Crónicas
Na
crónica deste domingo, no Público, frei Bento Domingues fala de novo sobre o
código genético do cristianismo:
adianta
ou não a fé trinitária das igrejas cristãs implicada na Incarnação do Verbo?
Sem ela que perdem os cristãos, as igrejas e a sociedade? Será mesmo assim tão
essencial para viver e entender o sentido da vida?
Segundo
o filósofo, teólogo e politólogo dominicano, Paul Blanquart, a simbólica
trinitária é um modelo social e uma forma de pensar e repensar o mundo e a
sociedade. É o modelo da perfeita democracia: na indestructível unidade de
Deus, as pessoas são todas iguais, todas activas, todas diferentes, sem
subordinação e em comunhão. É a existência simultânea do uno e do múltiplo.
Se
o ser humano, no mundo, é criado à imagem de Deus, não é indiferente que esse
Deus seja pura solidão ou uma comunhão de pessoas. Na experiência humana, se
insistimos apenas na unidade, esquecendo as diferenças, temos uma unidade
vazia. Se, pelo contrário, insistirmos nas diferenças, pomos em causa a
igualdade. A simbólica trinitária serve para, no plano mental e na realidade
social, promover a máxima unidade na máxima diversidade. Se nesse modelo, não
existe a subordinação das pessoas, também não existe a vontade de poder de umas
sobre as outras, existe a alegria da comunhão nas diferenças.
(o
texto integral pode ser lido aqui)
Uma
das formas de concretizar esse código genético é “revelar a abundância de vida
nova e amor que Deus oferece para levar a todos”, propõe Vítor Gonçalves no seu
comentário à liturgia católica de domingo passado. Sob o título “O sal e a luz
não se guardam”, escreve:
Aprendemos
que a luz "viaja" a mais de 300.000 quilómetros por segundo. E que,
segundo o Génesis foi a primeira obra da criação. Mas é na sua falta para ver e
para pensar, e para tudo o que diz respeito à vida que nos damos conta de como
tudo depende dela. Que significa sermos "luz do mundo" e que responsabilidade
nos confia Jesus? Primeiro que tudo é urgente revelar a abundância de vida nova
e amor que Deus oferece para levar a todos, e que tantas vezes guardamos sem
saborear, possuímos sem nos deixarmos contagiar. Depois sermos simples e pobres
para descobrir a luz que existe em todos, que dignifica todos e a todos eleva
como farol no meio das tempestades. Por fim, que acaba por ser um novo
princípio, concretizar a luz em obras boas, pequenos gestos cheios de um grande
amor (como dizia Madre Teresa de Calcutá), que iluminam e incendeiam os
caminhos do mundo. Pouca luz vêm os que teimam em fechar os olhos (e
candidatam-se a uns belos trambolhões)!
Sábado,
no DN, Anselmo Borges escreve a propósito do inquérito sobre a família, de
preparação para o Sínodo dos Bispos de Outubro próximo. O título da crónica é “O
Papa e o maldito sexo”:
Alguns
sentiram-se inclusivamente "chocados", quando o interrogatório usa,
para os divorciados, a expressão "situações irregulares", sendo
excluídos da comunhão e não se tendo a Igreja preocupado com os seus
"problemas" ou "necessidades de fé". Outro grupo que recebe
grande apoio da base é o dos homossexuais. Comunidades houve que acharam muito
importante que se acrescentasse um ponto às perguntas do Vaticano, exigindo que
se ponha fim à lei do celibato obrigatório.
Os
resultados das respostas, que dão um mau testemunho da instituição eclesiástica
e mostram a discrepância entre a doutrina e a realidade mereceram este
comentário do bispo de Mainz, o famoso cardeal Karl Lehmann, uma voz constante
a favor de um catolicismo aberto: "Estes resultados, mesmo que não sejam
representativos, testemunham e fortalecem a impressão de uma situação infeliz,
fatal." "Há muito que já sabíamos", disse sobre o profundo
abismo entre o povo fiel e a hierarquia, "muita coisa foi reprimida".
Os
fiéis exigem agora a publicação integral dos resultados. Seja como for, mesmo
com todas as suas deficiências, o inquérito desencadeou uma dinâmica que será
difícil parar. A pergunta é: como vai Roma lidar com a questão?
Fernando Calado Rodrigues dedicou também à figura do Papa
Francisco as suas duas últimas crónicas de sexta-feira, no Correio da Manhã. Primeiro, falando sobre
“A humanidade do Papa”:
As
palavras e os gestos do Papa Francisco têm contribuído para a humanização do
papado. Na visita a uma paróquia periférica de Roma, a do Sagrado Coração,
apresentou-se há dias como um “homem comum” e abriu o seu coração a um grupo de
refugiados confessando que na sua vida, como na deles, houve “muitas coisas
boas e muitas más”.
Na
última, perguntando sobre se virá aí “O declínio do Papa?”
O
Papa, no entanto, não parece muito preocupado com a lógica mediática; parece,
sim, querer mostrar-se mais coerente entre o que diz e o que faz. Pela minha
parte, enquanto padre, acho muito importante que o pensamento do Papa seja
traduzido na reforma e no governo da Igreja. Se não o for, será uma desilusão:
não por perder a novidade, mas por não conseguir enxertar os valores do
Evangelho no mundo contemporâneo.
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