terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Irmão Aloïs, de Taizé: “Na Síria todos perguntam onde está Deus”


O irmão Aloïs, de Taizé, durante a meditação 
de segunda-feira à noite, em Valência

O irmão Aloïs, de Taizé, disse hoje em Valência (Espanha) que, na Síria, toda a gente pergunta “porquê tanta violência” e “onde está Deus”.
Numa conferência de imprensa durante o encontro europeu de jovensanimado pela comunidade ecuménica de monges, o prior de Taizé contou que passou o dia Natal em Homs, uma cidade devastada pela guerra civil.
“Todos os que encontrei na Síria me disseram: ‘Reze por nós’. Escutemos o seu apelo e confiemos a Deus os que sofrem a violência no Médio Oriente. Trazemos dentro de nós as perguntas pungentes que eles fazem: Porquê toda essa violência? Onde está Deus?”, disse o responsável da comunidade, durante a meditação da oração de segunda-feira à noite.
O irmão Aloïs marcava deste modo, com a questão dos refugiados e da guerra na Síria, uma das preocupações que trouxe para o encontro. Outras inquietações, acrescentaria depois na conferência de imprensa, são a Ucrânia, que também vive uma guerra civil no leste do país; a África, que a Europa deve em primeiro lugar “escutar” e não exportar coisas; e Cuba, “neste novo período de transição que não sabemos como acabará”.
Da Ucrânia, vieram a Valência dois mil jovens participantes (o segundo maior grupo, depois dos polacos). O prior de Taizé recordou ter estado na Páscoa na capital do país, Kiev, bem como em Moscovo, capital da Rússia. “Quisemos mostrar que em todo o lado há pessoas que querem a paz”, afirmou.
Sobre a África, continente que “está muito perto da Europa”, mas cuja situação “não entendemos”, diz que o mais importante a fazer é “escutar” o continente. Um encontro em Cotonou (Benim), entre 31 de Agosto e 4 de Setembro do próximo ano, será uma forma de a comunidade chamar a atenção para a realidade africana.

Em Cuba, dois irmãos de Taizé irão viver a partir de Fevereiro, numa pequena fraternidade, para estar junto das pessoas e partilhar as condições de vida dos mais pobres.
Sobre Homs, uma “cidade fantasma”, e a guerra na Síria, onde esteve depois de ter passado alguns dias campo de refugiados no Líbano, o irmão Aloïs disse que “a extensão da destruição é inimaginável”, com “grande parte da cidade em ruínas”.
“Algumas famílias voltam agora e tentam reinstalar-se nestas ruínas, sem água ou eletricidade”, contou, durante a meditação de segunda à noite (texto na íntegra aqui).
“No centro de Homs, em frente da catedral greco-católica destruída, os paroquianos celebraram uma festa de Natal para crianças. Os jovens tinham preparado presentes. As crianças cantaram. Raramente vivi uma festa de Natal onde a mensagem de paz do Evangelho foi sentida deste modo”, acrescentou ainda. “No Natal, lembramo-nos de que Jesus veio para testemunhar a misericórdia infinita de Deus. A violência caiu sobre ele, mas não foi capaz de vencer o seu amor.”
Na conferência de imprensa de hoje, ao fim da manhã, o prior de Taizé disse ainda que se sentiu “muito tocado” pelo grau de destruição que viu. “A situação é um apelo para nós, um apelo para tenhamos a coragem da paz e da reconciliação. Não podemos alterar de repente a situação na Síria, mas podemos mudá-la deste já a partir daqui, optando pelo caminho do amor. Deus está junto das pessoas, mesmo quando elas não sentem a sua presença.”
Mesmo reconhecendo que a Europa vive uma situação de “crise, com desemprego e migrantes” a bater às suas portas, o irmão Aloïs disse que “a Igreja pode mostrar que a fraternidade é a resposta que devemos dar”.
Os sírios esperam dos europeus que mostrem estar perto deles. “Muitos me pediam: ‘Diga em Valência que a maioria das pessoas querem viver juntas, sejam muçulmanos ou cristãos de diferentes denominações. Mas a nossa voz não chega a ouvir-se porque as armas têm mais força’.”
O cardeal Antonio Cañizares , arcebispo de Valência, também presente na conferência de imprensa, insistiu igualmente no papel da Igreja e dos cristãos: “Desde o primeiro momento, a Igreja de Valência está aberta a famílias sírias cristãs perseguidas”, disse.

O encontro da “peregrinação de confiança através da terra”, como Taizé designa a iniciativa decorre em Valência até sexta-feira, com a participação de cerca de 15 mil jovens de toda a Europa (dos quais perto de 300 portugueses).

Texto anterior no blogue


Sem comentários: