quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Deus e a moda, velas e internet, igrejas sem povo e a pergunta: o Papa é católico?

Sábado, no DN, Anselmo Borges escrevia a partir da pergunta O Papa Francisco é católico?:

Afinal, o que é ser católico? Claro, professar o Credo. Mas, antes de mais, ser cristão. Acreditar, não em dogmas reificados, mas numa pessoa, Jesus Cristo, e no seu Evangelho, notícia boa e felicitante para todos, pois traz a salvação, o sentido pleno da vida. Entregar-se confiadamente a Deus, que é Amor. E tentar pôr essa fé em prática, a favor de todos, começando pelos mais frágeis.
Francisco acaba de dizê-lo de forma lapidar em Cuba: "Onde há misericórdia, aí está o espírito de Jesus. Onde há rigidez, estão apenas os seus ministros."


Domingo, no Público, Bento Domingues falava de Paul Ricoeur e da sua distinção entre ética e moral, a propósito d’O Deus da Moda:

Não renego o que escrevi, mas a realidade actual é outra. A jornalista Aura Miguel perguntou ao Papa Francisco como estava a viver a crise dos refugiados. A resposta deveria ser o nosso texto de meditação para não nos satisfazermos com alguns gestos de solidariedade, deixando o mundo correr na sua loucura para a guerra que se prepara sob os nossos olhos: “Vemos estes refugiados, esta pobre gente que escapa da guerra, da fome, mas essa é a ponta do icebergue. Porque debaixo dele, está a causa; e a causa é um sistema socioeconómico mau e injusto, porque dentro de um sistema económico, dentro de tudo, dentro do mundo - falando do problema ecológico-, dentro da sociedade socioeconómica, dentro da política, o centro tem de ser sempre a pessoa. E o sistema económico dominante, hoje em dia, descentrou a pessoa, colocando no centro o deus dinheiro, que é o ídolo da moda. Ou seja, há estatísticas, não me recordo bem (isto não é exacto e posso equivocar-me), mas 17% da população mundial detém 80% das riquezas”.
Os ídolos da eterna juventude, do permanente crescimento económico, do dinheiro, do totalitarismo da falsa comunicação alimentam-se do desejo de todos ao serviço de uma elite.


No comentário aos textos bíblicos da liturgia católica de domingo passado, Vítor Gonçalves escrevia, sob o título À luz da vela:

volto ao psiquiatra Pedro Afonso e a uma experiência que conta no artigo referido: “Tudo começou num dia em que a electricidade faltou. Nessa noite não houve Internet, televisão, PlayStation. Pais e filhos passaram o serão em redor de uma vela. Conversaram, contaram histórias e o tempo passou. A partir desse dia, a família passou a ter uma vez por semana uma noite sem luz.” A prescrição médica de “uma noite por semana à luz da vela” pode ser uma provocação, mas, quem sabe, se não encontraríamos a luz necessária para não cortarmos tantas coisas essenciais, e criarmos outras tão saudáveis e felizes! Não recebemos todos uma vela no baptismo, que mesmo com a chama frágil, ainda não se substituiu por nenhum holofote ou lanterna de led’s mais “baratos e eficazes”?!


Sexta, no CM, Fernando Calado Rodrigues escrevia sobre as Igrejas sem povo:

Enquanto em Cuba a fé mantém-se mesmo sem igrejas, na Europa fecham-se igrejas por falta de fiéis, devido à diminuição da população e da prática religiosa. No início deste ano o “Wall Street Journal” abordou a questão do encerramento e venda das igrejas na Europa. Nesse artigo dizia-se que em Inglaterra fecham cerca de vinte igrejas anglicanas por ano – e que, nos últimos dez anos, a Igreja Católica na Alemanha desativou mais de quinhentas. Na Holanda, onde as perspetivas são mais negativas, prevê-se que sejam encerradas cerca de mil igrejas católicas nos próximos dez anos, mais setecentas protestantes.

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