Dois amigos – Nuno Félix e Pedro
Policarpo, ambos casados, ambos pais de quatro filhos menores – decidiram pegar
nos seus carros e ir à Croácia buscar refugiados que desesperam por ajuda.
Partem de Lisboa amanhã, sexta-feira, às 19h (no jardim frente ao Palácio de
Belém), e estão, para já, a incentivar outras pessoas que queiram fazer o mesmo
que eles: trazer uma família (sem a desmembrar) que possa ser apoiada em
Portugal, de modo a refazer parte da sua vida. Mas o apoio na hora da partida
pode ser manifestado por quem assim o entender.
“Só queríamos mostrar que qualquer
pessoa, com os seus meios, pode ajudar o próximo”, diz Nuno Félix ao
RELIGIONLINE, a propósito da ideia. “Por vezes complicamos muito quando se
trata de fazer algo pelo outro. Nós não somos melhores nem mais corajosos que
outros, nem vamos correr riscos para lá do que correríamos a fazer turismo. Só
não podíamos ficar à espera perante a demissão do papel dos Estados e a
falência total da resposta humanitária da União Europeia.”
A caravana, que conta para já com
a adesão garantida de quatro viaturas (cada uma delas com piloto e co-piloto),
mas que tem já duas dezenas de pessoas a manifestar vontade de participar
também, propõe-se fazer os três mil quilómetros até à Croácia passando por
Madrid, Barcelona, Marselha e Milão. Dia 28, segunda-feira, às sete da manhã,
contam chegar a Zagrebe, para recolher as famílias que sejam escolhidas e
empreender com elas a viagem de regresso a Portugal. Contam, para isso, com o
apoio da Cáritas croata e de outras organizações não-governamentais e
humanitárias a trabalhar no terreno.
A iniciativa tem já um grupo no
Facebook intitulado Famílias como as
nossas e está explicada aqui em pormenor.
Nessa página, várias pessoas quiseram reunir apoios para que outros, que
desejavam ter o mesmo gesto mas diziam não ter meios de pagar a viagem,
pudessem levar os seus carros. Assim, nasceu a possibilidade de apoiar com
vales para gasóleo e também com medicamentos. Os dois iniciadores da ideia
fazem questão, no entanto, de não aceitar apoio: “Não é preciso ser ajudado
para ajudar.”
Numa carta que escreveram a falar
do projecto, dizem Nuno Félix e Pedro Policarpo:
Somos dois amigos, Nuno Félix e Pedro Policarpo, ambos casados, ambos
pais de quatro filhos menores e a nosso cargo. Sabemos o que temos. Como é bom
viver em liberdade, em paz e segurança, com as pessoas que amamos, criando e
educando os nossos filhos de acordo com os mesmos valores humanistas e
princípios da solidariedade e da tolerância que foram basilares na fundação
desta União Europeia.
Mas a maior crise humanitária na Europa desde a II Guerra Mundial está
a acontecer:
Há centenas de milhares de pessoas, milhares de famílias fugidas de
atrocidades, em desespero e que padecem na soleira da porta da UE.
Há crianças que dão à costa, afogadas à vista das nossas praias.
E os países e instituições europeias? O que têm feito por estas
famílias e por estas crianças?
A nossa missão será ajudar a
salvar #familias_como_as_nossas que a nosso
convite voluntariamente se queiram candidatar a asilo no nosso país.
Cada uma das nossas duas famílias acolherá outra, e cada família que a
nós se juntar, disponibilizando e levando o seu carro de todos os dias, aquele
com que faz a vida familiar e transporta os seus próprios filhos,
acolherá outra família como a sua, que neste momento exaspera às portas da
Europa por consensos que não acontecem e por auxílio que tarda em chegar.
Na viagem de ida, aproveitaremos o espaço disponível nos nossos carros
para levar ajuda humanitária, nomeadamente, dispositivos médicos e
medicamentos.
Chegados ao local, convidaremos essas famílias com base nos seguintes
critérios:
(i) O número de filhos menores de 12 anos;
(ii) O nível de precariedade com que se encontram no local.
Estas famílias serão previamente seleccionadas no local por organizações
humanitárias que já ali se encontram e com as quais estamos em contacto
permanente.
Por muito legítimo que seja o desespero de alguns pais dispostos a tudo
para salvar os seus filhos, não promoveremos o desmembramento de famílias
nucleares.
Chegados a Portugal, providenciaremos o alojamento destas famílias
por meios próprios, bem como asseguraremos, a título particular, a sua
subsistência e acompanhamento durante todo o processo de pedido de asilo
como refugiados de guerra.
Em poucos anos os nossos filhos vão perguntar-nos o que fizemos para
ajudar. Não precisamos de esperar que alguém nos diga que podemos fazer o que
está correto e o que é justo, pois fazer o bem não pode ser ilegal, ainda
assim, o que fizermos será no estrito respeito pelas leis vigentes no
nosso país e nas dos países por onde passar a
#caravana_familias_como_as_nossas.
Todos os dias, o número de pessoas interessadas em juntarem-se a nós
tem crescido, pelo que não é possível determinar neste preciso momento a
dimensão da caravana. O destino é a Hungria ou a Croácia, de acordo com o local
que seja mais seguro e onde a ajuda seja mais necessária no momento aproximado
da chegada, uma vez que as organizações com as quais estamos em contacto, como
a Cáritas Internacional e o ACNUR, também elas se movimentam rapidamente no
terreno. Guiaremos as carrinhas com que levamos os nossos filhos todos os dias
à escola, e na fronteira balcânica da União Europeia, cada um de nós ajudará a
salvar #familias_como_as_nossas.
Texto anterior no blogue
Uma Igreja serva e pobre - Tardes de Setembro no Convento de São Domingos
1 comentário:
Caros amigos
Imensa coragem
Boa viagem e êxito na tarefa
Que voltem bem
Kuka
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