segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Papa Francisco: "Onde não há trabalho falta a dignidade"

O discurso do Papa ao mundo do trabalho em Cagliari, Sardenha, neste domingo
(texto do improviso; o texto preparado, mas não lido, pode encontrar-se AQUI, por ora apenas em italiano).
Esta visita começa precisamente convosco, o mundo do trabalho.
Quero expressar a minha proximidade, especialmente perante a situação de sofrimento de tantos jovens sem trabalho...
Meu pai, ainda jovem, foi para a Argentina, cheio de entusiasmo para fazer as Américas. Surgiu a terrível crise e perdeu tudo. Senti na minha infância falar sobre esse tempo em minha casa, ouvi falar sobre esse sofrimento, que conheço bem.
Peço-vos coragem. E que esta não seja uma bonita palavra de circunstância. Não seja apenas o sorriso de um simpático funcionário da Igreja, que vem e vos pede coragem. Não, não é isso que eu quero.
Esta é a segunda cidade que visito na Itália : as duas são ilhas. Na primeira, vi o sofrimento de tantas pessoas que, arriscando a vida , buscam dignidade , pão e saúde. São os refugiados.
E eu vi a resposta daquela cidade que, sendo ilha, não quis isolar-se e recebe os refugiados, fa-los seus e dá um exemplo de acolhimento.
Aqui, encontro também sofrimento, que vos debilita e acaba por vos roubar a esperança. Sofrimento, a falta de trabalho, que leva (e desculpai-me se sou um pouco forte, mas é verdade) a sentir-se sem dignidade. Onde não há trabalho falta a dignidade.
E este não é um problema só da Sardenha , da Itália, da Europa. É a consequência de um sistema económico que leva a essa tragédia. Um sistema económico que coloca no centro um ídolo chamado dinheiro. Ora Deus quis, no centro, no centro do mundo, não um ídolo, mas o homem e a mulher, que façam avançar o mundo com o seu trabalho.
Nesse sistema sem ética, no meio está um ídolo e o mundo tornou-se idólatra do dinheiro.
E para defender esse ídolo, ajudam o centro e deixam cair os extremos: os idosos ... Este mundo não está feito para eles ... eutanásia escondida ... E caem os jovens, que não conseguem encontrar trabalho.
Este mundo não tem futuro, porque as pessoas não têm dignidade sem trabalho. Este é o vosso sofrimento.
É uma oração: trabalho, trabalho, trabalho. Trabalho significa trazer para casa o pão, amor, dignidade...
E para defender esse sistema idólatra instala-se a cultura do descarte: descarta-se os idosos e os jovens.
Nós queremos um sistema justo. Não este sistema económico globalizado que nos faz tanto mal. No centro, a mulher e o homem, e não o dinheiro.
Eu tinha escrito uma coisa para vocês, mas ao ver-vos, vieram-me estas palavras. Irei entregar ao bispo o meu discurso. Preferi dizer-vos o que o que me sai coração, ao ver-vos neste momento.
É fácil dizer: não percam a esperança, não deixeis que vos roubem a esperança. A esperança é como as brasas debaixo das cinzas. Ajudemo-nos com a solidariedade, soprando, para que surja a esperança...
A esperança devemos alimentá-la juntos, porque é uma coisa de todos.
Mas sejamos inteligentes. O Senhor adverte que os ídolos são mais espertos do que nós. Convida-nos a ter a astúcia da serpente e a bondade da pomba. Vamos chamar as coisas pelo seu nome. Lutemos para que no centro esteja não um ídolo, mas a família humana.
Gostaria de terminar rezando com vocês em silêncio. Direi o que me for saindo do coração. Em silêncio rezem comigo:
Senhor Deus , olha para nós.
Olha para esta cidade e esta ilha.
Olha para as nossas famílias.
Senhor , a Ti não faltou trabalho de carpinteiro. Foste feliz.
Senhor, não temos trabalho.
Os ídolos querem roubar-nos a dignidade.
O sistema injusto quer roubar-nos a esperança.
Senhor, não nos deixes sós.
Ajuda-nos a ajudar-nos uns aos outros.
Que deixemos o egoísmo e sintamos em nossos corações o 'nós',  as pessoas que querem seguir em frente.
Senhor Jesus que não nos falte trabalho, dá-nos trabalho e ensina-nos a lutar pelo trabalho.
Muito obrigado e rezem por mim.
(Traduzido a partir de Religion Digital; Foto: pormenor da igreja da Sagrada Família, Barcelona) 

Sem comentários: