domingo, 9 de agosto de 2015

Arte copta: um património desconhecido para descobrir

Exposição


Virgem e o Menino, uma das peças expostas na mostra 
Arte Copta e do Oriente Cristão (pergaminho, séc. XIX/XX)

Ouvimos com frequência falar deles, nos últimos tempos, a propósito de perseguições e violências. Os cristãos coptas, ou egípcios, são parte de um vasto património humano, cultural e religioso do Médio Oriente, composto por minorias religiosas que guardaram tradições hoje quase únicas no contexto cristão.
Essas minorias, no entanto, têm diminuído drasticamente por via dos conflitos que atravessam a região desde há décadas. Por exemplo, de 25 por cento da população da Palestina, os cristãos passaram a cerca de três a cinco por cento; e, de cerca de quatro milhões, os cristãos no Iraque são hoje menos de 400 mil).
É uma pequena parte desse património tão desconhecido entre nós, na sua vertente artística e religiosa, que se dá a conhecer na exposição Arte Copta e do Oriente Cristão, patente no Museu Nacional de Arqueologia, até ao próximo dia 6 de Setembro. Uma bela proposta para um passeio estival.
A exposição complementou as XVII Jornadas de Estudo Coptas, organizadas em Junho, em Lisboa, pela Association Francophone de Coptologie (AFC) e Faculdade de Teologia da
Universidade Católica Portuguesa (FT/UCP). Ambas as iniciativas pretendiam dar a conhecer uma matriz cristã da qual o Ocidente também é herdeiro: “O Oriente cristão é um património que desconhecemos imenso no Ocidente, mas de que somos filhos, herdeiros, e são as primeiras expressões, identidades de fé, de cristianismo que levou à criação de culturas e identidades”, explicava, em declarações à agência Ecclesia, o director da FT, a propósito das jornadas de Junho.
Adel Sidarus, professor da Universidade de Évora, membro do Instituto de Estudos Orientais da UCP e membro da Associação Francófona de Coptologia, acrescentava, na mesma ocasião, que cristãos no Médio Oriente tiveram, na primeira metade do século XX “um grande contributo” no ressurgimento árabe no Médio Oriente: “Até ao nível ideológico mas na cultura, na renovação da língua árabe, nos meios de expressão, na receptividade ou recepção da modernidade”.
Na exposição, podem ser vistas peças coptas (egípcias), etíopes e do cristianismo moçárabe que esteve presente na Península Ibérica (aliás, as jornadas terminaram com a celebração de uma eucaristia em rito moçárabe, na Sé de Lisboa).

Luís Manuel de Araújo, comissário científico da exposição de arte copta, e autor dos textos do catálogo, recorda que, segundo a tradição, o evangelista São Marcos chegou a Alexandria em meados do século I para ali falar de Jesus. No momento da conquista árabe, em 639-641, quase todos os habitantes do Egipto eram cristãos. Apesar das sucessivas vagas de islamização, os coptas (sinónimo de egícpio, que depois passou a designar apenas os cristãos autóctones) passaram a ser uma minoria, ainda assim significativa, mantendo a língua litúrgica e formas de expressão artísticas muito ricas.
Disso se dá conta nesta exposição, em que se podem destacar peças como dois pergaminhos (ambos dos séc. XIX/XX), representando a Virgem com o Menino e uma uma Natividade de Jesus ou um evangeliário arménio (séc. XVII), encadernado a prata e pintado com miniaturas a guache. Mas também se podem ver tecidos com medalhões, bandas e pendentes, cruzes e alfaias litúrgicas.
A riqueza cromática, os cenários idílicos e naturais, a presença da Sagrada Família e de animais bíblicos são algumas das características desta arte.

O catálogo, que não reproduz todas as peças, apresenta vários textos sobre o cristianismo e a iconografia coptas, o cristianismo etíope, o cristianismo arménio, além de uma ficha sobre cada uma das peças expostas.

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