O
português Carlos Maria Antunes, do Mosteiro do Sobrado (Galiza), fez a sua
profissão solene de monge cisterciense no passado dia 21 de Setembro. Uma
pequena descrição dos principais gestos da cerimónia, bem como uma reportagem
fotográfica (de onde também se reproduz a foto, com Carlos Antunes à direita) podem ser vistas aqui.
A
profissão inclui a afirmação dos três votos cistercienses: obediência ao prior,
estabilidade no mosteiro e na comunidade em que se é acolhido, e aspiração a
uma transformação interior que se plasme no exterior.
“O
nosso lugar é o caminho. Tão depressa como comecemos a desfazer as malas para
nos instalarmos, assim a nossa solidão e inquietude nos fazem voltar e desejar
o caminho. Estamos feitos para um amor e uma unidade infinitos”, escreve Carlos
Maria Antunes em Atravessar a Própria Solidão (ed. Paulinas).
Um
dos gestos da cerimónia é o de o monge que faz os votos se ajoelhar diante de
cada um dos outros monges que, por sua vez, o ajuda a levantar-se. “É um gesto
que contém um significado poderoso”, lê-se na descrição. “A comunidade acolhe e
eleva. Pois o monge, como diz o conhecido apotegma [aforismo], é aquele que cai
e se levanta, cai e se levanta...”
No
mesmo livro, escreve Carlos Antunes: “Temos de aceitar que esta inquietude é
uma parte incurável do ser humano. Não aceitar esta condição conduzir-nos-á a
viver fora de nós. Para canalizar criativamente esta inquietude, cada um de nós
terá de ir por dentro de si mesmo, na busca desse infinito, na busca do rosto
de Deus (...) A nossa sede mais profunda, quando aceite coloca-nos a caminho,
em atitude de procura; gera em nós disponibilidade para o novo, gera em nós
abertura.”
Um
dos outros gestos da profissão solene é a prostração do monge, que não é
encarada como humilhação ou submissão, mas como humilde aceitação da vontade de
Deus em si mesmo. E que deve traduzir o verdadeiro rosto de Deus.
Em
Só o Pobre se faz Pão (ed. Paulinas), outro
livro publicado por frei Carlos Maria Antunes (sobre o qual se pode ler aqui uma entrevista ao autor) escreve o monge do Sobrado: “O
pobre não me pede só o pão, pede-me a vida. E o que seria de mim sem os que me
pedem a vida? Somos todos pobres – na diversidade das expressões da pobreza – e
não vivemos das sobras uns dos outros, vivemos da vida uns dos outros, com as
suas misérias e com as suas grandezas. A compaixão não é possível a partir de
um olhar desnivelado. É sempre a minha dor que acolhe a dor do outro, é sempre a
minha fome que acolhe a fome do outro.”
1 comentário:
Ainda a tempo: a propósito do livro Só o Pobre se faz Pão, Carlos Maria Antunes deu uma entrevista ao site da Livraria Fumdamentos, de Braga, que se pode ler aqui: http://www.fundamentos.pt/carlos-maria-antunes/
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