terça-feira, 12 de novembro de 2013

Do inquérito sobre a família ao uso da razão e à pergunta "para onde?"

Crónicas

Nas crónicas do fim-de-semana último, o Papa e o inquérito de preparação do Sínodo dos Bispos sobre a família foram tema de algumas crónicas dos jornais. Na sexta, no Correio da Manhã, Fernando Calado Rodrigues concluía:
Não se prevêem mudanças na doutrina católica sobre o matrimónio e a família, mas é razoavelmente seguro que a forma da Igreja lidar com estas questões não será a mesma depois deste Sínodo.
O texto pode ser lido aqui na íntegra.

Já antes, no Expresso, Daniel Oliveira falava da “reevangelização benigna de Francisco”:
Dirão que, sendo eu ateu, nada que diga respeito à Igreja Católica e ao Vaticano me deveria interessar grandemente. Mas interessa-me muito. Vivemos num tempo de domínio duma corrente cultural (e ideológica) que valoriza o individualismo levado até às suas últimas consequências. Ela alimenta-se da destruição de todas as redes estáveis de solidariedade e pertença, elogiando cada individuo que, solitariamente, se exponha ao risco absoluto e desprezando todos os que acreditam na capacidade coletiva de interajuda. (...) Esta moral dominante, pela desintegração social e moral que promove, é inimiga da Igreja Católica e da manutenção do seu próprio poder social, político e espiritual. E, por razões diferentes, é inimiga dos que, como eu, defendem uma sociedade baseada num espírito igualitário e na mutualização do risco. O que faz das áreas de pensamento em que me situo e de uma igreja empenhada em pôr travão ao que considero ser a maior regressão civilizacional em alguns séculos, bem representada por este Papa, potenciais aliadas nas atuais circunstâncias.

No domingo, no Público, frei Bento Domingues defendia que é necessário “Enterrar o tridentinismo”:
G. Alberigo julgava que o tridentinismo tinha morrido no Vaticano II. De facto, ressuscitou nos anos 80, com as chamadas proposições irreformáveis do magistério, mesmo quando não traziam o certificado da “infalibilidade”. É a teologia que sofre e imigra. Espero que tenha sido das últimas décadas de esterilidade teológica.
Ao que parece, o Papa Francisco quer voltar a dar a palavra a todos os católicos e ouvir todas as pessoas de boa vontade.
(o texto pode ser lido aquina data de 10 de Novembro de 2013)

Também no Público, Laura Ferreira dos Santos questionava o método que irá ser escolhido pelos bispos para ouvir os crentes:
Este não é um inquérito qualquer. Se passar à margem dos católicos individuais, penso que desse modo se atraiçoarão as próprias intenções de Francisco, assim como as de tantos católicos que, através dele, sentem mais próxima de si a ternura de Cristo. Como afirma Thomas Reese no National Catholic Reporter do passado dia 7, Francisco já perguntou, noutro contexto: “Será que os conselhos diocesanos e paroquiais possibilitam verdadeiras oportunidades para que os leigos participem no aconselhamento, organização e planeamento pastorais?”.
(texto completo aquina data de 10 de Novembro de 2013)

No sábado, no DN, Anselmo Borges voltava-se para a questão da razão e defendia que “Não é bom descer abaixo da razão”:
Mas que tantas vezes se desce abaixo da razão – disso não há dúvida. Exemplos quotidianos um pouco a esmo. Não é segundo a razão, enquanto um banco se afundava a ponto de ter de fechar, haver salários milionários para alguns. Não está de acordo com a razão a austeridade não ser equitativa: continuam as mordomias, os privilégios, o número de multimilionários aumenta. Não é segundo a razão ter vivido na euforia gastadora irracional e esbanjar recursos à toa ou para vantagem apenas de alguns, espoliando o bem comum. Não é segundo a razão ter aberto instituições de ensino superior de modo cego. 

No seu comentário às leituras da liturgia católica de domingo, Vítor Gonçalves perguntava: “Para onde?”:
Já pensámos que cada um de nós, pelas escolhas que assume, vai também construindo o futuro? Que as mudanças mais importantes começam dentro de cada um de nós? E que, no fundo, a verdadeira transcendência não tem tanto a ver com “o mais acima”, ou “o mais além”, mas “o mais dentro” das pessoas e da vida? Podemos ter mil e uma ideias de como Deus é; Jesus insiste: “é um Deus de vivos”! Com todas as consequências que isso implica de responsabilidade e surpresa!





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