Sob o título genérico A revolução franciscana, publiquei no
Jornal de Notícias, durante este mês de Dezembro, oito trabalhos sobre o Papa
Francisco, que tentam fazer um balanço do que tem sido este ainda curto mas
intenso pontificado.
Um jesuíta muito franciscano
Foi preciso ser eleito um padre
jesuíta para que, pela primeira vez, o nome do mais popular santo do
catolicismo fosse adoptado por um Papa. Francisco aponta, do seu santo patrono,
o homem que dá atenção preferencial aos pobres, o homem da paz e do cuidado com
a criação. Francisco é um Papa franciscano.
O nome é todo um programa: ao
falar aos jornalistas, a 16 de Março de 2013, três dias depois de ter sido
eleito, o novo Papa contou a história de como tinha escolhido o nome e
exclamou: “Ah, como eu queria uma Igreja pobre para os pobres!”
Coisa estranha esta: o nome do
mais popular santo em todo o mundo – Francisco – nunca tinha sido escolhido por
um Papa. O primeiro a entranhá-lo acaba por ser Jorge Mario Bergoglio, de
ascendência italiana mas nascido argentino.
(texto para continuar a ler aqui)
Um compromisso assinado nas
catacumbas
Foi na Catacumba de Santa
Domitília, um dos cemitérios romanos dos primeiros séculos da era cristã, que o
documento foi assinado, no final de uma missa, há 50 anos: a 16 de novembro de
1965, cerca de meia centena de bispos católicos, que estavam em Roma a concluir
o Concílio Vaticano II, assinaram o que viria a ficar conhecido como Pacto das
Catacumbas. O documento acabou por ficar quase desconhecido, sendo ressuscitado
apenas nos últimos cinco anos.
(texto para continuar a ler aqui; sobre o Pacto das Catacumbas, pode ler-se uma crónica de José Tolentino Mendonça aqui e ver-se um programa Setenta Vezes
Sete aqui)
Cinco gestos
A Casa de Santa Marta
Levado aos aposentos pontifícios
depois da sua eleição, o Papa Francisco terá comentado que eram demasiado
grandes para um homem só e que neles caberiam muitas pessoas. Por isso, o Papa
decidiu continuar a viver no quarto que
lhe tinha sido atribuído para o conclave na Casa de Santa Marta, uma residência
moderna, como uma residencial onde ficam alojados bispos e outras pessoas de
passagem pelo Vaticano. Esta decisão significou também que o Papa passou a
contactar diariamente com funcionários do Vaticano, gente normal que ali
trabalha e outras pessoas de passagem e não apenas com bispos e funcionários da
Cúria.
O lava-pés
Na Quinta-Feira Santa de 2013,
poucos dias depois de ter sido eleito, o Papa Francisco quebrou a tradição
litúrgica de fazer o gesto de lava-pés a 12 homens. Deslocando-se
propositadamente a uma prisão de Roma, o Papa repetiu o gesto litúrgico, mas
nele incluindo mulheres e muçulmanos. Um gesto sem precedentes.
Periferias, mesmo nas viagens
A viagem da semana passada (que
terminou segunda-feira) ao Quénia, Uganda e República Centro-Africana traduziu
mais uma vez a opção do Papa por privilegiar visitas a países mais pobres ou
mais marginalizados. Albânia, Sri Lanka, Filipinas, Equador, Bolívia, Paraguai
Bósnia e Cuba, foram alguns dos países que estão entre os mais pobres dos
respectivos continentes ou atingidos por graves crises sociais. E mesmo em países
como os Estados Unidos (onde esteve em Setembro, depois de ir a Cuba),
privilegiou o encontro com grupos de refugiados, de sem-abrigo ou de
desfavorecidos.
O homem da paz
Inspirado em Francisco de Assis –
que aponta como o homem da pobreza, do cuidado com a criação e da paz –, o Papa
tem-se batido pela importância da diplomacia e do diálogo na resolução das
crises internacionais mais graves. Há dois anos, os seus apelos dramáticos
ajudaram a pôr de lado a hipótese de bombardear a Síria, que se estava a
preparar entre os líderes ocidentais. Há um ano, soube-se que a reconciliação
diplomática entre Estados Unidos e Cuba teve a ajuda do Papa e os dois países
afirmaram-no explicitamente. A visita ambos, em Setembro, foi a forma de
culminar o processo.
Abraçar doentes, duche aos
sem-abrigo
Em Novembro de 2013, as imagens do
Papa a abraçar um doente com o rosto desfigurado por neurofibromatose ficaram
como emblema da sua capacidade de abraçar os mais débeis, os mais pobres e marginalizados.
Também a colocação de alguns duches e do serviço de um barbeiro disponíveis
para os sem-abrigo que vagueiam na zona da Praça de São Pedro mostram a
preocupação do Papa com os mais desfavorecidos.
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Do Natal intemporal ao diálogo inter-religioso - sons de Natal, com presépios e debates
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