O
canto que irrompeu no momento da assinatura traduzia o sentimento das centenas
de pessoas que lotaram, no final desta tarde de sábado, a catedral lusitana de
São Paulo, em Lisboa: Jubilate Deo, jubilate Deo, alleluia (alegrai-vos em Deus,
aleluia). Cinco responsáveis, em nome de outras tantas igrejas cristãs –
Católica, Lusitana/Anglicana, Metodista, Presbiteriana e, Ortodoxa (Patriarcado de Constantinopla) –
assinaram a declaração de reconhecimento mútuo do baptismo.
A
partir de agora, e segundo os oito pontos da declaração, estas igrejas passam a
reconhecer como válido os respectivos certificados de baptismo, recusando a
necessidade de um novo sacramento – o que já sucedia na maior parte dos casos,
mas que, a partir de agora, fica oficializado para situações como as de
casamentos mistos ou de pessoas que decidem mudar de igreja. E esperam, de
acordo com a declaração assinada, que esse reconhecimento “constitua um passo
em frente no caminho da unidade visível” dos cristãos.
Na sua curta homilia, a propósito do texto da 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios que acabara de ser lido (1 Cor 1, 1-17), onde se pergunta “Estará Cristo dividido?”, o patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, disse que os cristãos estão unidos em “três pontos essenciais: a unidade de vocação, no chamamento à santidade; a unidade de pertença”, que há-de ajudar a ultrapassar a “tendência atávica” dos cristãos para a divisão; e a “unidade de acolhimento e relação”. E pediu: “Sejamos consequentes.”
Na sua curta homilia, a propósito do texto da 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios que acabara de ser lido (1 Cor 1, 1-17), onde se pergunta “Estará Cristo dividido?”, o patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, disse que os cristãos estão unidos em “três pontos essenciais: a unidade de vocação, no chamamento à santidade; a unidade de pertença”, que há-de ajudar a ultrapassar a “tendência atávica” dos cristãos para a divisão; e a “unidade de acolhimento e relação”. E pediu: “Sejamos consequentes.”
A
declaração do baptismo não é ainda a unidade plena na diversidade – de fora, fica
a questão mais delicada da eucaristia comum; e de fora ficam, também, todas as
comunidades ligadas à Aliança Evangélica Portuguesa, além de outras igrejas cristãs,
minoritárias no país. Mas é um passo que pode contribuir “para uma maior
comunhão entre todos os baptizados”, como se refere também no último ponto da
declaração.
Esta celebração, que culminou a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos,
iniciou-se pouco depois das 18h, com a participação de muitos jovens, marcados
por um tempo em que as divisões aparecem cada vez mais como coisa do passado.
Muitos deles estão já habituados a participar em iniciativas como o Fórum
Ecuménico Jovem, ou nas propostas feitas por comunidades como Taizé, que reúne
monges de diferentes proveniências.
Os
cantos de Taizé marcaram, aliás, vários momentos da cerimónia. Mas o ponto alto
foi quando os diferentes responsáveis se dirigiram para uma pequena mesa
colocada junto do altar para assinar a
declaração: D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, em nome da Igreja
Católica; o bispo D. Jorge Pina Cabral, em representação da Igreja Lusitana
(Comunhão Anglicana); o bispo Sifredo Teixeira, em nome da Igreja Metodista; e
a pastora Sandra Reis, em nome da Igreja Presbiteriana. Por motivos de saúde, o
arquimandrita Philip Jagnisz,vigário para
Portugal e Galiza do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, da Igreja
Ortodoxa, não pôde comparecer, mas estava representado na cerimónia pelo padre
Alexandre Bonito.
Momento das assinaturas: o patriarca de Lisboa, Manuel Clemente |
o bispo da Igreja Lusitana (Anglicana), Jorge Pina Cabral |
o bispo da Igreja Metodista, Sifredo Teixeira |
e a pastora Sandra Reis, da Igreja Presbiteriana |
No início, evocou-se o Canadá,
país onde foram redigidos os textos da Semana da Unidade de 2014. “Um país
marcado pela diversidade da língua, da cultura e mesmo do clima”, que incarna “essa
diversidade nas suas expressões da fé cristã”. No idioma de um dos primeiros
povos do país, os iroquois, a palavra “Canadá”, foi ainda explicado, significa “aldeia”. “Como
membros da casa de Deus, os cristãos do mundo inteiro vivem realmente numa
aldeia.”
Também inspirados na forma de
rezar dos povos indígenas do Canadá, que olham para os diferentes pontos
cardeais, os participantes começaram por acolher os dons do leste, onde nasce o
sol (paz, sabedoria e conhecimento), do sul (calor, ensinamento e diversidade
cultural), do oeste (chuva, águas purificadoras e sustento aos seres vivos),
norte (frio, vento, força e resistência) e da terra. Escutaram depois um trecho
do livro de Isaías (Is 57, 14-19): “Abri, abri caminho; aplanai-o. Tirai todos
os tropeços do caminho do meu povo!”;
cantaram um Salmo (Sl 37, 5-11): “Feliz aquele que confia no deus de Jacob.”;
escutaram o texto já referido da Carta aos Coríntios e, finalmente, um outro do
evangelho segundo São Marcos (Mc 9, 33-41): “Se alguém quiser ser o primeiro,
há-de ser o último e o servo de todos.”
Depois da recitação do credo e da
leitura e assinatura da declaração comum sobre o baptismo, fez-se um momento de
preces: pelos que padecem a pobreza e a fome; pelos que lutam por um ensino
universal; pelos que lutam pela igualdade de dignidade e de direitos entre
homem e mulher; pelos que lutam para melhorar a saúde infantil; pelas mulheres
grávidas e pela saúde materna; pelos que combatem a sisa, o paludismo e outras
doenças; pelos que sofrem as consequências de uma má salvaguarda da criação; e pelos que praticam a solidariedade
internacional e a fraternidade entre os povos. A cerimónia terminou, depois da
troca de um gesto de paz, com um compromisso pela unidade.
Duas notas finais à margem: a
presença de várias pastoras evidenciaram a naturalidade com que muitos cristãos
já vivem o ministério das mulheres no serviço à comunidade; e a simplicidade
das vestes litúrgicas de todos/as os/as responsáveis – a maior parte deles/as
trajando de branco e quase não se distinguindo a respectiva origem eclesial,
como que contribuindo para uma imagem de unidade própria do momento.
(Podem
ver-se aqui outras fotos da cerimónia)
4 comentários:
Muito comovente e significativo. Alegro-me.
Agradeço muito a reportagem, as fotos e os vídeos. Gostava muito de ter podido ir e assim fiquei mais "consolada"!
Fico feliz por mais uma tentativa de Ecumenismo. ´E um bom princ´ipio, visto que o Baptismo ´e o in´icio da vida crist˜a, como sinal que perdura!
Viva!
Deixo os meus parabéns ao António Marujo pela dedicação e excelente cobertura que fez da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, em particular a assinatura do reconhecimento mútuo do baptismo por 5 das igrejas cristãs e as implicações práticas destes acontecimentos.
Que cada cristão faça a sua parte e não esteja só à espera que as hierarquias avancem.
Abraço e continuação de um excelente trabalho
Sérgio Almeida
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