A Revista do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), do Brasil,
publica no seu número mais recente uma entrevista com o filósofo e historiador
português Fernando Catroga, da Universidade de Coimbra, em que reflete sobre os
conceitos de secularização, laicidade, religião e 'religião civil'. A entrevista,
dada por e-mail, foi conduzida por Márcia Junges.
IHU On-Line - Qual é o nexo
existente entre secularização e laicidade?
Fernando
Catroga - Confesso que uma das razões
que me levou a aprofundar essa temática nasceu da tomada de consciência de que,
onde ela foi fortemente tocada pela influência francesa – como ocorreu em Portugal, Espanha,Itália e em alguns dos países da América
Latina, com particular destaque para o México –,
perdura uma grande confusão no uso dos conceitos de secularização e de laicização.
Daí a ênfase que tenho dado à sua perspetivação histórica e à busca do seu
entendimento na longa duração, porque os seus campos semânticos conotam e
denotam realidades históricas diferentes. Saliente-se que, se a palavra
“século” e seus derivados têm uma origem latina e referem-se a escalas
temporais (geração, lapso de tempo, duração da vida, período máximo de cem
anos), “laico” radica em “laos”, um dos vocábulos usados pelos gregos antigos
para designar “povo”.
É um fato que ambos foram integrados
na linguagem cristã, recuperação que, no primeiro caso, teve por mediador a
tradução, feita por S. Jerônimo, de
“século” como “mundo”, numa espécie de sinonímia com “Kosmos”, e que, no
segundo, decorreu da utilização de “laos”, nas traduções gregas do Antigo Testamento,
para significar a ideia de “povo de Deus”. E, com a institucionalização gradual
da Igreja, as duas expressões entraram na linguagem eclesiástica: a última,
para denominar a comunidade dos fieis; e a primeira, para distinguir os
clérigos dos crentes. E será necessário chegar à segunda metade do século XVIII
para que se assista ao alargamento de derivados de “saeculum” a esferas
“exteriores” à Igreja, primeiramente aplicada à expropriação dos bens
eclesiásticos e, depois, à questão do ensino e à luta pela neutralização
religiosa do Estado. No entanto, só no final do século XIX, estes fenômenos
passaram a ser objeto de reflexão, num crescendo que, na centúria seguinte e,
em particular, após a II Guerra Mundial,
dará azo ao aparecimento de filosofias, sociologias e teologias da
secularização, até se chegar ao debate atual acerca da “dessecularização” e,
portanto, da pertinência, ou não, dos prognósticos que acompanharam muitas
dessas reflexões.
(...)
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