sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Irmão Alois, de Taizé, propõe autoridade universal para a justiça e a paz

Sugestão feita na intervenção de quinta-feira, no final da oração da noite, retoma idênticas propostas dos últimos papas


O irmão Alois, de Taizé, durante um tempo de oração 
(foto reproduzida daqui)

O irmão Alois, de Taizé, sugeriu ontem a criação de “instâncias supranacionais e mesmo de uma espécie de autoridade universal, que fixe as regras para assegurar uma maior justiça e para manter a paz”.
Na sua meditação de quinta-feira, após a oração da noite, em Taizé, o sucessor do irmão Roger acrescentou: “São numerosos, em todos os países, os que procuram a paz para a família humana. Eles vêm na mundialização uma hipótese de concretizar a fraternidade universal.”
Na semana passada, o irmão Alois fizera idêntica sugestão, na linha do que, desde João XXIII, os diferentes papas vêm propondo, com expressões e sob formas diversas.
Perante as quatro mil pessoas, sobretudo jovens entre os 18 e os 35 anos, que enchiam a Igreja da Reconciliação, o irmão Alois começou por recordar o sentido especial desta semana em Taizé: “Domingo, faremos a memória do irmão Roger. Será o aniversário da sua morte. E recordamos também os 100 anos do seu nascimento e os 75 anos da sua chegada a Taizé.”
O fundador desta comunidade que reúne monges católicos e de diferentes origens protestantes deixou “em herança uma das suas grandes preocupações: a paz, a partilha, a solidariedade entre os humanos”.
O prior de Taizé actualizou uma expressão que o irmão Roger utilizou durante alguns anos, mas que a comunidade não utilizava desde há anos: “Ele falava de ‘luta e contemplação’, ele sabia que a bondade de Deus pode transbordar nas nossas vidas, numa bem-aventurança, em compaixão por aqueles que são postos à prova.”
Hoje, há novos sofrimentos, referiu o irmão Alois: populações deslocadas, catástrofes ecológicas, desemprego em massa, violências... “Tudo isso reclama novas solidariedades.”

Na sua intervenção, traduzida em simultâneo em 15 línguas, o prior de Taizé acrescentou: “Cada um de nós pode interrogar-se: estarei eu pronto a dar as minhas forças para fazer crescer estas novas solidariedades? Estarei eu pronto, sem esperar, a começar à minha volta?”
Há sinais de esperança, notou ainda o irmão Alois. Com os migrantes, por exemplo, que darão “um novo rosto às nossas sociedades”, há cada vez mais iniciativas locais de partilha.
Os refugiados estão presentes em Taizé desde o inicio, referiu o irmão Alois: “O irmão Roger sempre acolheu refugiados, já quando estava sozinho em Taizé, durante a II Guerra Mundial.”
Essa tradição continuou em Taizé ao longo de décadas e recentemente uma família iraquiana foi acolhida na aldeia.
Mesmo admitindo que todos temos “medo” do outro, as pessoas não se devem isolar em muros, acrescentou, mas antes procurar o “encontro com o desconhecido”.
Mais ainda para os cristãos que têm a “vocação de promover a fraternidade universal”. Cristo, recordou, estendeu os braços na cruz para acolher todos os seres humanos.
O irmão Alois agradeceu ainda a presença de responsáveis de igrejas que já estão em Taizé ou chegam hoje e amanhã. Uma centena de responsáveis de diferentes igrejas, entre os quais o patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, estarão domingo à tarde na oração que será o ponto culminante das celebrações deste ano.
D. Manuel veio a Taizé passar esta semana acompanhando um grupo de jovens do patriarcado de Lisboa, numa viagem de autocarro.
Também um rabino judeu e vários muçulmanos – alguns dos quais participam em debates desta semana – estão em Taizé para esta semana especial. “O compromisso pela paz une-nos”, comentou o irmão Alois.
O prior de Taizé referiu ainda o facto de, pela primeira vez, estar reunida toda a comunidade. Os irmãos de Taizé que vivem em pequenas fraternidades no Banglasdesh, Coreia do Sul., Quénia, Senegal e Brasil estão todos em Taizé durante esta semana. E daqui a 15 dias, dois irmãos partem para Cuba, para começar ali uma nova fraternidade.

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