O irmão Aloïs, de Taizé, durante a meditação
de segunda-feira à noite, em Valência
O irmão Aloïs, de Taizé, disse
hoje em Valência (Espanha) que, na Síria, toda a gente pergunta “porquê tanta
violência” e “onde está Deus”.
Numa conferência de imprensa
durante o encontro europeu de jovens, animado pela comunidade ecuménica
de monges, o prior de Taizé contou que passou o dia Natal em Homs, uma cidade
devastada pela guerra civil.
“Todos os que encontrei na Síria
me disseram: ‘Reze por nós’. Escutemos o seu apelo e confiemos a Deus os que
sofrem a violência no Médio Oriente. Trazemos dentro de nós as perguntas
pungentes que eles fazem: Porquê toda essa violência? Onde está Deus?”, disse o
responsável da comunidade, durante a meditação da oração de segunda-feira à
noite.
O irmão Aloïs marcava deste modo,
com a questão dos refugiados e da guerra na Síria, uma das preocupações que
trouxe para o encontro. Outras inquietações, acrescentaria depois na
conferência de imprensa, são a Ucrânia, que também vive uma guerra civil no
leste do país; a África, que a Europa deve em primeiro lugar “escutar” e não
exportar coisas; e Cuba, “neste novo período de transição que não sabemos como
acabará”.
Da Ucrânia, vieram a Valência dois
mil jovens participantes (o segundo maior grupo, depois dos polacos). O prior
de Taizé recordou ter estado na Páscoa na capital do país, Kiev, bem como em
Moscovo, capital da Rússia. “Quisemos mostrar que em todo o lado há pessoas que
querem a paz”, afirmou.
Sobre a África, continente que
“está muito perto da Europa”, mas cuja situação “não entendemos”, diz que o
mais importante a fazer é “escutar” o continente. Um encontro em Cotonou
(Benim), entre 31 de Agosto e 4 de Setembro do próximo ano, será uma forma de a
comunidade chamar a atenção para a realidade africana.
Em Cuba, dois irmãos de Taizé irão
viver a partir de Fevereiro, numa pequena fraternidade, para estar junto das
pessoas e partilhar as condições de vida dos mais pobres.
Sobre Homs, uma “cidade fantasma”,
e a guerra na Síria, onde esteve depois de ter passado alguns dias campo de
refugiados no Líbano, o irmão Aloïs disse que “a extensão da destruição é
inimaginável”, com “grande parte da cidade em ruínas”.
“Algumas famílias voltam agora e
tentam reinstalar-se nestas ruínas, sem água ou eletricidade”, contou, durante
a meditação de segunda à noite (texto na íntegra aqui).
“No centro de Homs, em frente da
catedral greco-católica destruída, os paroquianos celebraram uma festa de Natal
para crianças. Os jovens tinham preparado presentes. As crianças cantaram.
Raramente vivi uma festa de Natal onde a mensagem de paz do Evangelho foi
sentida deste modo”, acrescentou ainda. “No Natal, lembramo-nos de que Jesus
veio para testemunhar a misericórdia infinita de Deus. A violência caiu sobre
ele, mas não foi capaz de vencer o seu amor.”
Na conferência de imprensa de
hoje, ao fim da manhã, o prior de Taizé disse ainda que se sentiu “muito
tocado” pelo grau de destruição que viu. “A situação é um apelo para nós, um
apelo para tenhamos a coragem da paz e da reconciliação. Não podemos alterar de
repente a situação na Síria, mas podemos mudá-la deste já a partir daqui,
optando pelo caminho do amor. Deus está junto das pessoas, mesmo quando elas
não sentem a sua presença.”
Mesmo reconhecendo que a Europa
vive uma situação de “crise, com desemprego e migrantes” a bater às suas
portas, o irmão Aloïs disse que “a Igreja pode mostrar que a fraternidade é a
resposta que devemos dar”.
Os sírios esperam dos europeus que
mostrem estar perto deles. “Muitos me pediam: ‘Diga em Valência que a maioria
das pessoas querem viver juntas, sejam muçulmanos ou cristãos de diferentes
denominações. Mas a nossa voz não chega a ouvir-se porque as armas têm mais
força’.”
O cardeal Antonio Cañizares ,
arcebispo de Valência, também presente na conferência de imprensa, insistiu
igualmente no papel da Igreja e dos cristãos: “Desde o primeiro momento, a
Igreja de Valência está aberta a famílias sírias cristãs perseguidas”, disse.
O encontro da “peregrinação de
confiança através da terra”, como Taizé designa a iniciativa decorre em
Valência até sexta-feira, com a participação de cerca de 15 mil jovens de toda
a Europa (dos quais perto de 300 portugueses).
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