audiência geral, e em meio às saudações aos diferentes grupos de peregrinos reunidos na Sala Paulo VI, o próprio Papa leu três comunicados, o primeiro sobre a eleição do novo patriarca de Moscou.
No segundo, o Papa se referiu à revogação da excomunhão dos quatro bispos, recordando algumas palavras da primeira homilia de seu pontificado, nas quais afirmou que é «explícito» dever do pastor «o chamado à unidade».
Referiu-se a suas próprias palavras comentando a passagem evangélica da pesca milagrosa: «’ainda que havia tantos peixes, a rede não se rompeu’, e prossegui após estas palavras evangélicas: ‘Ai de mim, amado Senhor, esta – a rede – agora está arrebentada, queríamos dizer com dor’. E continuei: ‘Mas não – não devemos estar tristes! Alegremo-nos por vossa promessa que não decepciona e façamos todo o possível para percorrer o caminho rumo à unidade que vós prometestes... Não permitais, Senhor, que vossa rede se rompa e ajudai-nos a ser servidores da unidade’».
«Precisamente em cumprimento deste serviço à unidade, que qualifica de modo específico meu ministério de Sucessor de Pedro, decidi há dias conceder a remissão da excomunhão em que haviam incorrido os quatro bispos ordenados em 1988 por Dom Lefebvre sem mandato pontifício», declarou.
O Papa explicou que o motivo deste «ato de misericórdia paterna» foi que «repetidamente estes prelados me manifestaram seu vivo sofrimento pela situação na qual se encontravam».
Contudo, recordou que este ato não supõe ainda a reintegração à comunhão plena e confiou em que, «a este gesto meu siga o solícito empenho de sua parte por levar a cabo ulteriores passos», entre eles «o verdadeiro reconhecimento do magistério e da autoridade do Papa e do Concílio Vaticano II».
Sobre a Shoah
Logo depois, o Papa leu um terceiro comunicado no qual expressou sua firme condenação do Holocausto, e expressou sua solidariedade com o povo hebreu. Nele expressou seu desejo de que «a Shoah seja para todos advertência contra o esquecimento, contra a negação ou o reducionismo».
Com estas palavras, ainda que sem mencionar explicitamente, o Papa saia ao passo das polêmicas declarações de um dos quatro bispos a quem se levantou a excomunhão, Dom Richard Williamson, que havia negado a existência do Holocausto em uma entrevista concedida à televisão sueca.
O próprio Papa quis dar seu testemunho pessoal, recordando «as imagens recolhidas em minhas repetidas visitas a Auschwitz, um dos lugares nos quais se consumou o brutal massacre de milhões de hebreus, vítimas inocentes de um cego ódio étnico e religioso».
As declarações de Dom Williamson haviam sido comentadas nestes dias como «inaceitáveis» e «ignominiosas» por vários cardeais da Cúria Romana, assim como pela Conferência Episcopal Suíça.
Precisamente ontem, Dom Bernard Fellay, superior geral da Fraternidade de São Pio X, emitia um comunicado no qual pedia perdão ao Papa por tais declarações.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Episódios da crise
1º episódio
(...)
2ºepisódio
" (...) envolvendo as expectativas suscitadas pela construção da barragem do Alqueva. Dizia o habitante de uma aldeia vizinha, sentado ao sol, "nada mudou. Continuamos à espera". Continuamos à espera! Das especiarias da Índia, do ouro do Brasil, das remessas dos emigrantes, dos fundos estruturais, do Alqueva. E, agora, do Estado. E, sempre, dos outros. É que nós, verdadeiramente, não podemos fazer nada. Nem termos iniciativa, nem sequer guiar como seres racionais, nem estacionar pensando nos outros, nem evitar deitar lixo para o chão, nem respeitar o património nacional, nem ser solidários com os outros, nem..."
3º episódio
"Outros que, como contava mais uma reportagem, às vezes sofrem de uma doença bem simples: o desamparo da solidão. Idosos, sozinhos, que precisam de uma conversa, de estar com gente. E que, por isso, chamam o INEM, desviando-o da sua missão.
Somemos dois mais dois. O aumento da longevidade fará com que situações como estas se multipliquem. Ao mesmo tempo, aumenta o rol daqueles que recebem subsídio de desemprego ou outro apoio público. Solidariedade com solidariedade se paga. Por que não ocupar uma parte do seu tempo com um "serviço cívico" que não exige outras competências que não carinho e afecto, disponibilidade para ouvir e conversar? Pensando bem sou capaz de estar a ser ingénuo, a pedir o impossível: hoje, esses são atributos difíceis de encontrar..."
sábado, 24 de janeiro de 2009
O Papa no YouTube
Poucos dias depois de o Google ter criado uma ferramenta de pesquisa de sites católicos, já aqui noticiada, o Vaticano colocou em linha o seu canal no espaço de partilha de vídeos online YouTube. A apresentação do canal coincidiu com a divulgação do texto da mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações da Igreja, sob o tema Novas Tecnologias, Novas Relações: Promover a Cultura do Respeito, Diálogo e Amizade. A data não é casual: o lançamento destas iniciativas foi feito na véspera do dia de
O canal – que se pode encontrar no endereço youtube.com/vatican – transmitirá vídeos das actividades do Papa, do Vaticano e da Igreja Católica e será actualizado diariamente. Para já com conteúdos em inglês, espanhol, alemão e italiano, o canal será fornecido por materiais produzidos pelo Centro Televisivo Vaticano e Rádio Vaticana. No canal, há remissões para estes dois meios de comunicação da Santa Sé, bem como para o sítio do Vaticano na net e para o sítio específico do Estado do Vaticano.
O próprio Papa Bento XVI gravou uma mensagem de boas-vindas aos utilizadores do canal e do YouTube. Nela afirma que este novo canal é para estar ao serviço da verdade” e da promoção da compreensão e solidariedade humana. As “tecnologias são uma verdadeira bênção para a humanidade: por isso temos que assegurar que as vantagens que oferecem são postas ao serviço de todas as pessoas e comunidades”, afirma, citado na notícia do Público on line. O Papa alerta ainda os jovens para “uma utilização sensata” das novas tecnologias e para evitar uma obsessão pelo online que os pode isolar da
Espiritualidade e ética na agenda da sustentabilidade do planeta
O padre
Um ritual da água em jeito de oração precedeu a palestra da teóloga americana Emilie Townes, cuja alusão inicial a Barack Obama foi calorosamente aplaudida. O tema da sustentabilidade da terra está inscrito no seu programa de governo. Entre outras medidas, citou a sua determinação em reduzir as emissões de anidrido carbónico.
A teóloga norte-americana esclareceu que “os desastres naturais afinal são desastres criados pelos humanos”. E desenvolveu a sua afirmação com o caso do furacão Katrina, apontando erros e omissões que conduziram ao desastre com as terríveis consequências tristemente conhecidas. A teóloga da Igreja baptista lembrou que “cada um de nós tem de agir para vivermos de uma forma mais sustentável” e respeitadora da criação. Terminou afirmando que “
Por seu lado o teólogo sul-africano, Steve De Gruchy, começou o seu discurso com a apresentação de três casos emblemáticos: da eliminação dos dejectos humanos num bairro do seu país, o problema do abastecimento da água e a epidemia da cólera no Zimbabué, que se difunde pelos países vizinhos. “Como honrar a criação de Deus?”, interrogou o teólogo. Torna-se necessário “pegar na responsabilidade de viver com a água”, agarrando “os políticos pela gravata para que assumam a sua responsabilidade pela água e pela terra”, explicou com uma linguagem forte e imaginativa. “Não se trata apenas de um problema ecológico, mas da maneira como nos relacionamos com os recursos da natureza”. A teologia tem que “se debruçar sobre a cobiça da economia”. (Foto: Elísio Assunção)
Ética e religião na economia
A actual crise económica e financeira tem motivado muitos comentários a propósito da ausência de valores éticos na economia que foram a causa profunda que levou à actual situação. No DN deste sábado,
Perante o estrondo da crise financeira, que está a chegar, avassaladora, à economia real, há da parte de muitos um enorme apelo à ética e aos valores na finança, na empresa e na economia em geral.
Há vantagens nisso, como diz Josef Wieland, professor de Ética: os valores éticos trazem enormes bens à empresa, como, por exemplo, a segurança jurídica; “a reputação da empresa aumenta e ela acaba por receber os melhores e mais motivados colaboradores”. É preciso ter em conta que a corrupção vai recuar e “as regras éticas defendem em todo o mundo os empresários da prisão”.
Não é por acaso que são esperados quatro mil participantes no sexto congresso cristão de empresários e gestores, que se realiza em Düsseldorf, Alemanha, de 26 a 28 de Fevereiro próximo, sob o lema Avançar para a Chefia com Valores. Isto não significa de modo nenhum que a ética empresarial seja um exclusivo dos crentes, mas a fé tem de ter influência no mundo dos negócios.
Na Alemanha, 66% dos empresários dizem acreditar pessoalmente em Deus e, segundo impulse, revista para empresários, no seu número de Janeiro, a união de empresários católicos atingiu o número histórico de mais de 1200 membros e, no caso dos empresários protestantes, o número multiplicou-se em poucos anos por dez, sendo agora 600.
Segundo uma sondagem da Forsa, as normas éticas e morais desempenham um grande papel para 50% dos empresários alemães, sendo interessante verificar que essa normas são mais importantes para os empresários protestantes (58%) do que para os católicos (47%). Segundo a mesma sondagem, da fé derivam deveres: responsabilidade pelos trabalhadores (71%), sinceridade, justiça, lealdade (31%), decisões socialmente compatíveis (18%) e há limites morais para o rendimento pessoal: católicos (62%), protestantes (42%), sem confissão religiosa (56%), empresários em geral (52%).
Haverá contradição entre a fé em Deus e a maximização do lucro? Os crentes em geral respondem: sim (28%), não (68%). Os passos da Bíblia mais citados pelos empresários crentes são: “ama o teu próximo como a ti mesmo”, “o Senhor é o meu pastor” e os dez mandamentos.
Segundo o bispo Wolfgang Huber, presidente do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha, a maximização do lucro e o amor do próximo podem ser compatíveis: “a Igreja não é estranha à realidade”. A responsabilidade económica precisa de ter os pés assentes na terra e a proximidade ao Homem. A presente crise financeira não pôs em causa a economia social de mercado. De qualquer forma, o sistema desequilibrou-se e é preciso corrigi-lo. Quanto à justiça, há um critério importante: “As diferenças na sociedade devem estabelecer-se de tal modo que também as pessoas que se encontram no fundo da escala possam estar convencidas de que o sistema em geral é justo e lhes é favorável também a elas.”
Dos debates tensos de Gerd Kühlhorn com os empresários para impulse, resultaram dez mandamentos para os empresários cristãos, que “talvez sejam um pouco simples, mas certamente mais claros do que todos os fanfarronantes Codes of Conduct”. Aqui ficam:
1. Trata dos negócios de tal modo que a tua empresa tenha um bom lucro. 2. Sê justo com os teus parceiros de negócio. 3. Mostra estima pelos teus colaboradores. 4. Faz negócios prospectivamente e assegura o futuro da tua empresa. 5. Procura parceiros que como tu acreditem em Deus. 6. Cultiva a humildade. 7. Coloca os teus talentos e recursos ao serviço dos outros. 8. Não te percas no trabalho. 9. Reconhece que a tua empresa não te pertence a ti, mas a Deus. 10. Respeita todos os que não partilham a tua fé.
No fundo, como diz o bispo W. Huber, encontramo-nos num “ponto de viragem”. A confiança é “um capital tão importante para a economia como o dinheiro”. Por isso, é preciso que os empresários estabeleçam “um equilíbrio entre a eficiência económica e as consequências sociais do negócio empresarial”.
Afinal, a economia não é fim em si mesma, pois é o Homem que tem de ocupar o centro. Daí, como lembrou Martin Buber, o sucesso não ser “um dos nomes de Deus”. A solidariedade, sim.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
D. Eurico no Concílio Vaticano II - revelações e leituras
- Concílio deveria ter aceitado o diaconado permanente alargado às mulheres
- Qualidade das intervenções dos bispos portugueses no Concílio não foi brilhante
- Episcopado português foi empurrado que apanhou as orientações conciliares.
"Estas coisas demoram tempo, mas muito se avançou, evidentemente. Pensemos na liturgia, por exemplo… Em alguns pontos, poder-se-ia ir mais longe, mas alguns,
mais conservadores, pensam que até se foi demais. Eu entendo, em relação a algumas questões, que até se foi de menos. Por exemplo, a questão do diaconado permanente… Chamar homens casados, para alguns, era demais, mas eu entendo que se foi de menos. Na minha óptica, o diaconado permanente deveria ser alargado às mulheres".
O arcebispo, que defende a convocação de um concílio a cada 50 anos, comenta a fraca qualidade da intervenção dos vários bispos portugueses que intervieram na aula conciliar. Recorre, para tal, a cartas que escreveu, ainda de Roma e que - refere ele- umas foram publicadas e outras não. As suas palavras são esclarecedoras:
«Apesar de um esforço meritório, não pode afirmar-se que a contribuição portuguesa
para o Vaticano II fosse muito brilhante. Exige a verdade que o confessemos. (...) O ambiente em Portugal (…) conservador e tradicionalista, e o nosso próprio temperamento determinaram um estado de espírito que nos levou a reagir, no início, contra uma orientação que se revelou maioritária na assembleia conciliar».
Interrompe a leitura da carta para comentar:
"De início, face a certas intervenções da Cúria, nós agarrávamo-nos à Cúria, enquanto
a grande maioria do episcopado ia noutra direcção, a que depois aderimos. Mas fomos empurrados. A princípio, houve muitas intervenções reaccionárias. E continuava a carta:
«Encontramo-nos muito longe do centro da Europa e as ideias novas, apesar da aviação, da rádio e da televisão, demoram a chegar ao extremo ocidental da Península» (risos).
Mais adiante:
«Daí que se olhassem, a princípio, quase com escândalo, certas posições que, com o tempo, acabaram por ser aceites quase sem reservas». Isto escrevi eu de lá, antes do Concílio ter terminado…»
[Crédito da foto: aqui]
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
"Que todos sejam um"
A este propósito, a agência Zenit, que evoca estes factos, cita o Pe. Michel Remaud, director do Instituto Cristão de Estudos Judeus e de Literatura Hebraica de Jerusalém, o qual esclarece que «todo o debate suscitado por esta decisão se concentrou em uma palavra que não aparece no texto, ‘conversão’», e que «pedir a Deus que ilumine os corações é uma coisa, e pressionar as pessoas para tentar convencê-las é outra. A diferença é mais que de matiz».
Por isso, adianta a agência, o Pe. Remaud propõe este questionamento «mais fundamental»: se o cristão considera Jesus como «o Salvador de todos os homens» e expressa esta convicção em sua liturgia, pode-se impedir seu diálogo com quem não compartilha sua fé?
A leitura que Zenit faz esquece que durante séculos os judeus foram considerados, nos meios católicos como "pérfidos", precisamente por lhes ser imputada a morte de Jesus. Este dado estava profundamente enraizado na cultura católica e não é por acaso que, entre outros, o Abade de Baçal, nas suas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, tenha sentido necessidade de dedicar perto de uma centena de páginas a desmontar os argumentos contra os judeus. A História de Portugal (e não só de Portugal) é, de resto, rica em factos, muitos deles tenebrosos, de perseguição e expulsão.
Contudo, os comentários do director do Instituto Cristão de Estudos Judeus e de Literatura Hebraica de Jerusalém suscitam reflexões várias, que podem ser consideradas relevantes para o diálogo inter-religioso, especialmente numa semana voltada para a unidade dos cristãos.
Se os cristãos consideram Cristo «o Salvador de todos os homens», isso significa que também salva os judeus, tal como os muçulmanos, os hindus, os ateus, os indiferentes às religiões... Porquê, então, direccionar a oração para os judeus? Não será ainda um vestígio do velho parti-pris?
«Pedir a Deus que ilumine os corações é uma coisa, e pressionar as pessoas para tentar convencê-las é outra. A diferença é mais que de matiz», observa o P. Remaud. Mas porque havemos de pedir a Deus que ilumine uns corações em especial? E os nossos próprios corações? E que dizer daqueles que têm o seu próprio «o Salvador de todos os homens» e que talvez também tenham o direito de pedir a Deus que nos ilumine?
Está visto que esta construção só se aguenta se considerarmos que a verdade está do nosso lado e que a única possibilidade de verdade do outro reside na convergência para a nossa verdade.
Quem acredita que Jesus é "o caminho, a verdade e a vida" deveria acreditar também que esse caminho vale por si, se manifesta num verdadeiro encontro que reconhece a alteridade do outro. É esse outro que, a partir da sua história, das suas buscas e dos seus encontros, haverá de descobrir o caminho que quer percorrer. O sinal de Deus que os cristãos são para ele pode ser um facto que venha a desabrochar e a adquirir significado na sua vida. E vice-versa. Essa é a riqueza dos filhos de Deus.
Não julgo que isto seja relativismo. Como pode sê-lo se radica numa atitude de escuta e de caminho com o outro?
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Obama: Invocação
Let us pray.
Almighty God, our Father, everything we see and everything we can’t see exists because of you alone. It all comes from you. It all belongs to you. It all exists for your glory.
History is your story. The Scripture tells us, “Hear O Israel, the Lord is our God. The Lord is One.” And you are the compassionate and merciful one. And you are loving to everyone you have made.
Now, today, we rejoice not only in America’s peaceful transfer of power for the 44th time. We celebrate a hingepoint of history with the inauguration of our first African American president of the United States. We are so grateful to live in this land, a land of unequaled possibility, where the son of an African immigrant can rise to the highest level of our leadership. And we know today that Dr. King and a great cloud of witnesses are shouting in heaven.Give to our new President, Barack Obama, the wisdom to lead us with humility, the courage to lead us with integrity, the compassion to lead us with generosity. Bless and protect him, his family, Vice President Biden, the cabinet, and every one of our freely elected leaders.
Help us, O God, to remember that we are Americans, united not by race, or religion, or blood, but to our commitment to freedom and justice for all. When we focus on ourselves, when we fight each other, when we forget you, forgive us. When we presume that our greatness and our prosperity is ours alone, forgive us. When we fail to treat our fellow human beings and all the earth with the respect that they deserve, forgive us. And as we face these difficult days ahead, may we have a new birth of clarity in our aims, responsibility in our actions, humility in our approaches, and civility in our attitudes, even when we differ.
Help us to share, to serve and to seek the common good of all. May all people of good will today join together to work for a more just, a more healthy and a more prosperous nation and a peaceful planet. And may we never forget that one day all nations and all people will stand accountable before you. We now commit our new president and his wife, Michelle and his daughters, Malia and Sasha, into your loving care.
I humbly ask this in the name of the one who changed my life, Yeshua, Isa, Jesus [Spanish pronunciation], Jesus, who taught us to pray:
“Our Father, who art in heaven, hallowed be thy name. Thy kingdom come. Thy will be done on earth as it is in heaven. Give us this day our daily bread and forgive us our trespasses as we forgive those who trespass against us. And lead us not into temptation, but deliver us from evil. For thine is the kingdom and the power and the glory forever. Amen.”
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Santa Sé diz na ONU que vítimas civis não são um mero efeito colateral
O embaixador do Vaticano afirmou que, nos últimos tempos, “a segurança dos civis nos conflitos está-se fazendo cada vez mais crítica, por vezes mesmo dramática, como tem sucedido na Faixa de Gaza, no Iraque, Darfur e na República Democrática do Congo”. Migliore apelou por isso à garantia da “protecção de civis através de um maior respeito das normas do direito internacional”. O que exige três pilares fundamentais: “Acesso humanitário, protecção especial para as crianças e mulheres, assim como o desarmamento”.
“O terrível maltrato de civis em tantas partes do mundo não parece um mero efeito da guerra”, afirmou. “Vemos civis que são convertidos deliberadamente em meios para alcançar objectivos políticos ou militares.” E deu exemplos: “Quando as mulheres e as crianças são usadas como escudo de combatentes; quando se nega o acesso humanitário à Faixa de Gaza; quando no Darfur as pessoas são expulsas e as aldeias destruídas; quando vemos a violência sexual que destrói a vida de mulheres e crianças na República Democrática do Congo.”
“A protecção dos civis exige não apenas um renovado compromisso para aplicar o direito humanitário, mas requer em primeiro lugar e sobretudo boa vontade política e acção”, acrescentou o arcebispo. Requer ainda “líderes que exerçam o direito de defender seus próprios cidadãos ou o direito à autodeterminação, recorrendo apenas aos meios legítimos”.
O representante da Santa Sé disse que o crescente aumento das vítimas civis na guerra se deve também “à produção massiva e contínua inovação e sofisticação de armamentos”. “A maior qualidade e distribuição de arma de pequenos calibre e de armas leves, assim como as minas terrestres e as bombas de fragmentação fazem com que seja muito mais fácil e eficaz o assassinato de seres humanos.”
Nessa medida, saudou como uma boa notícia a adopção da Convenção sobre as Bombas de Fragmentação e apelou a que os países ratifiquem este tratado “como uma prioridade e um sinal de compromisso para enfrentar o drama das vítimas civis”.
(Fonte: www.zenit.org)
domingo, 18 de janeiro de 2009
Desasossegos
Que o Patriarca tenha desassossegado a comunidade muçulmana, a propósito do casamento de jovens católicas com muçulmanos, por causa dos “sarilhos” em que se podem meter, é um aviso de pastor responsável. Não deveria, no entanto, esquecer o que se passa
(Frei
sábado, 17 de janeiro de 2009
Invertebrados?
(Vasco Pulido Valente. Público, 17.Janeiro.2009)
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
O que é acolher
Num esclarecimento sobre o discurso feito na abertura do Congresso de Teologia Pastoral do México, o cardeal Ennio Antonelli, presidente do Conselho Pontifício para a Família, profere afirmações como estas:
"O exercício da homossexualidade não reflecte a verdade da amizade. A amizade é inerente à condição humana, na qual se dão relações de proximidade, apoio e cooperação, num clima cortês e afável. A amizade deve ser vivida na castidade. "
"Toda a pessoa que tem dificuldade para viver rectamente a sexualidade está chamada a encontrar-se com Cristo e a viver, em consequência, de acordo com as exigências da liberdade e a responsabilidade da fé, da esperança e da caridade. Ao contrário, é contrário à verdade da identidade humana e ao desígnio de Deus viver uma experiência homossexual, uma relação deste tipo, e mais ainda pretender reivindicar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. São contrários aos verdadeiros interesses das pessoas e às necessidades da sociedade. Constituem uma transgressão do sentido do amor tal como Deus nos revelou através da mensagem de Cristo, da qual a Igreja é servidora, como expressão da caridade aos homens e mulheres do nosso tempo. "
Como é possível entrar-se neste terreno que consiste em decidir se "o exercício da homossexualidade" reflecte ou não a verdade da amizade? Eu julgo que não podem ser só aqueles que têm dificuldade para "viver rectamente a sexualidade" que são chamados a "encontrar-se com Cristo e a viver, em consequência, de acordo com as exigências da liberdade e a responsabilidade da fé, da esperança e da caridade". Todos são chamados. E gostava de saber quem não vive dificuldades nesta matéria.
A minha pergunta é ainda outra: que sentido pode ter para uma pessoa homossexual a Igreja dizer-lhe que a acolhe se não a reconhece na sua diferença e se acolhê-la significa fazer-lhe sentir que não vive rectamente, que a experiência de amor que eventualmente vive não é verdadeira?
Acolher, é verdade, não é aceitar tudo o que o outro é ou pensa. Mas tem de passar por ouvi-la, conhecê-la, dar e dispor-se a receber dela. Ora esta atitude de abertura e de caminho conjunto é algo que parece estar distante do tom do discurso do cardeal.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
«Todos te procuram»
Heb. 2,18
De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração.
Simão e os que estavam com Ele seguiram-no.
E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.»
Mc 1,29-39
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Uma campanha … fraca
Um grupo de ateus entendeu lançar uma campanha publicitária através dos autocarros londrinos (a que “aderem”, pelos vistos, os “autobus” de Barcelona e, brevemente, os de Madrid e de Itália) para dizer que provavelmente Deus não existe e que é melhor gozar a vida, despreocupadamente. Reconhecendo que os ateus devem ter a mesma liberdade de expressão que os crentes (e vice-versa), dois motivos de reflexão me suscita a iniciativa.
Não deixa de ser interessante constatar a cautela com que aventa que Deus não existe. Se “provavelmente” Deus não existe, pela mesma lógica, provavelmente Deus existe. Por aqui, portanto, estamos conversados.
Por outro lado, nenhuma companhia de aviação ousaria lançar uma operação pública para seduzir os consumidores a utilizar os seus voos após uma catástrofe aérea. Ora, que sentido faz anunciar às pessoas que podem esquecer essa ‘coisa’ de Deus e gozar a vida, se o estrondo da crise ecoa e perpassa por todo o lado, deixando o comum dos mortais inquietos?
Entendo, por isso, que, pela substância e pelo contexto, a campanha não está famosa.
Mas ver estes ateus em acção e a ligar a crença ao desprazer e à tristeza de vida é matéria sumarenta para o jornalismo dominante que dá cartas nas nossas redacções. Como soe dizer-se, o assunto tem todos ou quase todos os ingredientes para ser noticiado e explorado até à exaustão. Dá imagens interessantes e títulos chamativos. Suscita ainda o gozo – não a fruição para que aponta a campanha, mas a chacota, que é o nível a que alguns meios jornalísticos conseguem chegar, em matéria de cultura religiosa.
sábado, 10 de janeiro de 2009
Sobre os meios para sair da crise
"(...) Chacun s'interroge sur les moyens de sortir de ces crises. Faut-il réformer le système de fond en comble ? Faut-il rénover ce qu’on appelle capitalisme ou libéralisme ? Les réponses à ces questions dépendent du diagnostic porté sur toutes ces crises. S'il y avait incompétence, les responsables doivent être sanctionnés et des mesures doivent être prises pour qu'une telle débâcle ne se reproduise pas.
Si le diagnostic est davantage d'ordre moral, les solutions se trouveront alors dans les orientations prises par les responsables économiques et financiers, comme dans les choix que chacun de nous peut faire en misant sur une solidarité forte avec la communauté humaine à laquelle nous appartenons (celle d’hier et celle de demain), plus que sur l’assurance de profits personnels.
Ce qui pose une fois encore le problème de notre démocratie, de nos capacités de vivre ensemble, de notre volonté de régler nos comportements sur les nécessités de la vie commune. Chacun se sent totalement libre de faire ce qu'il entend, de dépenser tant que la chose n'est pas illégale. Mais va-t-on légaliser la prudence, la tempérance et la maîtrise de son style de vie, qui apparaissent de plus en plus comme la vraie solution à beaucoup de nos problèmes actuels ?
Sur ce point, les évêques français avaient eu une intuition prémonitoire en proposant un texte de réflexion en 1982 intitulé, « Pour de nouveaux modes de vie ». Ils s’étaient fait fortement rabrouer sous l’accusation de ne pas favoriser la production et le dynamisme économique, mais seulement le partage. N’avaient-ils pas finalement raison d’en appeler à ce questionnement sur la manière de vivre ?
Nous avons vraiment créé un monde étrange, dont l’on ne cesse de dire qu’il va mal, qu’il est en crise, qu’il faut mettre des règles et poser des limites. Mais embarqués dans la course en avant du progrès, nous ne posons jamais la question des risques et des finalités. Nous cloisonnons les activités pour les rendre plus efficaces. Mais elles perdent leurs sens et leurs buts dans la complexité que nous avons organisée. Où sont passées les finalités du vivre ensemble ? De la finalité, viendrait une morale : il y a des actes immoraux en économie. Mais de l’économie, on a réussi à évacuer la morale pour s’en remettre à la compétence. Les professeurs d’économie nous disent doctement que la crise est le fruit de l’incompétence, pas d’un déficit de morale. Or c’est bien de cette absence de morale économique dont il faut commencer à sortir.
Sur tous ces sujets, l'Eglise n'a cessé de parler depuis bien longtemps déjà en invitant à réfléchir et à pratiquer cette maîtrise de l’économie. Dans ses encycliques sociales, notamment dans Sollicitudo rei socialis en 1986, Jean Paul II a « dénoncé l’existence de mécanismes économiques, financiers et sociaux, qui bien que menés par la volonté des hommes, fonctionnent souvent d’une manière quasi automatiques. » (n°16)
La sortie de crise passe par une reprise en main de nos systèmes économiques avec une réelle attention au bien commun. Et pourquoi ne pas refonder de nouveaux liens de solidarité, avec une attention aux plus fragiles et un peu plus de compassion pour tous ceux qui nous entourent et pour l'humanité, les ressources de la planète n’étant pas illimitées ? (...)"
sábado, 3 de janeiro de 2009
Google católico !
Não, não se trata de uma conversão do principal motor de busca ao catolicismo. Nem mesmo mais uma frente de negócios daquela conhecida empresa norte-americana. CatholicGoogle é uma ferramenta de busca que recorre às capacidades e competências do Google, mas que funciona autonomamente.
Assume-se como uma via de "pesquisa segura", valorizando particularmente websites católicos e eliminando conteúdo considerado contrário à doutrina católica (com excepção, para já, da publicidade - mas também nesta matéria os responsáveis desta iniciativa dizem estar a trabalhar com os engenheiros da Google para resolver o problema).
Actualização: Os autores da iniciativa do Catholic Google são, segundo o jornal La Croix, dois comerciantes britâncos que vivem em França, perto de Lourdes. E o site que criaram limita-se, afinal, a recorrer a uma ferramenta - Safe Search - que o próprio Google criou,a fim de permitir contornar o acesso a conteúdos pornográficos.
Providência e Economicídio
Antes, era a Providência divina. Deus, no seu saber, bondade e poder infinitos, governa o mundo, e a Humanidade está sob a sua protecção. Mesmo quando a dor, a desgraça e a morte se abatem sobre os seres humanos, deve-se confiar, pois Deus tudo dirige segundo o seu desígnio. Aliás, Leibniz escreveu a sua Teodiceia precisamente para, como diz a própria palavra, justificar Deus perante a razão, por causa do mal do mundo. A justificação é: sendo Deus omnisciente, omnipotente e infinitamente bom, este é o melhor dos mundos possíveis.
Hegel de algum modo secularizou a teodiceia, substituindo-a pela historiodiceia: a História autojustifica-se, pois ela é a manifestação e realização do Espírito Absoluto no seu autodesenvolvimento dialéctico, a caminho da plena autoconsciência. A negatividade é momento do processo e a "astúcia da Razão" consiste em colocar mesmo o particular e negativo ao seu serviço. Se a historiodiceia toma o lugar da teodiceia, a Razão na sua astúcia substitui a Providência.
Na economia, a teodiceia e a historiodiceia são substituídas pela mercadodiceia - o mercado justifica-se a si mesmo. Entregue livremente a si próprio, o mercado fará com que, apesar de cada um procurar o seu interesse, tudo convirja para o maior bem de todos. Nele, habita a Providência, agora com o nome de "mão invisível", como disse Adam Smith.
Mas Kant chamou a atenção para o "falhanço" da teodiceia: como pode a razão finita justificar Deus? A "astúcia da Razão" não é suficientemente forte para assumir as negatividades improdutivas. Quanto à "mão invisível", deixou mesmo de se ver. Quem tinha dúvidas esbarrou agora com a evidência. O antigo presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos Alan Greenspan recuou na fé de 40 anos: "Cometi um erro ao confiar que o mercado livre pode regular-se a si próprio sem a supervisão da Administração."
A crise está aí, imensa, imprevisível. Começou com o sistema financeiro e está a chegar, à maneira de tsunami, à economia real, e teme-se um economicídio.
Agora que o mundo do negócio se afunda, é tempo de parar no ócio - quantos se lembram que a palavra escola vem do grego scholê, que significa ócio, não no sentido de preguiça, mas de liberdade para pensar? -, precisamente para pensar.
Quando se pensa, percebe-se que afinal não há alternativa à economia de mercado, mas ela tem de ser economia social e ecológica de mercado, acentuando os dois adjectivos: social e ecológica. Economia quer dizer etimologicamente lei da casa; ora,
Quando se pensa, vê-se claramente a urgência de apelar para a necessidade da regulação e da ética no universo da finança e da economia. Ética - mais uma vez, segundo o étimo grego - tem a ver com o comportamento que se deve ter para habitar
Quando se pensa, espera-se que a justiça funcione. De facto, houve incompetência, aventuras especulativas irresponsáveis e também se fala em corrupção e crimes vários. Sem justiça, como repor crédito e confiança no sistema? Problema maior: quantos acreditam e confiam real e verdadeiramente na justiça em Portugal?
Pensando bem, precisamos de distribuição mais justa da riqueza - não se lia há dias no DN que "os rendimentos dos presidentes executivos das 50 maiores empresas europeias equivalem a 441 salários mínimos da Zona Euro"? Não continua também entre nós a cavar-se cada vez mais fundo o abismo entre a ostentação obscena da riqueza e a iniquidade cruel da pobreza?
Quando se pensa a fundo, talvez se conclua que é tempo de pôr mais o acento na cultura do ser do que na cultura do ter. E não será urgente viver com mais moderação - de mederi, donde vem também meditação e medicina?
E torna-se absolutamente claro que está aí o tempo da solidariedade. Se não for por humanidade, ao menos por egoísmo esclarecido. De facto, a acumulação sucessiva de frustração, impotência, fome, degradação, injustiça, pode levar a confrontos sociais de consequências imprevisíveis.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Ano Novo - O tempo, nas pequenas como nas grandes coisas
Ouvi dizer a um certo homem douto que o tempo não é senão os movimentos do sol, da lua e das estrelas, e eu não concordei. Porque não serão antes os tempos os movimentos de todos os corpos? Será que, se as luzes do céu parassem e continuasse a mover-se a roda do oleiro, deixaria de haver tempo com que medíssemos as suas voltas e disséssemos, ou que se move durante instantes iguais, ou que umas voltas são mais longas e outras menos, se a roda se movesse umas vezes mais vagarosamente e outras mais velozmente? Ou, dizendo isso, não falaríamos também nós no tempo, ou não haveria nas nossas palavras umas sílabas longas, outras breves, a não ser porque aquelas ressoam durante um tempo mais longo e estas durante um tempo mais breve? Ó Deus, concede aos homens a possibilidade de observarem nas coisas pequenas as noções comuns às pequenas e às grandes coisas.
(Santo Agostinho, Confissões, Livro XI, XXIII, 29; ed.