O irmão David, de Taizé, com jovens portugueses
(foto reproduzida daqui)
Pedro veio de Arouca e diz que está a “curtir” bastante o
facto de estar em Taizé esta semana: “Não sou simples e quando vi que havia só
uma colher para comer, perguntei-me: ‘onde é que me vim meter? Fiquei assustado,
mas depois de me ensinarem como fazer, percebi que com muito pouco podemos
fazer muito.”
“Quando chegar a casa vou dizer
que isto é uma experiência única, até domingo vai ser algo especial.”
O testemunho deste jovem provocou
muito boa disposição no encontro que, esta manhã, reuniu os 350 portugueses que
estão em Taizé a participar no encontro Por uma Nova Solidariedade.
O irmão David, o único português
que integra a comunidade de Taizé, recordou as razões de ser desta semana
especial na aldeia: assinalar os 75 anos da chegada do fundador, o irmão Roger
Schutz, a Taizé, bem como os 100 anos do seu nascimento e os dez anos da sua
morte, a 16 de Agosto de 2005.
“O irmão Roger chegou aqui com 25
anos, em 1940, durante a II Guerra Mundial”, contou o irmão David, de
Portalegre, que veio a Taizé pela primeira vez quando tinha 16 anos. Nessa
altura, não imaginava que um dia iria integrar a comunidade.
“Com a guerra, achou que
deveríamos falar de um Deus que é amor e que o testemunho dos cristãos não
podia continuar a ser o de estar separados.”
Por isso, decidiu criar uma
“parábola de comunhão: diferentes culturas, diferentes línguas, diferentes
comunidades religiosas”, diz o irmão David.
Vivendo na Suíça, pegou numa
bicicleta, atravessou a fronteira e chegou a Cluny, onde viu o anúncio de casa
à venda em Taizé. A aldeia estava isolada, na França livre, poucos quilómetros
a sul da linha de demarcação da França ocupada pelos nazis, a norte.
Uma idosa que convidou Roger
Schutz para almoçar pediu-lhe: “Fique aqui, estamos muito sozinhos.”
“O irmão Roger entendeu esta frase
como um sinal que Deus lhe deu. Durante dois anos, ficou sozinho, acolhendo
refugiados. A polícia veio várias vezes mas os refugiados escondiam-se nos
bosques em volta.”
Quando a Gestapo nazi quis prender
o irmão Roger, ele refugiou-se na Suíça, em 1942. Voltou a Taizé no final da
guerra, já com quatro irmãos.
No final dos anos 50, começaram a
aparecer grupos de jovens. Os primeiros irmãos entenderam que toda a tradição
monástica cristã passava pela hospitalidade. Por isso, adquiriram uma casa em
Cormatin, uma aldeia vizinha, para acolher os jovens, que vinham depois a
Taizé, participar nas orações da comunidade.
A partir daí, foi um crescendo,
até chegar aos milhares de jovens que, actualmente, chegam a Taizé em cada
semana para viver um tempo de oração, partilha e simplicidade.
Uma experiência que, como dizia
Madalena, de Mafra, é “individual, mas sempre
vivida em conjunto, pelo menos por duas pessoas: eu e a pessoa de Jesus”.
Taizé é ainda uma experiência
onde, como dizia o irmão Alcides, da Bolívia, também presente no encontro com
os portugueses, se aprende que, “mesmo sem palavras, se pode aprender a rezar”.
O irmão Alcides está na comunidade desde 2004.
Para Diogo, de Portalegre, estando
em Taizé a primeira vez, foi importante conhecer e ouvir directamente o
testemunho de refugiados. “Não temos noção de como é viver com refugiados e
contactar com eles.”
Para Bela, de Guimarães, Taizé “é
totalmente diferente: posso deitar-me no chão, toda a gente tem espaço para
falar com Deus”. E José, de Coimbra, que está em Taizé durante algumas semanas
a fazer voluntariado, o importante é “nunca deixar de acreditar, lutar, fazer a
diferença, remar contra a maré”.
O patriarca de Lisboa, D. Manuel
Clemente, que acompanha em Taizé, durante esta semana, um grupo de 50 jovens do
patriarcado, sintetizou o que alguns dos jovens disseram em testemunho.
“Taizé tem desenvolvido na vida
das Igrejas duas dimensões essenciais na vida cristã: reproduzir na sua vida a
vida de Jesus Cristo, na relação filial com Deus; e, se sentimos Deus como pai,
sentimos que todos os outros são irmãos, pois não há relação com Deus que não passe
pela relação com os irmãos.”
Respondendo a uma pergunta da irmã
Maria João Neves, que criou a Casa de Betânia para acolher pessoas com
deficiência mental, o cardeal acrescentou que as comunidades cristãs têm de
acolher todas as pessoas e ir buscar os que estão isolados, como os idosos.
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