(foto TVI, reproduzida daqui)
Num momento em que se
debatem questões como o chamado cheque-ensino ou os apoios do Estado ao ensino
privado – que inclui tantas escolas católicas ou de inspiração religiosa – é
obrigatório ver esta reportagem da TVI, transmitida
segunda-feira, dia 4. O documentário ajuda-nos a perceber que o que está em
causa não é a liberdade de os pais escolherem a escola para os seus filhos. A
liberdade de escolha estará em causa no momento em que todos os pais – todos –
puderem de facto escolher a escola que querem para os seus filhos. Estamos
obviamente muito longe disso.
O que está em causa, isso
sim, é uma ofensiva ideológica extremista contra uma escola pública de
qualidade, que garanta que todas as crianças têm acesso a uma formação decente – tal como o país conseguiu fazer, apesar de muitos percalços, nas
últimas quatro décadas.
Entre as escolas
privadas apresentadas, a reportagem mostra também alguns colégios católicos.
Deve dizer-se, em abono da verdade, que várias destas escolas têm uma história.
Em alguns casos, foram mesmo importantes no alargamento da escolaridade nas
localidades em que se inserem, quando não havia escolas suficientes da rede
pública. Ou, até, na possibilidade que deram a tantas crianças mais
desfavorecidas de também poderem frequentar o ensino, quando o Estado ainda não
tinha essa capacidade. Mas estas escolas deveriam ser as primeiras a colocar em
questão o seu papel – muitas vezes, elas surgiram para responder à necessidade
de educar as crianças mais pobres e mais desfavorecidas. E hoje limitam-se, na
maioria dos casos, a educar os filhos de quem mais pode – e quem, por vezes,
mais contraria, na prática, critérios básicos do pensamento social católico.
Os casos mais graves
apresentados na reportagem são, no entanto, os de actuais e ex-políticos e
agentes educativos que criaram colégios e escolas privadas em lugares onde a
escola pública dava resposta às necessidades, a avaliar pelos números
apresentados. No fundo, estamos perante uma situação semelhante aquela que tem
entregue os nossos impostos e sacrifícios à banca, ou aquela que entregou
dinheiro dos contribuintes às parcerias público-privadas na saúde ou na rede de
estradas, ou em tantos outros casos.
Neste debate sobre o
ensino, aliás, há um vício original: a discussão não deveria ser entre público
e privado, se a educação fosse deixada por conta de pais e professores e o
Estado se limitasse a pagar ordenados e a manutenção da estrutura e
necessidades educativas – tal como acontece, aliás, em vários países europeus.
Infelizmente, em Portugal, o debate está muito distorcido e, perante a ofensiva ideológica
que está em marcha, resta-nos a denúncia e a exigência. O Estado não pode interferir em tudo, mas o que se pretende é apenas privatizar para alguns - com o dinheiro de todos - aquilo que deve ser função da comunidade.
Uma das mães ouvidas
na reportagem diz: “Estas pessoas não têm o direito de cortar as pernas aos
nossos filhos.” Pelos vistos, há quem ache que pode mesmo cortar as pernas e
muito mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário