terça-feira, 13 de maio de 2014

Patriarca latino de Jerusalém em Portugal: cumpram-se, no Médio Oriente, as leis internacionais



O patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal (foto reproduzida daqui)


O patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, estará amanhã, quarta-feira, numa conferência pública na Universidade Católica, em Lisboa, em que falará sobre a situação no Médio Oriente, as pressões e violências de que os cristãos são vítimas na região e as expectativas sobre a próxima visita do Papa Francisco à Jordânia, Palestina e Israel, nos próximos dias 24 a 26 de Maio. Na homilia da missa que se seguiu à procissão das velas, em Fátima, Fouad Twal disse que cada pessoa pode ajudar, no seu campo de acção, de modo a “que se cumpram as leis internacionais e os verdadeiros direitos das nações” naquela região do mundo.
A conferência decorre no edifício da Biblioteca João Paulo II (Sala de Exposições, piso 2), entre as 9h e as 12h, e conta também com a intervenção do patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
Na tarde desta segunda-feira, em conferência de imprensa, Fouad Twal afirmou que a viagem do Papa será “pastoral, de diálogo, de ecumenismo”. E acrescentou: “Há, certamente, uma dimensão política” na viagem do Papa, “porque qualquer que seja o tema que abordemos na Terra Santa, ele toca a política e toca os direitos humanos.”
Nas suas declarações, o patriarca latino de Jerusalém disse que os cristãos da Terra Santa vivem “uma situação de calvário” por causa da situação política, da situação económica e da emigração dos cristãos. O Papa Francisco irá encontrar uma “atmosfera contaminada”, resumiu. Apesar – ou por causa – disso, o Papa irá acompanhado, na sua comitiva, pelo rabino judeu Abraham Skorka e pelo imã muçulmano Omar Addoub, ambos seus amigos pessoais do tempo em que esteve em Buenos Aires.
Na Terra Santa, acrescentou Fouad Twal ontem à tarde em Fátima, “tudo é superlativo: a dor é superlativa, a alegria é superlativa, a esperança é superlativa”.
O patriarca latino de Jerusalém acrescentou que “em todo o Médio Oriente há um despertar do fanatismo religioso – seja israelita, seja muçulmano – que provoca o medo”. E referiu vários graffitis que têm aparecido em igrejas e mosteiros, contra Jesus, Nossa Senhora e os cristãos.
“O Governo [de Israel] já condenou esse vandalismo (…), mas são só palavras. A nossa pergunta é quem está por detrás deste despertar de extremismo religioso e fanático, que tipo de educação têm estes jovens”, afirmou ainda.
Se o Papa “falar – e falará – de pôr termo a uma ocupação militar israelita que dura há 66 anos, ele fala de direitos humanos; se ele disser que os cristãos, árabes e palestinianos, têm também o direito de ir aos locais santos para rezar, isto também toca aos direitos da fé e aos direitos humanos”, acrescentou.
No livro-entrevista Gerusalemme capitale dell’umanità (Jerusalém capital da humanidade), que recolhe uma entrevista do patriarca ao escritor e jornalista Nicola Scopelliti (ed. La Scuola, Itália), Fouad afirma: “A religião não é um medicamento para acalmar a dor. A religião deve inspirar a coragem de dizer quais são os princípios da justiça e da caridade em que acreditamos. Nós, como Igreja, devemos ter a coragem, sem nos sentirmos inferiores a ninguém, de falar também do perdão.”
Na mesma entrevista, o patriarca acrescenta que, nos encontros inter-religiosos na região, “o representante muçulmano fala quase exclusivamente de ocupação; o israelita de terrorismo. Não têm outros argumentos para apresentar (...). Talvez também tenham razão, mas não se pode discutir sempre o mesmo tema. É missão nossa avançar propostas concretas, afrontar os assuntos numa perspectiva cristã: falar de reconciliação recíproca, tolerância e confiança para atingir a paz autêntica que todos desejamos.”

Sobrevivência dos cristãos está em causa

Nas últimas décadas, mas especialmente nos últimos anos, a situação dos cristãos na região agravou-se significativamente em países como o Egipto, o Iraque e a Síria. Deste último país, dilacerado por uma guerra civil que dura há três anos, chegaram imagens recentes de cristãos crucificados, que fizeram o Papa Francisco chorar, como disse o próprio no passado dia 2.
Já em Novembro, o Papa referira, num encontro com patriarcas e bispos das comunidades orientais da Igreja Católica, que está muito preocupado com “as condições de vida dos cristãos que, em muitas partes do Médio Oriente, sofrem de modo particularmente forte”.
O mais recente relatório (de 2013) da Ajuda à Igreja que Sofre, organização católica que apoia cristãos em situações difíceis, diz que o Médio Oriente é uma das regiões do mundo onde a violência sobre os cristãos “é mais acentuada”, chegando a sobrevivência do cristianismo a estar “em causa”. No Egipto, segundo os dados da AIS, nos últimos três anos mais de 200 mil cristãos deixaram o país, enquanto mais de 80 igrejas e edifícios coptas foram atacados nos últimos meses.

Na homilia da noite de 12 de Maio, em Fátima, Fouad Twal disse: “O Médio Oriente está em chamas. A situação geopolítica é mais do que frágil. Por todos os lados, há guerras e rumores de guerra. Que fazer? Em quem confiar? A quem recorrer? A Cristo. Porque Ele não falha nem pode falhar. Por isso disse: ‘Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim’ (Jo 14,1). É como se o eco da sua voz forte continuasse a dizer-nos: Não tenhais medo! Apesar das injustiças; apesar do número reduzido de fiéis na Terra Santa; apesar do número tão elevado de refugiados; apesar da família quase destruída; apesar de todos os pesares: ‘Não tenhais medo!’”

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