Texto, fotos e vídeo de Maria Wilton
As velas de Hanukkah: “A luz é a única coisa que, quando partilhamos, não ficamos com menos.
Se passarmos uma chama, ficamos com duas.”
A Baía de Cascais está calma. A noite de quinta-feira, 6 de dezembro, parece outra qualquer, na hora de regressar a casa. Mas a roda gigante que ali está montada para a época do Natal celebra, hoje outra festa. No letreiro luminoso, lê-se: “Feliz Hanukkah”.
Ali ao lado, quase escondida de quem passa, cerca de uma centena de pessoas reúne-se numa grande tenda para assinalar a quinta noite do Hanukkah, a Festa das Luzes judaica. É uma das mais importantes do calendário: durante oito dias, recorda-se a inauguração do segundo Templo de Jerusalém, depois de este ter sido profanado pelos selêucidas sírios.
A história de Hanukkah está contada no primeiro e segundo livros dos Macabeus, que integram a Bíblia judaica. Nestes está descrita em detalhe a história que originou a celebração: Em 165 a.E.C. (antes da Era Comum), o rei Antioco Epifânio queria helenizar a Síria e a Judeia, de maneira violenta. Para isso, proibia celebração do Shabat, a leitura da Bíblia e a circuncisão e mandou colocar no Tempo de Jerusalém uma estátua de Júpiter, chegando a ordenar sacrifícios com porcos.
Os israelitas revoltaram-se e Judá Macabeu liderou uma guerra de guerrilha contra a ocupação selêucida. Quando, depois da reconquista de Jerusalém, os judeus purificaram o Templo, conta-se que foi encontrado um pote com azeite para acender a chama sagrada durante um dia. Mas o azeite queimou durante oito dias.
Um judeu na cerimónia de quinta-feira: a festa assinalar a libertação da ocupação selêucida
Em memória desses acontecimentos, os judeus acendem as velas de um menorá ou hanukkiah, candelabro com nove braços. Neste, um dos braços está tipicamente elevado em relação aos restantes e essa vela, a shamash, é utilizada para acender as oito restantes, uma por cada noite de Hanukkah.
Em Cascais, o organização da cerimónia é da Casa Chabad, movimento judaico ortodoxo liderado pelo rabi Eli Rosenfeld que, com a esposa Raizel Rosenfeld, vieram dos Estados Unidos há nove anos. “O Hanukkah é celebrado de uma maneira diferente das restantes festas judaicas”, contou o rabi ao RELIGIONLINE. “As outras são celebradas em casa ou na sinagoga. O Hanukkah é celebrado pela partilha da luz. E, para partilhar a luz, não nos podemos esconder, temos de estar cá fora para que todos possam ver e inspirar-se.”
O rabi Eli Rosenfeld: “É muito importante que, ao celebrar esta festa de unidade, nos juntemos.”
Com pouco mais de 30 anos, e usando as vestes tradicionais de um judeu ortodoxo, Eli Rosenfeld está sempre rodeado de gente, muito requisitado pela comunidade, algo de que gosta: “A luz é a única coisa que, quando partilhamos, não ficamos com menos. Se passarmos uma chama, ficamos com duas. É muito importante que, ao celebrar esta festa de unidade, nos juntemos.”
Nas primeiras filas sentam-se os convidados: os embaixadores de Israel, Raphael Gamzou, e dos Estados Unidos, George E. Glass, e o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras. Nas últimas filas, há mesas com doces tradicionais e bebidas quentes, próprios desta celebração. Os doces são sobretudo fritos tendo em conta o simbolismo do azeite nesta festa.
Entre risos de crianças e música, numa atmosfera calorosa e familiar ouviram-se alguns discursos: Robert Glass falou da importância da liberdade religiosa, afirmando que o Presidente dos EUA “tem sido um campeão” a bater-se por ela, já que esta é um dos pilares fundadores dos Estados Unidos; em português, o embaixador de Israel salientou a importância da festa “de verdade e luz” e a sua esperança de que a luz se expanda para toda a Europa, especialmente numa altura em que aumentam os casos de anti-semitismo.
Ao acender as velas, a pequena multidão canta algumas canções de festa. Depois, o rabi dirige-se aos fiéis: “Aqui, em Cascais, temos uma forte família com muita gente, e isso é o que a celebração é, o juntar da família, com orgulho e fé.”
Sorteia-se um menorá, depois de cada um tentar adivinhar quantos dreidels, pião de quatro lados jogado durante o feriado judaico, estavam num jarro. Antes da conclusão da cerimónia, houve ainda tempo para escutar os testemunhos de três judeus, que explicaram a essência da celebração e o que significa para eles ser crente.
Para planos futuros da comunidade, Eli Rosenfeld anuncia um novo centro judaico da casa Chabad na costa da Guia, a ser construído em parceria com a Câmara de Cascais. E deseja: “Feliz Hanukkah, espero uma maior celebração para o próximo ano aqui em Cascais, nunca longe do Atlântico.”
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