(Em jeito de primeiro balanço, publiquei hoje no Público um comentário à visita do Papa a África)
Há algumas ideias que já se podem reter desta primeira viagem de Bento XVI a Angola. O preservativo não é, seguramente, a mais importante. Na Igreja Católica, esta questão só é problema porque, há 40 anos, na redacção da encíclica Humanae Vitae, sobre a regulação dos nascimentos, foram derrotados, por pressões da Cúria Romana, os que defendiam a abertura aos meios anticoncepcionais "artificiais" - entre os quais o preservativo ou a pílula.
Não fosse isso e estas discussões não existiriam. E a Igreja poderia denunciar mais claramente os lobbies que insistem no preservativo como solução quase única para a sida. E poderia pedir com mais vigor os tratamentos grátis que o Vaticano tantas vezes tem defendido - sem igual eco nos media, diga-se. Este é o outro lado do problema: a obsessão do Papa e do Vaticano na oposição ao preservativo só tem paralelo na obsessão mediática por estes temas. As outras posições de Bento XVI, de igual ou maior importância, são quase sempre olimpicamente ignoradas.
Por exemplo: o que disse Bento XVI sobre corrupção, tribalismo, tráfico de armas, depredação de recursos naturais e o mais que se queira conferir nos discursos desta viagem. Esses, sim, foram os temas importantes, a que os media não ligaram. Com isso entrando no jogo dos corruptos africanos, dos traficantes e dos senhores da guerra.
Preocupante, mesmo, é a afirmação da ideia europeia e romana de Bento XVI: as liturgias celebradas pelo Papa pouco deixaram ver a alma africana e a sua exuberância. O aviso feito aos bispos, nos Camarões, sobre a necessidade de a alegria na liturgia não ser um "obstáculo" à "comunhão com Deus", à "interiorização" e à "dignidade das celebrações" é um sinal de que a inculturação terá que ter os limites que o Vaticano estabelecer. Deixando pouca margem às comunidades católicas africanas e afirmando mais uma vez o centralismo.
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