quinta-feira, 25 de julho de 2013

Um novo modelo para as viagens papais

Esta quinta-feira, a partir das 15h de Lisboa, o Papa Francisco vai visitar uma favela do Rio de Janeiro. De acordo com uma reportagem da SICo Papa irá entrar pelo menos na casa de uma família, falando com os habitantes do bairro.
Esta iniciativa pode ser o primeiro passo de uma mudança necessária no modelo das viagens papais. Depois de João XXIII e Paulo VI terem dado os primeiros passos, saindo do Vaticano, João Paulo II tornou-se no peregrino global, deslocando-se a todos os cantos do mundo – 133 países visitados em 104 viagens. Esse facto foi uma evolução positiva. Mas agora é preciso mais.
No início, recorde-se, João Paulo II ainda era saudado por pessoas das comunidades locais representativas dos sectores com os quais se encontrava. Na primeira visita a Portugal, por exemplo, em 1982, o Papa Wojtyla foi saudado por representantes do operariado, dos estudantes, do sector agrícola, dos consagrados,... consoante os diferentes momentos e encontros.
Há três anos, no final da visita de Bento XVI a Portugal, escrevi no Público, como comentário:

“Uma visita de um papa a um país permite apenas a comunicação unidireccional. O Papa veio a Portugal, pronunciou discursos, saudações e homilias, foi saudado em cada encontro que teve por alguém representativo e foi escutado, mal ou bem, pelas multidões ou convidados que acorreram às diferentes iniciativas.
Longe vão os tempos das primeiras viagens de João Paulo II, quando nas intervenções com que era saudado, o Papa Wojtyla ouviu mesmo referências críticas a posições da hierarquia – como aconteceu uma vez nos Estados Unidos. Também já não é praticamente possível a relação directa do Papa com as pessoas. As razões de segurança sobrepuseram-se às razões da comunidade e hoje o Papa é super-protegido e afastado dos fiéis.
Mesmo se Ratzinger foi surpreendente em Lisboa, em Fátima e no Porto, quebrando essas regras e aproximando-se das pessoas por diversas vezes, isso não é suficiente para que o Papa possa perceber sentires mais profundos das comunidades para lá do emotivo. Se a festa colectiva é importante, a dimensão comunitária que o cristianismo reivindica como original não pode ser obscurecida e o Papa deve também poder escutar anseios e expectativas dos crentes.”

O Papa Francisco já mostrou que irá mudar o modelo de viagens, fazendo-o evoluir. Sobretudo porque quer estar próximo das pessoas, ouvi-las, sentir os seus anseios, perceber as suas necessidades e alegrias, os seus sofrimentos e desencantos. Por isso, as questões de segurança são para ele secundaríssimas.

 Além dessa proximidade afectiva, é necessária também uma proximidade comunitária, que concretize a possibilidade de o pastor ter o “cheiro” do seu rebanho. Veremos o que acontece nestes dias cariocas do Papa Francisco e que, à semelhança dos primeiros meses de pontificado, também dará sinais sobre o que aí vem.


(foto: o Papa Francisco depois da chegada ao Rio de Janeiro, cercado pela multidão; reproduzida daqui)

1 comentário:

emilia nadal disse...

Tenho esperança que o Papa Francisco reanime a teologia da libertação