Crónicas
Sábado, no DN, Anselmo Borges
voltou ao debate pré-Sínodo dos Bispos sobre a família. Sob o título Teólogos
e recasados, escrevia:
A Conferência Episcopal Alemã
propôs, nas respostas ao questionário pré-sinodal, permitir o acesso à
comunhão, se a vida comum no casamento fracassou definitivamente, se se
esclareceram as obrigações do primeiro casamento, se há arrependimento e
vontade genuína de viver o segundo casamento na fé e educar os filhos de acordo
com a fé. E que os homossexuais não sejam excluídos.
De facto, nestes casos, na
Alemanha, e não só, já se dá a comunhão e mesmo uma bênção.
(texto na íntegra aqui)
Na crónica À procura da Palavra,
que comenta os textos da liturgia católica de domingo, Vítor Gonçalves fala d’A
pergunta decisiva, para se referir à
pergunta que Jesus faz aos seus discípulos. Fica aqui a seguir o texto,
publicado no jornal Voz da Verdade:
Em todo o conhecimento há
perguntas decisivas. São elas que promovem o avanço, a descoberta, e a inovação
humanas. Daí que o verdadeiro ensino não seja um “despejar de informação” mas a
arte de suscitar e promover perguntas. E que pena termos perdido, tantas vezes,
aquele questionamento de criança que não se cansava de perguntar: “e porquê?”,
“e como?”, “e para quê?”. É verdade que também há perguntas que nem resposta
merecem (e basta ouvir as de jornalistas ávidos em obter reacções aos dramas e
catástrofes quase quotidianos), mas uma sociedade que não valoriza a arte de
perguntar gera autómatos ou indiferentes.
Quantas vezes, relativamente à fé
e à religião, se adoptou também o conformismo de “verdades inquestionáveis”,
relegando a inteligência e a dúvida para um canto do pensamento ou até
rotulando de “pecado” qualquer questão que pusesse em causa a “harmonia da
doutrina”! Cantava o P. Zézinho, numa
canção sobre um amigo seu “que a sua fé perdeu”, que “às vezes quem duvida e
faz perguntas, é muito mais honesto do que eu!” Mas as perguntas supõem pessoas
dispostas a dialogar, a debater ideias com respeito e humilde procura da
verdade, a acolher pontos de vista sem os impor arbitrariamente, a rejeitar
preconceitos e valorizar o essencial, a exprimirem-se sem medo nem temor de
condenação.
Depois de uma breve “sondagem”
sobre o que se dizia d’Ele, Jesus faz aos discípulos a pergunta decisiva: “Quem
dizeis que Eu sou?” É tão decisiva que ela divide os evangelhos sinópticos em
duas partes: o ensino na Galileia e o caminho para Jerusalém. A partir da
resposta de fé de Pedro, Jesus começa a anunciar a sua entrega de vida que
culminará na Páscoa. E surge o primeiro paradoxo: não era bem esse tipo de
“Messias” que se esperava, e o próprio Pedro se apressa a corrigir Jesus. Mas o
desafio foi lançado: é preciso “compreender as coisas de Deus”, renunciar a si
mesmo, tomar a sua cruz e seguir Jesus. Quantas perguntas irão surgindo no
pensamento dos discípulos ao longo do caminho? Deste caminho que continuamos a
fazer, percebendo que não basta dizer “creio em Ti”, mas é fundamental viver
“contigo e como Tu”, dando a vida para salvar, perguntando-nos se ainda não
persistem ideias do antigo messianismo de poder e esplendor, de domínio e
condenação na nossa vida de discípulos? Que felicidade comunicamos por
acreditar na força do Teu amor?
Quantas perguntas decisivas são
feitas na história de um amor? A resposta à pergunta “quem sou eu para ti?”
abre sempre algum futuro. Mas também pode pôr em causa um passado. A coragem de
perguntar se o que une duas pessoas é um amor verdadeiro, que constrói e faz
crescer, ou se essa união acabou, ou nem chegou a começar, não é fácil.
Concretizando a misericórdia, que será o tema do novo ano santo que começa a 8
de dezembro, o Papa Francisco acaba de publicar dois documentos que simplificam
os processos de nulidade matrimonial e reforçam o papel dos bispos. A sua
intenção é “favorecer não a nulidade dos matrimónios, mas a celeridade dos
processos”. Outras perguntas virão: tenhamos a coragem de as colocar a Jesus,
com Jesus e uns com os outros!
Texto anterior no blogue:
Papa Francisco: "Não podemos ignorar a nossa gente na hora de fazer teologia" - a crónica de frei Bento Domingues
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