(foto reproduzida daqui)
No
último texto do blogue que alimentava, escreveu, em dia da festa de Santo
António: “Os pobres são os porteiros do Reino de Deus.” José Dias da Silva
manteve até ao fim a fidelidade a profundas convicções de quem aliava a fé em
Jesus à confiança num futuro mais justo e solidário para a humanidade. Por
isso, pediu que, no seu funeral, não houvesse flores e que, quem quisesse,
substituísse esse gesto pela contribuição para o fundo solidário do Instituto
Universitário Justiça e Paz, que apoia estudantes do universitários com
dificuldades económicas.
O
funeral de José Dias da Silva realiza-se esta manhã, da Igreja de São José para
o cemitério da Conchada, em Coimbra. Despedimo-nos, assim, de alguém que sabia
aliar fé e compromisso, como diz o título do blogue onde escrevia.
Essa
síntese foi sempre, aliás, uma das preocupações maiores do Zé Dias, como o tratavam
os seus amigos. A sua preocupação era ser coerente com a fé em Jesus, que o
animava, e com aquilo que lia da Bíblia e do pensamento social da Igreja, que
conhecia como poucos. Apesar de há vários anos lutar contra a doença que o
minava, tinha ainda tempo para telefonar e escrever a outros a perguntar pela
saúde, a animá-los nas desventuras da vida, para ser solidário, para desejar
que a vida fosse mais benévola para todos ou para programar actividades que
ajudassem a divulgar a doutrina social da Igreja, para continuar como membro da
Comissão Nacional Justiça e Paz, da Comissão Coordenadora Nacional das Semanas
Sociais e da Comissão Permanente do Conselho Pastoral Diocesano de Coimbra.
Pode
dizer-se que essa reflexão sobre as consequências sociais e políticas do
evangelho era uma das suas grandes paixões. Era ele o responsável pelo módulo
de Doutrina Social da Igreja na Escola de Leigos da diocese de Coimbra, além de
ter orientado e participado em dezenas de cursos e encontros. Colaborador do
Instituto de Estudos Teológicos, publicou os livros Viver o Evangelho Servindo a Pessoa e a Sociedade – Introdução à
Doutrina Social da Igreja (ed. Gráfica de Coimbra) e Memórias de um Tempo Futuro, que reúne crónicas publicadas na
revista Além-Mar, dos Missionários
Combonianos, e no jornal Correio de
Coimbra.
Além
dos “Sinais”, que publicou durante largos anos na Além-Mar, e de O Correio de
Coimbra, também o Notícias de Vila
Real e as revistas Mensageiro de
Santo António e Estudos Teológicos
eram publicações com que colaborava.
Nascido
a 15 de Março de 1942, no Souto de Brejo, Pampilhosa da Serra, José Dias da
Silva era casado e tinha dois filhos.
Tendo
frequentado durante oito anos os seminários da diocese de Coimbra, acabou por
se licenciar em Físico-Químicas pela Universidade de Coimbra, tendo depois
chegado a assistente do Departamento de Química da mesma universidade. Foi investigador
em Química de produtos naturais e em Química Teórica. Reformou-se após duas
décadas de trabalho, para se dedicar a tempo inteiro às suas responsabilidades
familiares e às tarefas eclesiais e sociais nas quais se envolvia.
Em
todos os textos e intervenções, mesmo nas conversas pessoais que mantinha,
vinha ao de cima a sua profundidade bíblica e teológica, aliada às preocupações
sociais. Na Além-Mar, escrevia por
exemplo em Junho de 2009, sobre “Cidadania e imigrações” e a propósito da
identidade cultural dos imigrantes: “Este reconhecimento (...) implica, pelo
menos, duas condições: vencer os nossos preconceitos, imitando a confiança de
Abel e não o ressentimento de Caim; manter um diálogo leal entre as várias
mundividências, superando, a todo o custo, a confusão de Babel pela abertura do
Pentecostes.”
Paz,
direitos humanos, cidadania, imigração, tráfico de pessoas, direitos das
crianças, o lugar das mulheres na sociedade, a maior consciência eclesial dos
crentes, a participação dos leigos na vida da Igreja, o estilo de vida, a
pobreza, o desenvolvimento, o comércio justo – todos esses e muitos outros
temas faziam parte da vasta agenda de consciencialização de José Dias da Silva.
Não
por acaso, o texto citado no início acabou por tornar-se no último de uma série
sobre os textos da Bíblia que mais o marcaram: “Quem diria? Os mais esquecidos
e abandonados pela sociedade, pelos governantes, os que ninguém conhece, são
esses que irão abrir-nos a porta do Céu. No Reino de Deus é assim: como os que
mais precisam são os que menos têm, são estes que têm a prioridade.”
E
a concluir esse artigo, escrevia, sobre a parábola do juízo final, no evangelho
de São Mateus: “Também eu me senti empurrado por estas palavras a ajudar os
outros, de acordo com os meus talentos e as minhas limitações. Na fase em que
me aprestava para iniciar a minha vida profissional, estas reflexões foram
muito importantes para orientar o meu futuro.”
José
Dias é um bom porteiro do Reino de Deus.
2 comentários:
Recomendo a leitura da sua Crónica "É muito bom estar vivo".
Um grande Testemunho de Fé, e de Amor pela Vida, de um Grande Cristão.
"Cá vamos vivendo embrulhados no Amor e na Fé, na Esperança de uma Felicidade Eterna".
Obrigado por essa Esperança, Amigo.
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