Crónica
Apenas alguns dias após a eleição
do Papa Francisco, o Professor Manuel Pinto escrevia que este é "um
pontífice que não tem parado de surpreender, desde o ‘atrevimento’ do nome (já
considerado em si mesmo uma encíclica, ou até mesmo um programa)".
Esta semana Alberto Melloni, um
estudioso da História da Igreja, especializado no Concílio Vaticano II, afirmou
ao sítio ‘Vatican Insider’, que a homilia do Papa proferida na visita a
Lampedusa é um texto "programático de um Pontificado". Para o
historiador "poucos se deram conta" da importância e da profundidade
da homilia do Papa, "é um texto comparável ao discurso de abertura do
Concílio" de João XXIII. As palavras verbalizam a opção do Papa pelos mais
pobres, cuja escolha do nome já tinha deixado subentendida.
Carlo Costalli, presidente do
Movimento Cristão de Trabalhadores (MCT), em declarações ao mesmo sítio,
confessou que "ficou perplexo com a escassez de comentários e reações do
mundo político ao significativo gesto do Papa Francisco ao querer fazer a sua
primeira viagem fora de Roma a Lampedusa: para estar no meio de quem sofre,
sacudir as consciências e a vencer a indiferença que nos torna
insensíveis". E conclui: "Francisco, com a sua histórica visita a
Lampedusa, fez com que a extrema periferia da Europa e do sofrimento, lá onde
se morre na indiferença, se tornasse o centro".
O Papa orientou a sua reflexão em
torno das duas questões bíblicas: "Onde estás, Adão?" e "Caim,
onde está o teu irmão?" A primeira refere-se ao homem que se esconde
depois de ter pecado, mas que o Criador não desiste de procurar. A segunda é a
pergunta ao homicida do seu irmão. "Estas duas perguntas de Deus ressoam,
também hoje, com toda a sua força! Muitos de nós – e neste número incluo-me
também a mim – estamos desorientados, já não estamos atentos ao mundo em que
vivemos, não cuidamos nem guardamos daquilo que Deus criou para todos, e já não
somos capazes sequer de nos guardar uns com os outros. E, quando esta
desorientação atinge as dimensões do mundo, chega-se a tragédias como aquela a
que assistimos", afirmou o Papa. Estas palavras desinstalam e desafiam,
até o próprio, a não passar ao lado dos dramas humanos.
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