A história vem hoje no jornal espanhol Religion Digital. O Cardeal Bergoglio fez uma intervenção numa das reuniões do colégio dos cardeais, na fase pré-conclave. O seu colega Cardeal Jaime Ortega, de Cuba, ficou entusiasmado com o que ouviu e perguntou àquele que viria a ser o futuro Papa se tinha algum texto escrito. Bergoglio disse que não, mas, entretanto, redigiu umas notas e entregou-lhas, dando autorização para que as utilizasse. A mesma autorização viria a reiterar, uma vez eleito para o exercício do ministério petrino. Jaime Ortega revelou estes episódios numa liturgia que ocorreu no sábado passado em Havana. Entretanto, a revista da diocese, Palabra Nueva, publicou esse documento que é, sem dúvida, importante e que aqui damos em tradução para português (conferir com o original aqui):
"Foi feita referência à evangelização. É a razão de ser da Igreja. - "A doce e reconfortante alegria de evangelizar" (Paulo VI). - É o próprio Jesus Cristo, que, de dentro, nos impulsiona.
1 - Evangelizar supõe zelo apostólico. Evangelizar supõe para a Igreja a ousadia de sair de si mesma. A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir para as periferias, não só geográficas, mas também existenciais: as periferias do mistério do pecado, da dor, da injustiça, da ignorância e desprezo rleativamente à religião, do pensamento e de toda a miséria.
2 - Se a Igreja não sair de si mesma para evangelizar torna-se auto-referencial e, em seguida, fica doente (cf. a mulher do evangelho, dobrada sobre si própria) . Os males que, ao longo do tempo, se verificam nas instituições eclesiais têm raíz na auto-referencialidade, uma espécie de narcisismo teológico. No Apocalipse Jesus diz que ele está à porta e chama. Obviamente, o texto refere-se ao bater de fora da porta para entrar ... Mas penso também nas vezes em que Jesus bate do lado de dentro para que o deixemos sair para fora. A Igreja auto-referencial busca Jesus Cristo dentro de si e não o deixa sair.
3 - Quando é auto-referencial, a Igreja, involuntariamente, acredita ter luz própria, deixa de ser mysterium lunae e dá lugar a esse mal tão grave que é o mundanismo espiritual (que, de acordo com de Lubac, é o pior mal que pode acontecer à Igreja). Esse é um viver em que uns glorificam os outros. Simplificando, há duas imagens da Igreja: a Igreja evangelizadora que sai de si - a Dei Verbum religiose audiens et fidenter proclamans; ou Igreja mundana que vive em si, de si e para si. Isto deve lançar luz sobre as possíveis mudanças e reformas que devem ser feitas para a salvação das almas.
4 - Pensando no próximo Papa: [que seja] um homem que, a partir da contemplação e adoração de Jesus Cristo, ajude a Igreja a sair de si para as periferias existenciais, que a ajude a ser mãe fecunda que vive da "doce e reconfortante alegria de evangelizar ".Notas:
- No ponto 2, foi usada a expressão 'sair para fora'. É óbvio pleonasmo, mas pareceu que, no contexto, dava força à ideia.
- No ponto 3, a expressão latina mysterium lunae é uma forma metafórica de referência à Igreja que, tal como a lua, não tem luz própria, recebe-a do sol que é Cristo.
- Dei Verbum religiose audiens et fidenter proclamans [escutando piedosamente a Palavra de Deus e proclamando-a com confiança] é a abertura, da versão em latim da Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina, do Concílio Vaticano II.
(Crédito da foto dos apontamentos do Papa: Valores Religiosos)
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