O patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal (foto reproduzida daqui)
O
patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, estará amanhã, quarta-feira, numa conferência
pública na Universidade Católica, em Lisboa, em que falará sobre a situação no Médio Oriente, as pressões
e violências de que os cristãos são vítimas na região e as expectativas sobre a
próxima visita do Papa Francisco à Jordânia, Palestina e Israel, nos próximos
dias 24 a 26 de Maio. Na homilia da missa que se seguiu à procissão das velas, em
Fátima, Fouad Twal disse que cada pessoa pode ajudar, no seu campo de acção, de
modo a “que se cumpram as leis internacionais e os verdadeiros direitos das
nações” naquela região do mundo.
A conferência decorre no edifício da
Biblioteca João Paulo II (Sala de Exposições, piso 2), entre as 9h e as 12h, e conta também com a intervenção do
patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
Na
tarde desta segunda-feira, em conferência de imprensa, Fouad Twal afirmou que a
viagem do Papa será “pastoral, de diálogo, de
ecumenismo”. E acrescentou: “Há, certamente, uma dimensão política” na viagem
do Papa, “porque qualquer que seja o tema que abordemos na Terra Santa, ele
toca a política e toca os direitos humanos.”
Nas
suas declarações, o patriarca latino de Jerusalém disse
que os cristãos da Terra Santa vivem “uma situação de calvário” por causa da
situação política, da situação económica e da emigração dos cristãos. O Papa Francisco
irá encontrar uma “atmosfera contaminada”, resumiu. Apesar – ou por causa –
disso, o Papa irá acompanhado, na sua comitiva, pelo rabino judeu Abraham
Skorka e pelo imã muçulmano Omar Addoub, ambos seus amigos pessoais do tempo em
que esteve em Buenos Aires.
Na
Terra Santa, acrescentou Fouad Twal ontem à tarde em Fátima, “tudo é
superlativo: a dor é superlativa, a alegria é superlativa, a esperança é
superlativa”.
O
patriarca latino de Jerusalém acrescentou que “em todo o Médio Oriente há um
despertar do fanatismo religioso – seja israelita, seja muçulmano – que provoca
o medo”. E referiu vários graffitis que
têm aparecido em igrejas e mosteiros, contra Jesus, Nossa Senhora e os cristãos.
“O
Governo [de Israel] já condenou esse vandalismo (…), mas são só palavras. A
nossa pergunta é quem está por detrás deste despertar de extremismo religioso e
fanático, que tipo de educação têm estes jovens”, afirmou ainda.
Se
o Papa “falar – e falará – de pôr termo a uma ocupação militar israelita que dura
há 66 anos, ele fala de direitos humanos; se ele disser que os cristãos, árabes
e palestinianos, têm também o direito de ir aos locais santos para rezar, isto
também toca aos direitos da fé e aos direitos humanos”, acrescentou.
No
livro-entrevista Gerusalemme capitale
dell’umanità (Jerusalém capital da humanidade), que recolhe uma entrevista
do patriarca ao escritor e jornalista Nicola Scopelliti (ed. La Scuola,
Itália), Fouad afirma: “A religião não é um medicamento para acalmar a dor. A
religião deve inspirar a coragem de dizer quais são os princípios da justiça e
da caridade em que acreditamos. Nós, como Igreja, devemos ter a coragem, sem
nos sentirmos inferiores a ninguém, de falar também do perdão.”
Na
mesma entrevista, o patriarca acrescenta que, nos encontros inter-religiosos na
região, “o representante muçulmano fala quase exclusivamente de ocupação; o
israelita de terrorismo. Não têm outros argumentos para apresentar (...).
Talvez também tenham razão, mas não se pode discutir sempre o mesmo tema. É
missão nossa avançar propostas concretas, afrontar os assuntos numa perspectiva
cristã: falar de reconciliação recíproca, tolerância e confiança para atingir a
paz autêntica que todos desejamos.”
Sobrevivência
dos cristãos está em causa
Nas
últimas décadas, mas especialmente nos últimos anos, a situação dos cristãos na
região agravou-se significativamente em países como o Egipto, o Iraque e a
Síria. Deste último país, dilacerado por uma guerra civil que dura há três
anos, chegaram imagens recentes de cristãos crucificados, que fizeram o Papa
Francisco chorar, como disse o próprio no passado dia 2.
Já
em Novembro, o Papa referira, num encontro com
patriarcas e bispos das comunidades orientais da Igreja Católica, que está
muito preocupado com “as condições de vida dos cristãos que, em muitas partes
do Médio Oriente, sofrem de modo particularmente forte”.
O
mais recente relatório (de 2013) da Ajuda à Igreja que Sofre, organização
católica que apoia cristãos em situações difíceis, diz que o Médio Oriente é
uma das regiões do mundo onde a violência sobre os cristãos “é mais acentuada”, chegando a
sobrevivência do cristianismo a estar “em causa”. No Egipto, segundo os dados
da AIS, nos últimos três anos mais de 200 mil cristãos deixaram o país,
enquanto mais de 80 igrejas e edifícios coptas foram atacados nos últimos
meses.
Na
homilia da noite de 12 de Maio, em Fátima, Fouad Twal disse: “O Médio Oriente está em chamas. A situação
geopolítica é mais do que frágil. Por todos os lados, há guerras e rumores de
guerra. Que fazer? Em quem confiar? A quem recorrer? A Cristo. Porque Ele não
falha nem pode falhar. Por isso disse: ‘Não se perturbe o vosso coração. Credes
em Deus, crede também em mim’ (Jo 14,1). É como se o eco da sua voz forte
continuasse a dizer-nos: Não tenhais medo! Apesar das injustiças; apesar do
número reduzido de fiéis na Terra Santa; apesar do número tão elevado de
refugiados; apesar da família quase destruída; apesar de todos os pesares: ‘Não
tenhais medo!’”
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