A urgência de coesão atravessa plataformas e dinâmicas sociais. É um imperativo ético quando se multiplicam, dia-a-dia, dramas com repercussões imprevisíveis. Porque o momento não é para discussões inúteis, governo e instituições de solidariedade têm nesta "crise" a prova de fogo.
Este tempo impõe o fim dos preconceitos e a confiança que faz parcerias. Não cabe só ao governo resolver um problema que ultrapassa a política e a economia. O “tsunami” que invade o nosso estilo de vida requer a generosidade política, mas, acima de tudo, a mudança de paradigmas.
Se, na emergência da “crise”, se exige ao governo, mais do que nunca, a justa distribuição – reduzindo o “fosso”, travando remunerações insensatas, acabando com regalias imorais, regulando o tecido produtivo, actuando na salvaguarda dos postos de trabalho e das empresas, rectificando desvios, atenuando, como parceiro, o inevitável sofrimento das vítimas de um sistema económico-financeiro em redimensionamento… –, às instituições de solidariedade não pode deixar de se pedir a ousadia da denúncia e da co-responsabilidade.
Sem negar a caridade “assistencialista” e prioritária, IPSS’s, ONG’s e Misericórdias têm a vocação para a proximidade, agindo onde não chega(m) o(s) governo(s), promovendo o desenvolvimento familiar, a autonomia do indivíduo, a solidariedade como matriz de relacionamento, a participação como princípio de cidadania, a família como veículo para a mudança.
Grande parte destas instituições vive sustentada na Doutrina Social da Igreja, embora esta esteja ainda longe de ser um instrumento de trabalho. Escassamente assumida com convicção, a vocação para “capacitar” deve, para as instituições de inspiração cristã, ser a carta orientadora do presente, como nova epistola Paulina. O passado mostrou que os tempos de fragilidade humana são normalmente de “procura” e, por conseguinte, de um apressado e desonesto proselitismo que reforça dependências.
Neste tempo de impactos globais e globais medidas que fazem vacilar “doutrinas”, urge também a coragem de ver mais além, de forma arrojada e criativa, com propostas consistentes a longo prazo, começando na reflexão interna – “ser” e “estar” disponível – sobre a atitude que determinará uma alteração de comportamentos, dentro da própria estrutura eclesial. Acolhendo, incluindo, pondo fim a arcaicas limitações.
Um velho sábio, missionário do mundo, nascido na Europa, que estacionou na América do Sul depois de passar por África e pela Ásia, disse-me um dia, numa divertida discussão sobre a "luta de classes" e as ligações perigosas entre a política e a Igreja, que "o Evangelho é transparente, não tem camisola, por isso não lhe vistam fato de gala".
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