A questão demográfica coloca questões existenciais da vida das pessoas e para as sociedades. Portugal, como é sabido, ocupa uma posição de destaque nada honrosa entre os países mais infecundos, problema que, articulado com outros fenómenos, afeta sobretudo as regiões do interior.
Na tomada de posse como reitor da Universidade Interior, nesta
quinta-feira, o catedrático de comunicação António Fidalgo optou por colocar
frontalmente este problema, equacionando não apenas as evidências estatísticas
e os fatores económicos e socioculturais, mas também os valores e
mundividências dominantes.
Ainda que o discurso mereça ser lido na íntegra, deixo aqui este
tópico:
Sigmund Freud definiu os instintos do Eros e do Thanatos, da vida
e da morte, como forças motrizes da existência humana. O estranho da nossa
civilização é como o eros, o princípio da vida, e da reprodução, se
generalizou, banalizou e inutilizou. O erotismo que invadiu todas as esferas da
vida humana (e basta olhar a publicidade) deixou de ser uma força criadora de abertura
e ligação aos outros, para se tornar um objectivo em si mesmo, em instinto
egocêntrico e de auto-satisfação. Mas, ao transformar-se em hedonismo apenas
preocupado com o momento presente, perdeu a dimensão de futuro que lhe é
intrinsecamente própria e com isso tornou-se inane.
O resultado deste auto-centramento erótico é, mais do que
estranho, paradoxal. A sua inanidade tornou-o uma forma de Thanatos social. Na
verdade, como denominar a falta de vontade de manter a comunidade em que
vivemos, de assegurar o seu futuro, senão como suicídio colectivo a prazo?
Se alguém achar
que isto é apenas consideração teórica, aconselho-o a verificar os registos de
nascimento e de óbito da maioria dos concelhos da região [da Beira Interior] ou
então visitar aldeias onde as escolas primárias fecharam há muito e onde se
pode assistir à morte lenta de comunidades outrora cheias de vida.
(Ler o discurso AQUI)
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