O
Papa Francisco viajou hoje para o Rio de Janeiro, onde aterra dentro de
minutos, para presidir à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) . Durante o voo, depois
de subir a bordo levando ele próprio a pasta com os seus documentos, o Papa alertou
para “o risco de ter uma geração que não teve trabalho e do trabalho vem a
dignidade da pessoa”.
De
acordo com a síntese da Ecclesia, o
Papa Francisco disse que “a crise mundial não faz coisas boas aos
jovens” e que, contrário, provoca altas taxas de desemprego. Ao mesmo tempo,
voltou a criticar a “cultura do descartável”: “Fazemo-lo muitas vezes com os
mais velhos e é uma injustiça, porque os deixamos de lado, como se não
tivessem nada para dar, mas pelo contrário eles transmitem-nos a sabedoria e os
valores da vida, o amor pela pátria, o amor pela família, todas coisas de que
temos necessidade.” E esta realidade agora também atinge os jovens.
Antes destas declarações, já o teólogo
brasileiro Leonardo Boff afirmara que “Francisco é um libertador sem usar a expressão Teologia da Libertação”. Autor de uma biografia sobre São
Francisco de Assis e do recente O Cuidado
Necessário (ed. Vozes), este expoente da teologia da libertação
acrescenta, em declarações ao Público:
“É um Papa para reforçar as pastorais sociais, dos
sem-tecto, das mulheres, dos indígenas, do ambiente. Ele vem desse tipo de Igreja, que não é
romana, europeia e vai continuar a linha dessa igreja. O discurso dele é o que
fazemos há muitos anos. Ele próprio diz que é um peronista, da teologia da
cultura popular. Faz críticas duras ao sistema capitalista global, que está a
martirizar países como a Grécia e Portugal. Ele vai fazer polémica contra isso,
reconciliando a comunidade teológica.” (Por uma questão de rigor, refira-se que foi Boff quem decidiu abandonar o ministério de padre e não o Vaticano a afastá-lo, ao contrário do que se diz na notícia do jornal – sabendo, no entanto, que o afastamento surgiu depois de muitas pressões e dois processos contra Boff)
A
insistência do Papa Francisco nos problemas das “periferias” da existência –
imigração ilegal, desemprego, fome... – traduz uma mudança de paradigma no
papado, por ele ser alguém que vem de fora da Cúria Romana e da Europa, como
analisa Eugenio Lira Rugarcía, secretário-geral da Conferência
do Episcopado Latino-americano, nesta interessante entrevista.
No
mesmo sentido, parecem apontar testemunhos recolhidos ao acaso nas ruas do Rio
de Janeiro, ainda antes da chegada do Papa. “Para nós, mudou totalmente a
história e vai continuar a revolucionar muitas coisas”, diz um latino-americano
à reportagem da SIC.
Para
quem quiser acompanhar a visita mais em pormenor, pode ver a página especial que a Ecclesia dedica ao acontecimento. A
Renascença acompanhará em directo, via vídeo, alguns momentos da visita e
a SIC tem também enviados especiais no Rio de Janeiro.
Esta
primeira viagem do Papa Francisco fora de Itália (a primeira saída de Roma foi
a sua histórica visita a Lampedusa, para homenagear os imigrantes mortos tentar
chegar à Europa) começa poucos dias depois de mais um conjunto de decisões
tendentes a limpar o sector financeiro do Vaticano: depois da confirmação de
demissões de responsáveis do Instituto para as Obras da Religião (o “banco do
Vaticano”) e da detenção de um padre acusado de lavagem de dinheiro, o Papa
nomeou, sexta-feira passada, uma comissão para a reforma económica e
administrativa do Vaticano.
(foto: Giampiero Sposito/Reuters, reproduzida daqui)
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