terça-feira, 3 de setembro de 2013

"A separação entre os Reinos de Deus e o de César" em entrevista a Fernando Catroga




A Revista do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), do Brasil, publica no seu número mais recente uma entrevista com o filósofo e historiador português Fernando Catroga, da Universidade de Coimbra, em que reflete sobre os conceitos de secularização, laicidade, religião e 'religião civil'. A entrevista, dada por e-mail, foi conduzida por Márcia Junges.


IHU On-Line - Qual é o nexo existente entre secularização e laicidade?
Fernando Catroga - Confesso que uma das razões que me levou a aprofundar essa temática nasceu da tomada de consciência de que, onde ela foi fortemente tocada pela influência francesa – como ocorreu em PortugalEspanha,Itália e em alguns dos países da América Latina, com particular destaque para o México –, perdura uma grande confusão no uso dos conceitos de secularização e de laicização. Daí a ênfase que tenho dado à sua perspetivação histórica e à busca do seu entendimento na longa duração, porque os seus campos semânticos conotam e denotam realidades históricas diferentes. Saliente-se que, se a palavra “século” e seus derivados têm uma origem latina e referem-se a escalas temporais (geração, lapso de tempo, duração da vida, período máximo de cem anos), “laico” radica em “laos”, um dos vocábulos usados pelos gregos antigos para designar “povo”.

É um fato que ambos foram integrados na linguagem cristã, recuperação que, no primeiro caso, teve por mediador a tradução, feita por S. Jerônimo, de “século” como “mundo”, numa espécie de sinonímia com “Kosmos”, e que, no segundo, decorreu da utilização de “laos”, nas traduções gregas do Antigo Testamento, para significar a ideia de “povo de Deus”. E, com a institucionalização gradual da Igreja, as duas expressões entraram na linguagem eclesiástica: a última, para denominar a comunidade dos fieis; e a primeira, para distinguir os clérigos dos crentes. E será necessário chegar à segunda metade do século XVIII para que se assista ao alargamento de derivados de “saeculum” a esferas “exteriores” à Igreja, primeiramente aplicada à expropriação dos bens eclesiásticos e, depois, à questão do ensino e à luta pela neutralização religiosa do Estado. No entanto, só no final do século XIX, estes fenômenos passaram a ser objeto de reflexão, num crescendo que, na centúria seguinte e, em particular, após a II Guerra Mundial, dará azo ao aparecimento de filosofias, sociologias e teologias da secularização, até se chegar ao debate atual acerca da “dessecularização” e, portanto, da pertinência, ou não, dos prognósticos que acompanharam muitas dessas reflexões.
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