Agenda
– Cinema
Há
um monge que é o médico da
aldeia, recebendo as pessoas com as suas queixas e as suas solidões. Há outros
que regam e cultivam o jardim. Outros que se limitam a sobreviver ao peso dos
anos e de uma vida já muito dada. E há a
violência e o terrorismo a cercar esses monges que rezam, que trabalham e que,
sobretudo, fazem sua a vida das pessoas simples da aldeia.
Hoje,
o filme Dos Homens e dos Deuses – é
dele que se fala – passa em Coimbra, numa sessão organizada pela Comunidade de
Acolhimento Cristão João XXIII e pelo grupo TEAR (Tecer a Espiritualidade
coma Arte e a Reflexão), do Instituto
Universitário Justiça e Paz. A sessão conta com a presença de Pedro Mexia,
cronista do Expresso e ex-director da Cinemateca, e realiza-se a partir das 21h30,
no auditório do Museu do Mosteiro Velho de Santa Clara, em Coimbra.
Realizado
por Xavier Beauvois, em 2010, o filme narra a história dos últimos meses dos
monges de Tibhrine, qur foram raptados do mosteiro e depois
assassinados, em 1996, em circunstâncias ainda por esclarecer.
Escrito
e preparado muito a partir dos diários do irmão Christophe Lebreton, o filme
tem vários momentos altos. Um deles mostra os monges numa Última Ceia,
celebrada na noite de Natal, alegres e contentes com essa coisa simples que é
conversar, comer e beber juntos.
A
música, da cena final d’O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, remete para a
convicção e a dúvida, a solidão e a comunidade, a alegria e a angústia.
Há
um ano, Henri Teissier, arcebispo de Argel entre 1988 e 2008, que também foi ameaçado
de morte durante os anos de chumbo da guerra civil no país (1992-1998), esteve
em Portugal para apresentar uma pequena biografia do irmão Christophe Lebreton,
um dos sete monges do mosteiro cisterciense de Tibhrine que foram executados. No
livro Christophe Lebreton – Monge, Mártir
e Mestre Espiritual para os Nossos Dias (Consolata
Editora), Teissier explica como o pequeno diário do irmão Christophe é um
precioso testemunho de um itinerário espiritual e apostólico único.
Christophe Lebreton recebera de presente,
três anos antes de morrer um pequeno caderno que converteu num diário
espiritual. Foi esse livro de escritos do irmão Christophe que esteve na base
deste livro do arcebispo Teissier. “Uma obra desta natureza é uma espécie de
mapa interior: dá-nos acesso à vida mais profunda, às suas questões e procuras,
aos seus impasses e encontros”, escreve José Tolentino Mendonça no prefácio à
obra, intitulado precisamente “Um testemunho precioso”.
Henri Teissier, que é também um
dos maiores especialistas no diálogo islamo-cristão, trouxe a Portugal essa
experiência de Tibhrine que o filme Dos
Homens e dos Deuses mostra tão bem: uma vida mística forjada na proximidade
dos monges com os seus vizinhos, num modelo de vida monacal de clausura que
pouco tem a ver com a maior parte das experiências que conhecemos na Europa.
“Uma das razões pelas quais escrevi este pequeno livro foi para mostrar como um
monge que trabalha como jardineiro, com alguns vizinhos enraizados no islão
tradicional pode conseguir comunicar e dizer coisas significativas”, dizia o
arcebispo Teissier numa entrevista que me concedeu. “Os laços estabelecidos
entre os monges e os vizinhos resistiram ao tempo.”
A sessão de hoje em Coimbra insere-se
no ciclo de cinema “A fé em filme” que a Comunidade João XXIII propõe para este
ano e será também o primeiro dos Sete Encontros Itinerantes propostos pelo
TEAR. Este projecto do Instituto Universitário Justiça e Paz tem por
objetivo realizar atividades que cruzem a vivência da espiritualidade com a
fruição e/ou criação artística. Para 2013/14, haverá propostas nas áreas do
cinema, arquitectura, música, dança, teatro, pintura e literatura)
(a parte do texto sobre Henti
Teissier e Christophe Lebreton adapta um outro texto publicado no Mensageiro de
Santo António, em Novembro de 2012)
1 comentário:
Um excelente filme
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