(foto reproduzida daqui)
O
jejum e a vigília convocados pelo Papa Francisco poderão ser um sinal forte da
determinação das opiniões públicas contra a hipótese de mais uma intervenção
armada. A concretizar-se, esta intervenção seguir-se-ia às sempre ambíguas
posições da União Europeia e dos Estados Unidos – apoio não declarado a
rebeldes armados, em lugar de uma acção decidida e eficaz no campo diplomático
– e que, de novo, levaram a uma situação que se assemelha ao que já foi visto
em Belgrado, no Afeganistão ou no Iraque, sem que a guerra tenha resolvido
qualquer problema – bem pelo contrário...
Em Portugal, em simultâneo com a vigília de oração presidida pelo Papa na Praça de São Pedro (entre as 19h e as 24h), estão previstas várias iniciativas – a agência Ecclesia tem divulgado várias delas. Em Évora, um grupo de crentes e não-crentes mobilizou-se também para, entre as 21h e as 23h, na Igreja de São Vicente, fazer uma “vigília de reflexão e partilha”. A iniciativa incluirá o testemunho de Adel Sidarus, cristão copta, professor universitário de origem egípcia, e momentos de música e poesia.
A convocatória recorda as guerras mundiais e o seu nível de violência e destruição, bem como as intervenções armadas em países como o Afeganistão, o Iraque ou a Líbia, que não tiveram os resultados que sempre foram anunciados – antes agravaram os conflitos que se propunham extinguir. Por contraste, recorda-se o papel de Gandhi, Luther King, Mandela ou do movimento em defesa de Timor-Leste, que recusaram a luta violenta e conseguiram encontrar soluções de reconciliação e diálogo.
As
vozes contra a hipótese de uma intervenção militar internacional na Síria
multiplicam-se mesmo fora do âmbito católico. O apelo do Papa, feito domingo passado na recitação do Angelus, seguia-se
já à advertência do arcebispo de Cantuária, primaz da Comunhão Anglicana. Justin Welby avisara contra as “consequências imprevisíveis” que uma tal intervenção
poderia ter.
Também
o patriarcado ortodoxo de Moscovo criticou a eventual entrada dos Estados
Unidos no conflito sírio: “Mais uma vez, como no caso do Iraque, os Estados
Unidos comportam-se como o justiceiro internacional”, disse o metropolita Hilarion de Volokolamsk, responsável do
departamento das relações públicas do patriarcado.
O
geral dos jesuítas, padre Adolfo Nicolás, também é muito crítico da hipótese de
uma intervenção. Em declarações ao ReligionDigital, diz que “os Estados Unidos
da América devem deixar de actuar e reagir como o rapaz mais velho no bairro do
mundo. E acusava quer os EUA quer a França, avançando com a intervenção
militar, se tornarem responsáveis da barbárie a que seremos conduzidos”.
O
cardeal Louis Sako, líder católico no Iraque, lamenta que o Ocidente não tenha
aprendido ainda com aquilo que aconteceu no seu próprio país. “ Uma
intervenção militar por parte dos Estados
Unidos matará muitos inocentes e destruirá infraestruturas e casas
(pensem no caso do Iraque) e não
se sabe suas consequências sobre a Síria e
sobre os países vizinhos. Além disso, com que direito, primeiro, vendem armas à
Síria e ao Iraque e depois os atacam?”,
pergunta, numa entrevista que pode ser lida aqui.
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