Ilustração de Ana Oliveira Martins Ruepp
Amanhã, sábado, o Centro de Reflexão Cristã (CRC), de Lisboa, assinala os seus 40 anos de existência. Criado a 21 de Novembro de 1975, ano e meio após a Revolução que trouxe a democracia a Portugal, o CRC assinalará a data com um encontro aberto no Convento de São Domingos (R. João de Freitas Branco, 12, em Lisboa; Metro: Alto dos Moinhos), a partir das 10h30.
A abrir a iniciativa, uma
conferência de frei Bento Domingues sobre o tema CRC – do passado recordado e do presente compreendido, providencia-se o
futuro. Às 12h, há celebração da eucaristia. Às 14h30, serão evocados os
sócios fundadores e, meia hora depois, José Mattoso, Guilherme d’Oliveira
Martins e João Miguel Almeida debatem o tema CRC – passado presente e futuro. (O almoço, servido no local, terá
um custo de dez euros e a inscrição deve ser feita para o telefone 961 560
924.)
O CRC foi criado num tempo
em que o país vivia atordoado com uma Revolução em regime acelerado e a Igreja
Católica estava envergonhada por algum do seu passado. Um grupo de cristãos – católicos,
mas também alguns protestantes – resolveu descruzar os braços e criar um centro
de reflexão que se abrisse ao debate teológico “plural diante das realidades do
mundo”. Que, com o tempo, se tornou “uma varanda aberta sobre o mundo”, na
expressão do então bispo de Setúbal, D. Manuel Martins.
Estava criado o Centro de Reflexão
Cristã (CRC), de Lisboa, uma instância que começou por reunir 79 sócios
fundadores, entre pessoas individuais e colectivas. E que se destinava, segundo
a linguagem da época adoptada pelos estatutos, “ao estudo da teologia para o
crescimento da fé cristã, ao serviço da evangelização e da libertação do povo
português”.
Havia um “denominador comum: a
concepção de Igreja” dos fundadores, onde a “liberdade, a reflexão plural, a
capacidade de escuta dos sinais dos tempos e os apelos do mundo” eram
critérios-chave para a definição do que se pretendia.
“Era a afirmação de uma consciência
de leigos que queriam assumir a sua responsabilidade por um novo rosto de
Igreja, com o objectivo de promover uma reflexão aberta sobre o mundo”, como
dizia, na ocasião dos 20 anos, Manuela Silva, uma das fundadoras e integrantes
da direcção do CRC oito anos.
Na fase de abertura e transição
para a democracia que então se vivia no país, o CRC constituiu também um espaço
que aglutinou diversas correntes da oposição católica ao regime. Um factor não
determinante, mas que “aconteceu”, dizia Manuela Silva, até porque não havia
instituições que fizessem o que o novo Centro se propunha.
O Instituto Superior de Estudos
Teológicos (ISET), que estivera sob a responsabilidade dos padres dominicanos,
fora extinto depois de uma história conflituosa e atribulada e o CRC
propunha-se, de algum modo, substituí-lo.
O CRC tornou-se conhecido
fundamentalmente pela publicação da revista Reflexão
Cristã e pela realização das Conferências de Maio. Uma e outras (a revista
desde o início, as Conferências anualmente, desde 1978), têm reunido vultos da
vida social, política, económica e cultural a debater temas tão diversos como os
cristãos e a austeridade, a moral cristã e a moral burguesa, o prazer e o
sofrimento, as prisões e a reinserção social, a morte, a corrida ao
desarmamento, a crise da família, as seitas, a maçonaria, o fascínio da imagem,
as mulheres na Igreja, as minorias étnicas, a Igreja e a política, a educação e
a exclusão.
O CRC organizou ainda uma série de
grupos temáticos – história da Igreja, mulheres, ética e ciências da vida,
entre outros – e publicou os Cadernos de
Estudos Africanos.
Na História Religiosa de Portugal (ed. Círculo de Leitores), o
historiador Paulo Fontes cita um texto de apresentação do dominicano frei Bento
Domingues: “Unia-os o facto de serem ‘pessoas que reconhecem não apenas de
forma genérica a importância da teologia na vida da Igreja, mas que sentem a
necessidade de a praticar para se tornarem cristãos lúcidos e membros activos
da Igreja.”
Na passagem dos 30 anos, o CRC
editou um número duplo da revista Reflexão
Cristã, onde se incluem artigos sobre a presença cristã nas cidades e no
espaço público, sobre a exclusão social e sobre o consumismo e a solidariedade.
Um outro artigo evoca a figura do teólogo dominicano Yves Congar, um dos
peritos mais importantes do Concílio Vaticano II.
“A seriedade e perseverança do
projecto” verifica-se através da publicação da revista, assinala Paulo Fontes
no texto citado. Mas o CRC destacou-se também pela edição de várias obras
temáticas (sobre temas como as mulheres na Igreja ou aspectos da história do
catolicismo em Portugal) e dos Cadernos
de Estudos Africanos, que “constituem fontes imprescindíveis” para o estudo
do debate cristão em Portugal durante estes anos.
(O texto retoma alguns excertos
de artigos que escrevi no Público a 21 de Novembro de 1995 e 2 de Dezembro de
2005, por ocasião da celebração dos 20º e 30º aniversários do CRC)
Sobre o CRC podem ver-se ainda os dois vídeos seguintes (no segundo caso, a partir dos 4'04")
Texto anterior no blogue
Sem comentários:
Enviar um comentário