(ilustração reproduzida daqui)
Os
candidatos a deputados europeus que, na maior parte dos países da União
Europeia, vão a votos neste domingo (no Reino Unido e Holanda as eleições
decorreram quinta-feira), devem estar “cientes dos danos colaterais da crise
económica e bancária iniciada em 2008”, que se manifestam no facto de o “número
dos ‘novos pobres’” estar a crescer “a um ritmo alarmante”, a par da
“frustração das perspectivas de futuro de muitos (...) jovens”.
A
afirmação é da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (Comece), numa
nota sobre as eleições para o Parlamento Europeu. No documento, os bispos
acrescentam, ainda sobre os efeitos da actual crise, que “a situação é
dramática, para muitos até mesmo trágica”.
Na
nota, os bispos apelam ao voto, avisam que há “demasiado a perder se o projeto europeu
descarrilar”, que o tratamento dos migrantes que buscam a UE para trabalhar
deve ser mais “humano” e que é necessário um compromisso “com uma abordagem
mais ecológica”. Ao mesmo tempo, recordam que a solidariedade é um “pilar da
União”.
Uma
notícia mais desenvolvida sobre este documento pode ser lida aqui.
Sobre a crise actual e as suas causas, bem como a inevitável consequência de destruição do projecto europeu, se o caminho político não for alterado, vale a pena ainda ler uma entrevista do ex-conselheiro económico do presidente da Comissão Europeia, Philippe Legrain.
A propósito do seu novo livro European Spring: Why our Economies and Politics are in a mess, Legrain diz que a crise resultou de se ter colocado os interesses dos bancos à frente do bem-estar das pessoas: “Na primeira fase da crise, já foi suficientemente mau que os contribuintes tenham tido de salvar os bancos dos seus próprios países. Mas quando o problema alastrou a toda a UE, o que aconteceu foi que a zona euro passou a ser gerida em função do interesse dos bancos do centro – ou seja, França e Alemanha – em vez de ser gerida no interesse dos cidadãos no seu conjunto. O que é profundamente injusto e insustentável.”
Na entrevista ao Público, Legrain avisava, sobre os graves sinais de degenerescência do projecto europeu: “Essa é a tragédia. Em resultado dos erros cometidos, a Europa está a ser destruída, o apoio à Europa caiu a pique, velhos ressentimentos foram reavivados, outros nasceram, a par de tensões sociais no interior dos países. Podemos esperar que as eleições europeias sejam um sinal de alarme, mas duvido, porque o sentimento contra a Europa tem assumido frequentemente a forma de extremismos. Ora, é muito fácil atacar o extremismo, o que está certo, mas sem olhar para as causas subjacentes. Há pessoas que votam para partidos nazis porque são racistas, mas há outras que votam nesses partidos porque estão infelizes, perderam a esperança, sentem-se injustiçadas. É preciso olhar para as causas subjacentes, porque se não a UE está em muitos maus lençóis.”
Em concreto, Legrain pensa que deveria haver um perdão de parte das dívidas públicas e privadas: “De facto, o que aconteceu foi que Angela Merkel permitiu que os contribuintes alemães resgatassem, de forma indirecta, os bancos alemães. Esta é a tragédia.” E acrescenta ser “assustador” que as mesmas pessoas que decidiram as políticas dos últimos anos vão continuar a mandar nas nossas vidas. E propõe: “Além das alterações que é preciso fazer na zona euro, é preciso que a Comissão Europeia seja muito mais controlada no plano democrático. O que significa um presidente da Comissão eleito e maior controlo democrático perante o PE e os parlamentos nacionais. (...) Porque este tipo de sistema quase imperial sem controlo democrático não é sustentável. Isto não vai mudar com as próximas eleições. Mas vai ser preciso, nos próximos cinco anos, construir uma democracia europeia a sério, mudar a natureza da Europa. Ou seja, precisamos de uma Primavera Europeia.
A entrevista pode ser lida aqui na íntegra.
Numa
reflexão estimulante sobre o papel do cristianismo na Europa, o cardeal
Cristoph Schönborn escreve: “A Europa poderia ter necessidade da saudável
inquietação da voz profética da Palavra, mas o Cristianismo também tem
necessidade de que a voz da Europa levante questões críticas como resposta.
Trata-se de uma permuta que faz bem ao Cristianismo. Desperta-o e desafia-o.
Põe em questão a sua credibilidade. E porquê? Porque creio que, no fundo, a
Europa anseia por um cristianismo autêntico.”
A
afirmação é retirada do livro Cristo na
Europa – Uma fecunda interrogação (Paulinas Editora). “O Cristianismo é uma
presença estranha ou representa o fundamento da Europa?”, pergunta o arcebispo
de Viena. No livro, que reproduz uma conferência do autor em 2010, Schönborn
acrescenta: “A minha resposta será a de que o Cristianismo é as duas coisas!”
(...) Um corpo estranho na Europa, mas também uma raiz: eis a estimulante
posição do Cristianismo na Europa secularizada. A Europa é muitas vezes crítica
em relação ao Cristianismo, e isso deve ser considerado positivo.”
Um
excerto alargado do texto pode ser lido aqui.
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