O
Novo Testamento de Jesus Cristo Segundo João é o título do filme de Joaquim Pinto e Nuno Leonel no qual o actor Luis
Miguel Cintra narra o texto do Evangelho de João, segundo a tradução da Vulgata
latina, por António Pereira de Figueiredo (1725-1797). O filme será apresentado
em Roma, nesta quarta-feira, 13, em competição, na secção CinemaXXI, do Festivale Internazionale del Film di Roma.
Depois da
apresentação do filme, haverá um debate que conta com a participação de
Virgilio Fantuzzi, padre jesuíta e crítico de cinema, que foi amigo e
acompanhou várias rodagens do Pasolini e Fellini.
Não é a primeira vez
que Luis Miguel Cintra faz uma experiência deste género. O actor gravou já, em
disco (ed. Presente), um Sermão de Quarta-Feira de Cinzas, do padre António
Vieira, e o Apocalipse de São João.
Cintra leu também em
público o sermão de frei António de Montesinos, o dominicano que primeiro criticou a colonização espanhola na América Central. E fez ainda leituras
do Cântico dos Cânticos, da Carta a Filémon, do Eclesiastes, além das quatro
narrativas da Paixão: São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João.
Agora, é a
primeira vez que Cintra sai do espaço fechado para o campo, ao ar livre.
“O primeiro
capítulo é acompanhado por imagens do local, seguindo-se um bloco em que somos
imersos no ‘grão da voz’ de Luis Miguel”, explicam os realizadores. “A partir
daí, a essa voz materializa-se na expressão, no gesto, na presença, no ritmo,
na respiração, na pulsão do corpo do actor, que se transforma em veículo da
materialização do texto.”
O filme fixa
esse “dia de leitura, efectuada em continuidade desde o início da tarde até ao
pôr do sol”. Acrescentam Joaquim Pinto e Nuno Leonel: “A interpretação
inspirada permite vislumbrar, através de todos os séculos de fixações,
transcrições e traduções de um texto que é já uma condensação em camadas
sucessivas de uma experiência pessoal de Jesus, a emanação da força espiritual
da vida de Cristo.”
Sobre aquela
tarde de leitura e filmagem, escreve Luis Miguel Cintra:
“Há alguma coisa que me transmite uma enorme alegria de viver no
contacto, no trabalho com o Joaquim e o Nuno: a inabalável confiança na
realidade, na sua transcendência. Por outras palavras que é isto senão amor à
vida? Parece que me estão sempre a mostrar que só é preciso não nos deixarmos
ficar surdos, cegos. O cinema com eles só difere da vida porque usam duas
máquinas. Apetece dizer que fazer cinema é usar uma máquina para gravar som e
outra imagem. Ponto final. Estaremos sempre perante Deus, não vale a pena
fingir. E grava-se, filma-se aquilo que é verdade, vale sempre a pena, se o que
se passa se passa mesmo, sem batota. Aquilo que as circunstâncias nos
permitiram viver. Parece tão simples como a vida. Mas depende do amor. Da
capacidade de amar. De nos expormos, de não ter medo. E de gostarmos do que nos
rodeia e dos que nos rodeiam.
O Evangelho de João é todo ele uma definição do amor. Tem-me
acompanhado numa imensa ânsia de alternativa para uma sociedade hipócrita, uma
organização política do mundo actual verdadeiramente assassina, para uma tardia
educação filosófica que não me deixe triste quando perceber que vou morrer. A
tarefa a que se dedicam o Joaquim e o Nuno é para mim uma exemplar militância
política: mudar pelo exemplo a maneira de viver de toda a gente. E bastou não
me deixarem parar, porem-me no meio do campo a dizer o Evangelho só com eles e
dois amigos mais como parceiros, sentir que o sol se punha enquanto eu lia a
narrativa das palavras que João deixou escrito que o Cristo que ele amava disse
há dois mil e tal anos, para toda a fancaria artística deixar de me interessar.
Eu só quero entender. E ter companhia. ‘Creio no Espírito Santo.’ E não quero
perder a vida em compromissos.”
O
Novo Testamento de Jesus Cristo Segundo João
Imagem, Som
e Montagem: Joaquim
Pinto e Nuno Leonel
Com Luis Miguel Cintra
129 minutos
1 comentário:
Olá,
tenho um blog sobre Jesus:
http://quem-escreveu-torto.blogspot.pt
Obrigado
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