A
eleição de Jorge Mario Bergoglio como Papa Francisco após um curto conclave de
cinco votações teve já vários sinais do que pode ser este novo pontificado: o
primeiro programa deste homem está no nome: foi preciso um jesuíta para
homenagear a figura de Francisco de Assis no nome escolhido para Papa. Nem
sequer Francisco Xavier, o grande evangelizador do Oriente, também jesuíta como
Jorge Bergoglio, esteve presente no momento da escolha do nome, sabemos já,
pelas informações dadas há pouco mais de uma hora pelo patriarca de Lisboa a um
grupo de jornalistas portugueses.
Segundo
sinal: a forma como Francisco se apresentou na loggia da basílica de São Pedro
foi de um contraste absoluto com a formalidade, o ritual, a pompa e a
ostentação que predominam ainda no Vaticano. Vestido apenas com a batina
branca, o novo Papa recusou as restantes vestes que lhe estavam preparadas,
confirmou também o patriarca de Lisboa.
O
pedido de que os fiéis presentes na praça rezassem a Deus pelo Papa, recebendo
assim a bênção da multidão, foi o terceiro sinal desta ruptura que a Igreja
Católica vive deste há um mês. “Servo dos servos de Deus” era um dos títulos
antigos que o Papa usava, talvez o único que deveria ser utilizado. Francisco é
um servidor da comunidade e não o seu chefe. Como servidor, deve propor
dinâmicas, escutar e traçar orientações. Quem se inclina para pedir a bênção
está claramente à escuta da presença de Deus no meio do seu povo.
Quarto:
o Papa Francisco nunca se referiu a si mesmo – nem a Bento XVI – como Papa, mas
como bispo de Roma. E disse que esta Igreja (a de Roma) preside às outras na
caridade. Tal referência remete para a primeira metade da história do
cristianismo. E traz ao de cima a necessidade e urgência de rever o modelo do
papado, mais de acordo com essa tradição dos primeiros séculos, do que com o
peso que o último milénio e sobretudo o Renascimento e a Contra-Reforma lhe
deram. Uma atitude destas irá, na sequência da encíclica Ut Unum Sint, de João
Paulo II, provocar finalmente o debate sobre o lugar do bispo de Roma como
“primus inter pares” na Igreja universal e já não como o chefe supremo, a quem
todos devem obediência. “Agora, começamos este caminho: bispo e povo”, disse
Francisco. Esta frase está no oposto do modelo do papado que tem predominado
nos últimos séculos.
Finalmente,
a referência à humanidade como uma “grande irmandade” ou “grande fraternidade”.
Tudo
está por fazer e um Papa não muda uma Igreja. Mas os primeiros sinais são de
muita esperança. Esta eleição é apenas o começo de uma mudança urgente.
(Foto: a Praça de São Pedro no primeiro dia do conclave; cedida por Andrés Gutierrez)
(Foto: a Praça de São Pedro no primeiro dia do conclave; cedida por Andrés Gutierrez)
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