O
novo Papa – ou bispo de Roma, como ele gosta de se referir a si mesmo – ainda
não proferiu a homilia “programática” da missa de início do pontificado, o que
acontecerá terça-feira. Mas Francisco deixou já largos sinais do que será a sua
missão. A começar, claro, pela escolha do nome, que ele mesmo afirmou inspirar-se
em Francisco de Assis (poderia ser também o jesuíta Francisco Xavier,
evangelizador do Oriente, e Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, mas
ele referiu já por duas vezes que era apenas o “poverello” a sua inspiração). Sábado,
na audiência aos jornalistas que vieram a Roma para acompanhar a Sede Vacante,
o Conclave e o início do novo pontificado, exclamou: “Ah, como queria uma
Igreja pobre e dos pobres!”
Enunciado
este que é já um vasto programa, que surpresas nos trará este novo Papa? No La
Stampa deste domingo, o prior da comunidade de Bosé, Enzo Bianchi, escreve que
Francisco é um Papa “que se fez homem” e cujas intervenções são “actos de
linguagem”. Diria que a própria maneira como este homem se apresenta e saúda
qualquer pessoa é em si um acto de linguagem, de uma Igreja que deve estar
próxima e despojada.
Acaba
de o fazer esta manhã, após a missa na paróquia do Papa, que se encontra dentro
do Vaticano: no final veio para a porta saudar uma a uma as pessoas que lá
estiveram, sempre bem disposto, sempre sorridente (memórias de João XXIII e
João Paulo I), sempre próximo. No final do Angelus, despediu-se como qualquer
amigo se despediria: “Bom domingo e bom almoço.” E, pelo meio, ainda fez humor: ao citar um livro do cardeal Walter Kasper sobre a misericórdia, acrescentou: "Não pensem que faço publicidade aos livros dos meus cardeais."
Na
missa de início de pontificado na terça-feira ou no encontro de quarta-feira com
os “delegados fraternos” das outras confissões cristãs, não me espantaria se o
Papa Francisco anunciasse alguma iniciativa que continuasse os actos de
linguagem destes primeiros dias: um gesto simbólico para com os protestantes e
ortodoxos, um processo conciliar ou sinodal da Igreja Católica ou uma decisão que
concretizasse a ideia do despojamento e a pobreza enunciada no nome de
Francisco.
Num
outro texto da imprensa italiana desta manhã, o cardeal Gianfranco Ravasi
escreve no Il Sole 24 Ore que o Papa dedicará o seu pontificado a “sair para o meio
das pessoas, deixar os limites do tempo e misturar-se nas redes globais”. E
acrescenta que as culturas juvenis, as questões pesadas da bioética no campo
científico e o a “interculturalidade multiforme que se baseia no diálogo e no
confronto” estarão também na agenda deste pontificado.
Sem comentários:
Enviar um comentário