Crónica
Na sua
edição de final de Agosto, a revista The Economist publicava na capa uma imagem
de Bashar Al-Assad a preto e branco semi-fundida com imagens de corpos de
alegadas vítimas de gás sarin, sobre a qual surgia este título: “Hit him hard”
(dêem-lhe com força). Muitos outros meios de comunicação seguiram caminhos
idênticos, antes mesmo de haver inspecções aos locais onde centenas de pessoas,
incluindo crianças, foram gaseadas de forma hedionda e inaceitável.
Apesar do
clamor das opiniões públicas de tantos países, incluindo nos Estados Unidos;
apesar da mobilizadora vigília organizada em Roma e um pouco por todo o mundo
pelo Papa Francisco; apesar de advertências como a do secretário-geral das
Nações Unidas, Obama avançará para a intervenção militar na Síria, salvo
surpresa de última hora. Fá-lo-á num quadro em que as consequências de tal
acção se mostram imprevisíveis e de que se pode suspeitar com boas razões que
quem acabará por sofrer mais serão os já martirizados civis sírios.
Barack Obama
e os Estados Unidos não conseguiram convencer o mundo de que não são os
interesses militares, económicos e geopolíticos que verdadeiramente motivam
mais esta intervenção à margem das leis internacionais. A maquinaria da guerra
já foi posta em movimento e, quando assim é, os grandes media costumam adotar
uma lógica de atuação que os torna funcionais à própria guerra. Nesse simulacro
de cobertura, começa-se por abandonar as grandes questões éticas e morais, em
favor de uma abordagem asseptizada: entram em cena especialistas militares;
imagens e gráficos de equipamentos; munições e posicionamentos no terreno;
antevisões e comentários às movimentações e falas dos intervenientes. A
tecnologia, a estratégia e as operações são aquilo que enche os ecrãs. As
pessoas eclipsam-se desse tipo de cobertura e só aparecem quando porventura se
consegue alguma imagem dos ‘efeitos colaterais’ dos mísseis.
Não há informação mais controlada do que aquela que nos chega em tempo de guerra. E controlo, neste cenário, significa frequentemente manipulação. É por isso que importa accionar todos os recursos, toda a capacidade crítica e toda a prudência para não embarcar à primeira naquilo que nos vão vender. Os grandes media, de uma forma ou de outra, não se limitam a cobrir a guerra. Fazem, ainda que involuntariamente, parte da própria guerra.
Não há informação mais controlada do que aquela que nos chega em tempo de guerra. E controlo, neste cenário, significa frequentemente manipulação. É por isso que importa accionar todos os recursos, toda a capacidade crítica e toda a prudência para não embarcar à primeira naquilo que nos vão vender. Os grandes media, de uma forma ou de outra, não se limitam a cobrir a guerra. Fazem, ainda que involuntariamente, parte da própria guerra.
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