Exposição
Virgem e o Menino, uma
das peças expostas na mostra
Arte Copta e
do Oriente Cristão (pergaminho, séc. XIX/XX)
Ouvimos com frequência falar
deles, nos últimos tempos, a propósito de perseguições e violências. Os
cristãos coptas, ou egípcios, são parte de um vasto património humano, cultural
e religioso do Médio Oriente, composto por minorias religiosas que guardaram
tradições hoje quase únicas no contexto cristão.
Essas minorias, no entanto, têm
diminuído drasticamente por via dos conflitos que atravessam a região desde há
décadas. Por exemplo, de 25 por cento da população da Palestina, os cristãos
passaram a cerca de três a cinco por cento; e, de cerca de quatro milhões, os
cristãos no Iraque são hoje menos de 400 mil).
É uma pequena parte desse
património tão desconhecido entre nós, na sua vertente artística e religiosa,
que se dá a conhecer na exposição Arte
Copta e do Oriente Cristão, patente no Museu Nacional de Arqueologia, até ao próximo dia 6 de Setembro. Uma bela proposta para um passeio estival.
A exposição complementou as XVII
Jornadas de Estudo Coptas, organizadas em Junho, em Lisboa, pela Association
Francophone de Coptologie (AFC) e Faculdade de Teologia da
Universidade
Católica Portuguesa (FT/UCP). Ambas as iniciativas pretendiam dar a conhecer
uma matriz cristã da qual o Ocidente também é herdeiro: “O Oriente cristão é um
património que desconhecemos imenso no Ocidente, mas de que somos filhos,
herdeiros, e são as primeiras expressões, identidades de fé, de cristianismo
que levou à criação de culturas e identidades”, explicava, em declarações à
agência Ecclesia, o director da FT, a propósito das jornadas de Junho.
Adel Sidarus, professor da Universidade
de Évora, membro do Instituto de Estudos Orientais da UCP e membro da Associação
Francófona de Coptologia, acrescentava, na mesma ocasião, que cristãos no Médio
Oriente tiveram, na primeira metade do século XX “um grande contributo” no
ressurgimento árabe no Médio Oriente: “Até ao nível ideológico mas na cultura,
na renovação da língua árabe, nos meios de expressão, na receptividade ou recepção
da modernidade”.
Na exposição, podem ser vistas
peças coptas (egípcias), etíopes e do cristianismo moçárabe que esteve presente
na Península Ibérica (aliás, as jornadas terminaram com a celebração de uma
eucaristia em rito moçárabe, na Sé de Lisboa).
Luís Manuel de Araújo, comissário
científico da exposição de arte copta, e autor dos textos do catálogo, recorda
que, segundo a tradição, o evangelista São Marcos chegou a Alexandria em meados
do século I para ali falar de Jesus. No momento da conquista árabe, em 639-641,
quase todos os habitantes do Egipto eram cristãos. Apesar das sucessivas vagas
de islamização, os coptas (sinónimo de egícpio, que depois passou a designar apenas
os cristãos autóctones) passaram a ser uma minoria, ainda assim significativa,
mantendo a língua litúrgica e formas de expressão artísticas muito ricas.
Disso se dá conta nesta exposição,
em que se podem destacar peças como dois pergaminhos (ambos dos séc. XIX/XX), representando
a Virgem com o Menino e uma uma Natividade de Jesus ou um evangeliário arménio (séc.
XVII), encadernado a prata e pintado com miniaturas a guache. Mas também se
podem ver tecidos com medalhões, bandas e pendentes, cruzes e alfaias litúrgicas.
A riqueza cromática, os cenários idílicos
e naturais, a presença da Sagrada Família e de animais bíblicos são algumas das
características desta arte.
O catálogo, que não reproduz todas
as peças, apresenta vários textos sobre o cristianismo e a iconografia coptas,
o cristianismo etíope, o cristianismo arménio, além de uma ficha sobre cada uma
das peças expostas.
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