Sexta à noite em Lisboa: o grupo de voluntários que decidiu
partir para a Croácia, para trazer famílias de refugiados
Doze pessoas e seis automóveis
estão já em Barcelona, por esta altura, depois de, ontem ao início da noite
terem saído de Lisboa. Amigos e desconhecidos quiseram contribuir para a
viagem, enchendo as malas com roupas e cobertores, cadeiras de bebés, comida,
medicamentos e outros bens.
Hoje, o grupo conta dormir algumas
horas em Montpellier, já em França.
Na Visão, que acompanha a caravana, há já
uma primeira crónica da viagem.
De resto, a viagem pode ser
acompanhada por quem está no facebook, na página Famílias como as nossas.
Sobre a questão dos refugiados,
Rosário Gamboa escreveu há duas semanas, no JN, numa crónica que vale a pena
ler:
Deslocados, perdidos no mar ou
amontoados nos comboios, estão os rostos que evitamos ver porque temos medo -
medo da nossa profunda vulnerabilidade; de perdermos as certezas que
construímos sobre nós e sobre os outros.
(texto aqui na íntegra)
Também na sua página de Facebook,
Alfredo Abreu, responsável do Serve The City Lisboa escreveu há uma semana um
testemunho que vale a ler:
Faz hoje 40 anos. Eu tinha 13 na
altura e chegámos a Portugal a 17 de Setembro de 1975. Muitas outras pessoas
ficaram para trás, dias e dias no aeroporto à espera de poderem entrar num dos
aviões da ponte aérea. Vínhamos a fugir de uma guerra que vi (e ouvi) fazer-se
na nossa cidade, de facto até bem à frente da nossa casa. Chegámos com as malas
que trazíamos. Éramos refugiados. Muitos, muitos, muitos milhares. Esta era uma
terra e uma cultura diferente da que conheci toda a minha vida. Nem sempre
fomos bem recebidos por quem tinha medo de virmos retirar espaço, empregos, sei
lá que mais. Mas o espaço foi-se abrindo, para uns mais do que para outros e
hoje já tudo parece uma memória longínqua.
No primeiro ano de escola aqui em
Portugal fui chamado à atenção pelos professores por não estar a prestar
atenção. Desenhava incessantemente o mapa de Angola. Vivemos em família (muito)
alargada num pequeno apartamento durante alguns anos. Durante muito tempo os
carros com matrículas de Angola e Moçambique faziam sinais de luzes quando
passávamos uns pelos outros. Havia saudade e muitas incertezas: já não éramos
de lá e ainda não éramos daqui...
Hoje este é o meu país, a minha
terra, aqui tenho investido o melhor que sei e posso. Modesta mas convictamente
tenho procurado contribuir para o progresso de Portugal, demos-lhe 4 filhos,
não tenho dúvidas que Portugal ficou mais rico. 40 anos depois não posso deixar
de ver a chegada de mais refugiados com expectativa muito grande, pensando nos
que vêm provavelmente até sem malas, mas com uma história que pode tornar a
nossa ainda mais rica. Estou pronto para receber os nossos novos vizinhos. De
braços abertos, de coração aberto, para construirmos uma Cidade mais justa,
fraterna e solidária. Juntos.
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